Capítulo 23 #DorFracassoForçaAmizade

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A dor da perda é tão insuportável e desesperadora que muitas vezes nos cega a ponto de não conseguirmos enxergar nenhuma solução além da desistência. Definitiva.

Do alto de um viaduto Miguel observa os automóveis. Eles são iguais às pessoas, um número incalculável, vão e voltam de forma imperceptível para o mundo.

Dor, fracasso, saudade, é tudo o que sente.

Morte. É tudo o que vê.

Ele está sozinho. Sem sonhos. Sem esperança. Sem Sury.

Persistir em quê? Por quê?

Desistir é mais fácil. Indolor.

*** AngelLee acompanha o olhar de Vicky, focado em um garoto prestes a se jogar de um viaduto.

– Angel... – Vicky sussurra como se temesse que o garoto pudesse ouvi-la – Nós não podemos deixar. – Ela corre em direção ao garoto e AngelLee a segue..

Quando estão próximas dele, Vicky sinaliza para AngelLee para que elas se aproximem sem fazer barulho. Internamente elas temem que possa não dar tempo de agirem antes que ele decida se jogar para os braços da morte. O que ele fez, ou, o que ele está passando, nada justifica que elas permitam que ele tire a vida sem ao menos tentarem ajudá-lo.

As coisas acontecem tão rápido quanto o ritmo de uma respiração acelerada. Miguel saltando, as mãos de AngelLee e Vicky segurando-o pelo pulso.

*** Miguel fica pendurado do lado de fora do viaduto, segurado apenas pelos braços frágeis das duas garotas que tentam puxá-lo para cima.

– Larguem o meu braço! Vocês não tem o direito de me impedir!

– E você não tem o direito de tentar! – grita Vicky.

– Droga! Me larguem! Eu só quero cair...

– Não! – gritam AngelLee e Vicky.

– Ouça, somos fracas, não vamos aguentar muito tempo, então coopere está bem? Não importa o que tenha acontecido isso não te dá o direito de desistir. Então eu te proponho tentar mais uma vez, e se ainda assim não encontrar um sentido para a vida, eu mesma vou me jogar desse viaduto, porque realmente nada valeu a pena.

As palavras de Vicky atingem as resistências de Miguel em dar-se uma última chance, e olhando firme para os olhos dela, ele coopera.

Sentado na calçada, Miguel chora desconsolado. Toda a dor interna, o desespero, a revolta, a saudade, saindo junto com as lágrimas. AngelLee e Vicky o envolvem em um abraço superprotetor, repleto de carinho e pureza da alma, para que ele sinta que mesmo não o conhecendo ele é especial para elas, e que elas estão dispostas a ajudá-lo a lutar pela vida dele.

*** O C/E, Conselho Estudantil, se reúne para decidir o futuro de AngelLee, após receberem uma ligação anônima relatando o acontecimento na casa dos irmãos Slater, que por pouco, não teve um final trágico e muito cruel para a garota.

– Eles não são aptos para conviver com a garota.

– O Conselho foi unanime a esse respeito.

– Precisamos tirá-la daquela casa o mais rápido possível e levá-la para a R/E, República Estudantil.

*** Mesmo com todo o esforço das meninas em restabelecer o ânimo de Miguel, ele permanece calado. Ele apenas ouve, observa, medita em algo que não compartilha. Mas se há uma coisa que Miguel precisa reconhecer é que seus novos amigos, incluindo Jimmy que acabara de conhecer através das meninas, são ótimas pessoas! Além de engraçados e de estarem se esforçando muito para alegrá-lo e ampará-lo de todas as maneiras. Talvez, fosse o momento de ele tentar cooperar um pouco.

FERIDOSWhere stories live. Discover now