Um dia como tantos outros

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Peter acordou com uma dor de cabeça dos diabos. Estava doente, de certeza. Estava cheio de frio e sentia-se como um forno. A mãe de Peter entrou enquanto este rebolava na cama em busca da melhor posição para voltar a dormir.
-Peter, tens que te levantar.
-Acho que estou com febre.
A senhora, com muito esforço, aproximou-se do filho e passou-lhe a mão pelo rosto. Depois colocou os lábios na testa de Peter.
-Estás a arder em febre. Vou chamar um médico.
Peter resmungou. Não era necessário um médico para aquilo que ele sentia: tristeza misturada com febre. Johanna tinha-lhe pedido para se afastarem, mas seria ele capaz? Algo de errado se passava com ela, e ele sentia-se inútil por não poder ajudá-la.
-Não é necessário... Uma aspirina e fico logo bem.
-Uma aspirina não te vai resolver essa febre, Peter. Não sejas teimoso.
Peter atirou os cobertores para a sua frente. O frio tinha passado e o calor tinha ocupado o seu lugar. Estava mesmo doente...
-Precisas de comer para ganhar energias.
-Mãe, não se preocupe comigo. Vai ficar cansada. Eu trato de mim.– Peter já estava pronto para se levantar quando a mãe lhe colocou a mão no peito e o empurrou de volta para a cama e o aconchegou entre os cobertores.
-Hoje sou eu que trato de ti.
Dito isto, a velha senhora saiu do quarto e preparou um pequeno almoço com tudo aquilo a que Peter tinha direito: um pão fresco de sementes com queijo, tal como ele gostava, um copo de sumo de laranja natural, frutas variadas para acompanhar e alguns biscoitos preparados pela mãe, que tinha dotes para a culinária. Quando Peter viu aquele tabuleiro tão elaborado sentiu-se mal, porque estava a cansar a mãe sem necessidade alguma. A mãe era uma pessoa doente que já não tinha forças e ele só a estava a apoquentar. Peter sentou-se e comeu demoradamente, já que as dores de cabeça o deixavam lento.
-Não podes ir para a escola assim.
-Eu estou bem...
-Come que depois dou-te algo para tomares para baixar essa febre. Não saias da cama, tens que descansar.
A mãe saiu, toda feliz por poder ser ela a cuidar de alguém. Depois de tomar um xarope qualquer, com um sabor simplesmente horrível, Peter voltou a deitar-se, mas a febre não o deixava dormir.
"Que faço agora? Nem os fins de semana são tão maus...", pensou. Então ficou a matutar em redor daqueles dias. O lobo, Johanna, Chloe, Brian... Tudo parecia estranhamente ligado. Chloe tinha prometido vingança, e Peter sabia do que ela era capaz e temia o que ela poderia fazer.
Levantou-se para pegar no portátil e voltou a enfiar-se na cama, onde estava mais quente. Continuou com as suas pesquisas durante a manhã e depois decidiu dormir. Regularmente, a sua mãe foi verificando se a febre baixava, e para seu alívio, Peter estava a melhorar, mas duvidava que no dia seguinte pudesse voltar à rotina.
À tarde, quando Peter se sentia muito melhor, o adolescente decidiu que queria ir às aulas.
-As primeiras aulas são importantes para criar uma boa imagem, mãe.– argumentou.
-Não é doente que vais causar uma boa imagem – contra-argumentou a mãe – Não há mais discussões Peter. Vais ficar a repousar e tão cedo não vais voltar à Floresta Grey.
-Mãe...

Ao fim da tarde, quando Peter estava a dormir para satisfazer a mãe, o telemóvel tocou. Peter, ainda bastante ensonado, procurou o telemóvel na mesinha de cabeceira às apalpadelas. Quando finalmente o encontrou, atendeu sem ver quem lhe ligava àquela hora.
-Sim?
-Ai, perdoa-me, amor – a voz de Chloe despertou-o totalmente.
Peter coçou os olhos. Estaria a ouvir bem? "Amor" ? Só podia ser uma artimanha daquela rapariga.
-Que se passa?
-Estou a ver que estás bem, meu amorzinhooo– admitiu ela, como se estivesse a falar para um cão – Estava preocupada contigo, bebé. Tinha medo que te tivesse acontecido alguma coisa. Perdoa-me por ter sido horrível contigo. Eu estava de cabeça quente, reagi sem pensar. Perdoa-me. Ainda gostas de mim?– Chloe parecia uma autêntica criança pela forma como falava. Talvez nunca tivesse lido um livro na vida.
Peter não sabia o que responder. Johanna tinha deixado bem claro que queria que se afastassem, que não se voltassem a envolver. Tudo o que lhe restava era a sua popularidade e uma rapariga aos seus pés que estava desesperada por ele. Por que iria recusar? Sabia que não iam casar, por isso, mais valia aproveitar e tentar esquecer aquela rapariga dos olhos azuis que lhe tinha dado a volta à cabeça.
-Peter, ainda estás aí?
-Sim, Chloe.
-Sim o quê?
Peter inspirou e expirou muito lentamente.
-Sim, ainda gosto de ti.

Out of the WoodsHikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin