O anjo de Peter

38 8 0
                                    

Peter encontrava-se deprimido. Johanna tinha-o enganado, tinha admitido o seu erro e em seguida tinha-o beijado, com aqueles labios tão perfeitos que encaixavam nos dele na perfeição. Era difícil acreditar que tudo aquilo fosse real. A verdade é que ele não sabia no que pensar. Só queria tê-la só para ele, roubá-la àquele Brian. Por que a tinha ele, e Peter não? Só por ser mais atraente? Por ter uns belos músculos pronunciados? Peter também os tinha, mas não fazia questão de os andar a exibir em pleno inverno.
Quem era ele? Por que os tinha seguido? Tantas questões na sua cabeça e sem ninguém que lhas pudesse esclarecer.

Quando Peter chegou a casa, a mãe estava ausente. Deitou-se na cama com o portátil no colo e continuou com as suas pesquisas sobre lobisomens. Então, teve uma ideia genial. Por que nunca tinha tido tal ideia?! Procurou na internet "Floresta Grey lobisomens". Apareceram-lhe milhares de resultados. Pelo que constava na internet, vários populares na Idade Média falavam de histórias de lobisomens e da vulgaridade que era da época de mulheres desaparecerem, avisando apenas a família de que se tinham apaixonado por um lobisomem.
" Inacreditável. " Peter estava estupfacto. Era óbvio que podiam ser coisas da época, coisas que na atualidade já não se falavam, mas foi falado. Valia a pena passar noites ao frio para tentar encontrá-los. Era quase impossível que conseguisse descobrir alguma coisa, o mais provável era que fosse morto pelos lobos, mas a curiosidade levava-o mais além. No entanto, outra ideia assombrou-lhe a alma: e se Johanna fosse lobisomem? Tudo se podia explicar com isso: os olhos iguais aos do lobo que ele vira, a noite em que ela também estava na floresta, aquele afastamento repentino, Brian, que ficou furioso. Talvez eles nem fossem namorados, talvez fossem lobisomens.
"É absurdo.", acabou por pensar. Johanna, uma criatura mitológica? Nada batia certo.

A noite estava gelada, mais que no dia anterior. Peter tinha dificuldades em andar, mas tinha que continuar até chegar a alguma clareira onde os lobos pudessem estar abrigados e escondidos do mundo exterior. Peter tinha deixado um bilhete à mãe para não se preocupar com ele, que ele voltava antes do amanhecer. Era óbvio que a mãe não ia adormecer até ele chegar.
Já não sentia os pés de tão gelados que estavam. Tinha trazido imensa roupa, mas nada era suficiente para o manter quente. Já não tinha forças... A comida já se tinha esgotado quase toda, apenas lhe restava um pequeno pacotinho de bolachas que tinha trazido dentro do bolso. Tentou caminhar mais um bocado, sentindo-se completamente exausto e sem forças. Já não conseguia ver corretamente, tinha os olhos cheios de lágrimas e via tudo a rodar à sua volta. Sentou-se encostado a um grande pinheiro e tentou focar-se em algo. Estava com a cabeça à roda e nada via com nitidez. Começava a ver vários pontos negros a bailar em frente aos seus olhos castanhos. "Não posso desmaiar aqui, não posso."
Quando estava quase a entregar-se, viu um vulto ao longe que andava devagar.
-Ajuda, ajuda!– tentou proferir, sem, no entanto, saber se chegara a gritar mesmo por auxílio.
Felizmente para Peter, o vulto ouviu-o e aproximou-se. Peter conseguiu perceber que era uma jovem com a idade próxima da dele, com cabelos loiros e um corpo cheio de curvas. Não conseguiu perceber bem o rosto dela, devido às tonturas e aos pontos negros que cada vez mais se estendiam à sua frente.
-Ajuda-me, por favor... –disse, quase num sussurro.
Ouviu um barulho estranho: soluços de choro. A rapariga estava a chorar compulsivamente. No entanto, ignorou a sua tristeza e baixou-se para ajudar Peter. Procurou comida na mochila que ele trazia às costas, mas tudo o que encontrou foram cadernos cheios de apontamentos e canetas. Procurou nos bolsos do casaco dele. Tinha que se despachar, porque o rapaz estava a ficar quase inconsciente. Encontrou um pacote de bolachas.
-Tens... que... me... ajudar– pediu a rapariga, enquanto tentava abafar os seus próprios soluços. Não se conseguia perceber com nitidez a voz dela, já que estava bastante alterada por causa do choro. A jovem tentou abrir a boca a Peter e partiu um bocado de bolacha que lhe colocou gentilmente na boca.
-Mastiga, Peter.
Como saberia ela o seu nome?
"É o meu anjo da guarda, veio salvar-me.", pensou.
À medida que ia comendo, Peter ia ganhando forças e conseguia ter os sentidos mais apurados. Quando os olhos já estavam a ver com clareza, Peter percebeu quem era o seu anjo. Era ela.
–Joha...– mas ela não deixou que ele falasse, colocando-lhe um dedo nos lábios.
-Tens que descansar, Peter.
-Salvaste-me da morte, Johanna.
-Peter, cala-te, por favor.
Johanna virou a cabeça para o lado, de modo a que ele não a conseguisse ver a chorar. Quando Peter estava totalmente recuperado, fez um montão de perguntas.
-O que fazes aqui?
Johanna não respondeu. Sentou-se ao seu lado e ficou a olhar para a frente, para as árvores que escondiam imensos animais.
-A minha vida está arruinada.
-Que se passou?
Peter obrigou-a a olhar para ele, pegando-lhe no queixo gentilmente. Ela estava com os olhos azuis todos vermelhos, já para não falar do rosto, que parecia um pimento.
-Ficas mesmo feia quando choras.– tentou fazer uma piada, mas surtiu o efeito contrário: Johanna já se ia levantar para se ir embora.
Ao ver que ela se levantava, Peter agarrou-a pelo braço, talvez com demasiada força, e Johanna desiquilibrou-se, caindo em cima do rapaz. Johanna deixou de chorar e mergulhou nos olhos fascinantes de Peter. Não eram castanhos, tinham um toque de mel que lhe davam uma tonalidade diferente e bela.
-Peter, eu...
Peter calou-a com um beijo lento e demorado. Há imenso tempo que desejava tê-lo feito. Depois de o ter afastado, dando-lhe um beijo, Peter tinha tido ainda mais vontade de voltar a tê-la só para ele e voltar a beijar aqueles lábios rosados.
Quando a largou, Johanna voltou a chorar compulsivamente. Encolheu as pernas e agarrou-se aos joelhos a chorar. Peter estava cada vez mais confuso. Tentou confortá-la, mas ela não desenterrava o rosto das pernas.
-Explica-me o que se passa, Johanna. Estás a deixar-me nervoso.
Finalmente, Johanna levantou a cabeça e encarou-o.
-Tu e eu é impossível.
-Mas eu amo-te, e tu amas-me.
Johanna revirou os olhos, como fazia sempre quando estava irritada.
-A sério, Peter?! Isto não é uma telenovela, onde tudo acaba bem. Nós os dois vivemos em mundos muitos distintos, e no meu mundo eu não posso ficar contigo.
Peter tinha ficado mesmo magoado, via-se nos olhos dele. Johanna, talvez tentando diminuir o impacte das suas palavras, voltou a aproximar-se do rapaz e levou a mão à face esquerda dele, acariciando-a.
-Peter, ouve-me. Eu quero ficar contigo, juro que quero, mas não é de mim que depende. Desculpa-me, mas é melhor não voltarmos a falar.
-Estás a gozar, não estás?– perguntou, completamente destroçado.– É o Brian, o teu namorado?
-Aff, não, Peter... Ele e eu só nos conhecemos ontem...
Peter voltou a ter algum brilho nos seus olhos.
-Johanna, explica-me o que se passa!
-Deixa-me!– Johanna voltou a chorar. Ela não queria que ele pensasse que ela era fraca, mas depois do que se tinha passado era quase impossível que ela não chorasse.– É melhor voltares para casa. Vai depressa, que esta noite não está para aventuras.
Peter levantou-se e já estava a caminhar quando ela lhe agarrou no braço, o puxou e fez com que voltassem a ficar cara a cara. Ele era bastante alto, por isso, pela última vez, Johanna pôs-se em bicos de pés e beijou-o entre lágrimas. Foi o beijo mais triste entre os dois.

Out of the WoodsNơi câu chuyện tồn tại. Hãy khám phá bây giờ