Um adeus

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Quem vi primeiro foi Jackson. Os olhos azuis dele cruzaram-se com os meus. Notei censura naqueles olhos azuis gélidos tão parecidos com os meus. Quem entrou a seguir foi Jeremy. Continuava com o seu ar banal, um leve sorriso a aflorar-lhe os lábios. Por fim, Sebastian foi o que entrou para destruir tudo. Não parecia o mesmo jovem charmoso e elegante que falara comigo com tanta paixão. O cabelo estava mais comprido, os olhos sem brilho. E aquela maneira habitual de ele caminhar confiante tinha desaparecido, sendo substituída por uma figura curvada a caminhar sem motivação. Fiquei sem palavras ao vê-los daquela maneira. Mas o pior foi o olhar que me lançou. Um olhar de quem estava farto de tudo, de quem já tinha desistido.
-Deixa-os ir.
-Estás doida? Vocês estão seguros aqui.
Já não sabia o que fazer. Acreditar naquele louco que nunca tivera feito nada a não ser mentir ou opor-me a uma pessoa que fora tão importante para mim?
-O que queres em troca?
A voz rouca de Jackson surpreendeu-me. Nunca esperei que ele dissesse uma única palavra. Olhei para ele e os nossos olhares cruzaram-se de novo. Pela primeira vez em toda a minha vida senti uma ligação, talvez aquela ligação de gémeos que todos falam e que eu pensei tratar-se apenas de um mito. Quase que já me tinha esquecido que tinha um gémeo. Incrivelmente, ele tirou-me as palavras da boca.
Thomas olhou para mim. Eu sabia o que vinha a seguir.
-Vocês podem ir, desde que ela e os namoradinhos fiquem.
Caí no chão de joelhos. Salvar a minha família ou os meus amigos? A escolha era tão difícil e ao mesmo tempo tão óbvia que tive vontade de cavar um buraco naquele preciso momento e de me esconder nele.
-Eu fico.– aceito.
Jeremy olhou para mim completamente perplexo. Sebastian estava caído a um canto como um morto-vivo.
-Nem penses. Eu não te vou deixar aqui sozinha.
-Não preciso da tua proteção para nada! Já estive longe de ti durante bastante tempo. Não é agora que vais fingir que te importas comigo.
Não queria dizer nada daquilo, mas era uma maneira de o convencer. Sabia que, irritado, ele ia ceder.
-Johanna, já viste no que nos meteste?– atirou Jackson.
Thomas olhou para mim com um sorriso arrogante nos lábios. Tive vontade de me atirar a ele e estragar-lhe aquele sorriso.
-Isto não tem nada a ver com as minhas atitudes.– defendi-me.
Thomas afastou-se. Sentou-se no seu cadeirão virado para a lareira enquanto discutíamos.
-Esse gajo tem uma obsessão por ti!– com o braço esticado, Jackson apontou em direção ao nosso inimigo.– Fica com ele e deixa-nos ir em paz para casa.
-Casa?! Nem casa tens. A nossa vida foi uma mentira.
-Eu não quero saber se os nossos pais são de sangue ou não. Foram eles que nos protegeram, não tu.
Naquele momento tinha vonttade de deixar Brian e Peter saírem e deixar o meu gémeo a apodrecer na escuridão.
-Chega...– a voz rouca de Sebastian surpreendeu-me.
Thomas levantou-se como se tivesse estado à espera daquele momento há muito tempo. Os olhos estavam arregalados.
-VENHAM CÁ!– gritou para os guardas.
Ouviram-se passos. Os mesmos homens apareceram, mas com uma cara assustada.
-Eu avisei-vos que não queria ouvir nem uma palavra da boca desta criatura inferior.
Criatura inferior. Não fazia sentido algum. Nem percebi porque o dizia. Thomas talvez tenha visto o meu espanto, porque se prontificou a esclarecer as minhas dúvidas:
-Não me digas que não sabes.
-Não sei o quê?
-Que o teu maninho é filho de um vampiro.
Ao princípio tive vontade de desatar às gargalhadas. Vampiros? Eram criaturas que já tinham desaparecido há dois séculos. Mas depois percebi que ele estava a falar a sério. Aquele aspeto tão jovem não podia ser coincidência. Procurei o olhar de Sebastian, desesperada por uma confirmação, mas não obtive nada a não ser a imagem devastadora do meu irmão a parecer um vagabundo.
-Desculpa...– balbuciou.
Então percebi que a linda história de os nossos pais serem umas pessoas vulgares foi apenas uma farsa.
-Robert, Cameron, Nora, Matthew... Os vossos pais deram origem a uma nova raça: os vampiro-lobisomens.
Fiquei confusa. Bastante confusa. Quem era eu, afinal?
-Eu posso esclarecer tudo.
Thomas, que admitiu ter passado toda a sua vida a procurar vestígios de vampiros, encontrou uma pequena comunidade onde passavam despercebidos. O meu pai, um lobisomem puro, apaixonou-se pela minha mãe e decidiram ignorar todas as suas desigualdades (apesar de tudo isto parecer piroso, foi mesmo assim que Thomas contou a história, com um toque do seu tom cínico). Não mediram as consequências dos seus atos. Quatro filhos com um futuro incerto que entregaram a uma família de lobisomens, onde poderiam parecer normais, por ser uma comunidade maior.
-O vosso lado vampiro está aí, apenas oculto pela forte convivência com lobisomens.– explicou.
-Tudo isto é muito lindo, mas o que queres tu?– atirou Jeremy.
Então eu percebi tudo. Ele tencionava acabar connosco.
A voz soou-me como o som mais assustador que alguma vez ouvi. Um sussurro, palavras ditas tão impercetivelmente que mais parecia uma cobra.
-Quero acabar com a nova raça. Vocês os quatro são demasiado perigosos e poderosos para o mundo.
Ele estava louco. Todas as minhas dúvidas dissiparam-se naquele instante. O olhar tresloucado. As órbitas salientes, raiadas de pequenos fios de sangue. Os dentes impecavelmente brancos à mostra, arreganhados como se estivesse na forma de lobo. Tudo nele indicava loucura.

Out of the WoodsWhere stories live. Discover now