Vida e Morte

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A vida é no começo uma luta. Crescemos afogados, apertados, na casa dos outros, incomodados, buscando espaço, lesando o corpo alheio, trazendo para a madre mulher mudanças, aumentando-lhe a barriga, inchando seu seio.
Sugando-lhe as forças, como hospedeiro, a desnutrir o corpo de outro sem receio, mudando até a mente do doador, antes solitário, agora se oferecendo com louvor.
Banqueteando da saúde ofertada, que se entrega por amor, com dor, com curiosidade, com felicidade ao menor movimento, aprendendo a ninar, desenvolvendo inexplicáveis talentos, encubados a surgir.
Mas, nem sempre é assim, alguns dos que doam, nem sempre estão afim. Tomados de um medo inconsciente, de na dúvida de outrem, sermos cuspidos. Por pais desnaturados, que em uma atitude estúpida, estarmos descartados, paridos, despedidos, quando ainda não estamos nutridos, o suficiente para nascer, crescer e do ventre florescer.
Nascemos pondo esperança na vida de alguém, pedindo misericórdia, paciência, perdão pela exploração. Trabalhosa é a vida de uma mãe, ou de um pai que lhe assume a função. Pensamos no labor que causamos, de suportarem grande aflição, no começo, chegam a colocar o ouvido para escutar o coração. Nesta sua vida que se resume a uma única paixão, sendo assim, somos abençoados por tal devoção.
Os cuidados não acabam ainda, a cada fase um novo desafio, a vida se firma, se robustece, desvencilhando daquele início, que tudo era por um fio.
O andar, falar, correr. Essas fazes são lindas, não há preocupação, vivemos em um mundo encantado, como em uma estória de ilusão.
Brincar, conhecer, e as vezes se machucar.
O melhor amigo/a, as novas descobertas, a primeira paixão. O coração partido, o beijo molhado, as estrelas vistas de cima de um telhado, no campo, daquela viagem inesquecível.
A primeira briga, a revolta, a culpa, o contato com a liberdade, as drogas de conhecidos a oferecer, aparecendo a imagem dos pais, toda educação e preparo dos últimos anos, que poderão cair por terra, diante de um sim, ou na vitoria paterna de um não.
O vestibular, a graduação. Novos amigos, a nova vida. Muitos que se destacaram antes, agora podem ser superados, ou confirmados.
A hora do tudo ou nada, encarados por uns como brincadeira, e por outros como a última fronteira. De lá, o grito de liberdade, não o que só liberta a mente, instantaneamente, como um drinque, um baseado, mas a verdadeira libertação, adquirida na conclusão, de um ciclo que só os fortes tiram proveito, que não ficam a beira do leito, mas mergulham de corpo e alma nas águas do conhecimento, deixando tudo que não presta para trás, dedicando-se na busca de um labor voraz. Limitando seu pensamento em uma única opção, sucesso e no fim, a graduação.
O primeiro emprego, a mulher/homem amada/o, a bodas tão esperada. A primeira casa, as tempestades, as bonanças, os filhos, a felicidade por tudo quando anda reto e regular como em um trilho.
A melhor fase da vida, a reflexão do passado, dos passos que foram por muito analisado.
A meia idade, os netos, o limiar da vida, a velhice esperada, mas nem tanto querida.
A sabedoria acumulada, o espírito que passa a ouvir mais, ao invés de falar, de assistir, ao contrário de agir. Aos netos, o aconselhamento prudente, diferente de si, naquela idade, que nesta fase da vida, nunca se usa muito a mente.
A vida que se esvai, os prazeres que não mais nos atrai, coisas simples, que não pode ser mais feita. Um novo ritmo, uma nova atividade eleita, a meditação do passado e a distração com um carteado. A música antiga que emociona, o cônjuge que se vai na frente, o espírito que aos poucos se entrega a Deus, como alma temente.
O paraíso tão falado, imaginado. Passa a fazer parte de um vislumbrar, de uma mente cansada a sonhar, de um dia poder revigorar.
Um sono breve, numa tarde fria. A mudança de força, o vigor aumentado, a/o companheira/o que nitidamente se apresenta com um sorriso aumentado, brilhante como na juventude. A saudade que se acaba naquele abraço apertado, a luz que aparece de repente, o despertar da idéia consequente. O caminho que agora está findado, não é tão dificultado, pois há seres brilhados, a guiar.
Os passos de uma alma branda, com heranças a deixar, mas a vontade de partir, nos passos da esposa/o a redimir, o tempo que se fez passar.
A vida, a morte, talvez não exista nem vida, nem morte. Talvez, tudo foi nossa invenção, como uma palavra, ou uma expressão, que importa o nome, ou a situação. Sei que o que vale é o amor, o acúmulo de caridade, a sabedoria juntada com a idade, que não existe mais, pois os anos não se contam, o espaço não se delimita, e o que existe é a contagem de amor que nós entregamos na vida.

J.B.Brown

Café, poesias e crônicasWhere stories live. Discover now