– Eu amo você, Miguel – ela dizia com a franja caindo lindamente sobre os olhos. A expressão tão séria, um tom de voz que mostrava que ela falava exatamente o que sentia.
Mas com o passar do tempo tudo o que ela sentia era dor, revolta, tristeza. A mãe de Sury tinha o dom de desconcertar a filha de uma maneira assustadora. Um dia que passassem juntas correspondia para Sury em dias de choro e entrega ao álcool.
Sury gostava muito de desenhar. Gostar não é bem a palavra, ela amava de todo o coração, de toda a alma. A arte para ela era o que atribuía significado para a vida dela, porque era isso que ela sabia fazer. Era a única coisa que ela tinha a certeza de que sabia fazer bem. Entretanto a mãe dela adotava outros pensamentos.
– Você pode até fazer desenhos bonitos, mas isso não vai colocar comida na mesa! E quando eu não estiver mais aqui para bancá-la, você vai fazer o que? Se alimentar das folhas que você compra para desenhar?
– Mãe, eu posso fazer isso. Eu posso desenhar e viver com a minha arte.
– Viver como? Morrendo de fome? Sabe que nesse país de merda artistas não são valorizados!
– As coisas mudaram muito por aqui.
– Um país de merda é sempre um país de merda! Você deveria pensar em seu futuro e fazer algo útil. Ter uma profissão. Trabalhar de verdade. Ninguém vive de sonhos. A menos que sejam sonhos da padaria.
Sury retornava da casa da mãe com todas as frustrações do mundo descarregadas sobre os ombros. Certa vez, Miguel a encontrou encolhida em um canto da casa, chorando, com uma garrafa de bebida pela metade, e mais duas garrafas vazias no chão. Os desenhos de Sury estavam rasgados, rabiscados, amassados. Os sonhos dela espalhados pelo chão.
– Sury, amor. Por que fez isso com seus desenhos?
– Minha mãe está certa. Não tenho chance nesse país de merda! Eu sou uma merda!
– Sury pare com isso! Ninguém tem o direito de tirar os seus sonhos! Nem mesmo a sua mãe.
– Ela já tirou Miguel. Ela já tirou. E sabe o que me resta? Nada. Por que é isso que eu sei fazer. É isso que eu sou. Um grande nada!
Miguel perdeu as contas de quantas vezes abraçou Sury e reforçou todas as qualidades dela, e a convenceu de que ela não deveria desistir dos sonhos dela. Nunca. Mas a mãe de Sury tinha uma influência negativa absurda sobre a filha, o que estava acabando com Sury e com Miguel, que começava a se sentir de mãos atadas.
Será que a mãe de Sury não tinha ideia da força destrutiva das suas palavras sobre a vida da filha?
Sury definhava um pouco a cada dia. Por dentro e por fora. E Miguel, definhava com ela.
*** – Ei!
Ao se virar, Sérgio é atingido com um forte soco. Ele leva as mãos até o nariz que lateja e sangra muito. Certamente está quebrado. A ira exposta na expressão dele é realmente assustadora. Como se ele estivesse pronto para matar. E é isso que ele quer fazer com Jimmy.
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FERIDOS
General FictionPLÁGIO É CRIME!!! LIVRO REGISTRADO NA BIBLIOTECA NACIONAL. CAPÍTULOS PARA DEGUSTAÇÃO. *** Capítulo Extra com Elenco de Feridos. ** #Dor#Sofrimento#Traumas#Romance#Ação#Amizade#Revolta Quando a sua alma está ferida, despedaçada a tal ponto que a sua...