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Eu acordei num grande salão, comigo estavam muitas outras pessoas, não eram somente crianças, tinha pessoas adultas também. Estávamos com os pés e as mãos amarrados, alguns até tinham fita adesiva na boca. _Estava assustada não entendia o que estava acontecendo, todos estávamos com medo, olhamos um nos olhos do outro mas ninguém ousava perguntar nada.

_De repente a grande porta de madeira abriu rangendo e dois miúdos foram jogados ali, um deles estava com curativo tinha perdido um braço, e o outro estava muito ensanguentado e chorando. Um jovem rapaz bonito começou a gritar por socorro ele estava descontrolado e um dos miúdos falou pra ele que o melhor era ficar quieto que ali ninguém nos ouvia ou via.

_Novamente a porta é aberta mais daquela vez dois dos prisioneiros foram levados uma menina e um senhor e o tumulto começou a partir dali, todos gritavam começaram a levantar na direção da porta, o salão se transformou num completo inferno, eram gritos de pavor e desespero, e as pessoas começaram a cair um em cima da outra.

_Minutos depois três homens adentraram o salão com violência e começaram a atirar sem medo em todos ali sem piedade, eles pareciam gostar daquilo riam enquanto as pessoas corriam e gritavam, um deles até começou a nos xingar de, porcos se não calarem serão abatidos todos de uma vez.

_Eu nunca me senti tão humilhada, nunca me senti tão pequena tão nada, vi todas aquelas vidas serem desprezadas da pior forma possível, senti nojo, ódio, medo, raiva por mais que queria morrer não conseguia me matar.

_Eu juro que eu queria poder fazer alguma coisa mas eu sou fraca, não sou nada.

Kayron ouvia atentamente as palavras de Raissa que parecia imóvel, ao falar aquelas palavras somente sua boca mexia, seus olhos fixos num quadro florido à beira da porta lacrimejavam sem parar.

_ Não, não fala assim tu és um ser humano com dignidade e valor, eles sim eram um nada, seres desprezíveis.

_ Naquele dia quando me socorreste na estrada eu acordei e tu estavas a dormir, então eu abri a tua carteira e vi a foto dela.

Descrever sintomas de um infarto é pouco perto daquilo que Kay sentia no momento, o jovem rapaz não conseguia mais distinguir entre o real e o imaginário, seu corpo tornou-se tão leve quanto um pena mas seu peito pesava mais de mil quilos ao ponto de derrubá-lo, ele lamentava, porquê não consigo, não consigo falar, eu preciso levantar, preciso sair daqui, Mielly minha irmã eu vou te encontrar, meu deus , adeus mãe, pai. Kayron sentiu a morte chamá-lo no momento, quem um dia pensou que amor não mata se enganou, o seu amor para com sua irmã era eterno e ele podia morrer mas jamais desistiria de procurar uma chance sequer de ver nem que seja a última vez mas ele queria poder tocá-la, sim o amor por ela estava matando-o.

Kayron, onde estás tu? Kay.

(Risos)

Eu sinto muito irmã, meu corpo já não aguenta mais. Não consigo seguir em frente.

Não Kay, estou aqui, levanta.

Kay o que está a fazer?

Estou indo embora, venha comigo Mielly.

_Não seu idiota sou eu Raissa, levanta, és muito pesado sabias? Vais desistir agora? Vamos, temos de sair daqui.

A visão voltou e o seu corpo reagindo, mais uma vez, Kayron levantou do chão um pouco grogue e trémulo, olhando fixamente nos olhos de Raissa assustada e ao mesmo tempo feliz por ele ter saído do transe.

_Preocupada comigo mocinha.?

_Nem um pouco, só não sabia o que fazer com um morto, já basta não saber pra onde ir.

_Pois sei, então, temos um encontro muito importante.

_ E posso saber com quem e onde?

_Não, ainda não confio em ti ao ponto de..., entendes?.

_Está certo então não vou.

_E ficarias aqui sozinha? Fui.

_Me espera seu tosco.

Os dois se dão de ombro com um leve sorriso e se jogam na estrada rumo ao destino desconhecido por Raissa e muitas esperanças por Kayron.


Prisioneiros do tráficoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora