Capítulo 06

5.6K 662 55
                                    

Faço uma careta quando a mulher de  pernas finas passa pela sala como se estivesse em uma passarela. Estela também faz uma careta, mas acredito que seja por conta do seu perfume que toma conta de todo ambiente. Alguém deveria falar pra ela que esse perfume é enjoado. Eu e a bebê observamos Ben acompanhar Anny, sua namorada, até a porta.

A mulher pelo visto não era capaz de dirigir, pois sempre ia e vinha de táxi — isso quando o babaca de cabelos ruivos não podia deixá-la em casa. Meu santo, definitivamente, não batia com o dessa mulher. Ela chegava a ser pior que Ben, olhava para as pessoas como se fosse superior de algum modo e era cheia de não me toque. Cami e Paul também não gostavam dela, se bem me lembro, sempre ficavam se perguntando como Ben, " um cara tão legal" estava namorando uma pessoa tão amarga. Oras, cobra com cobra, era óbvio que iria funcionar.

Pelo o que foi me contado, Anny e Ben se conheceram quando ele a fotografou para o catálogo da Moscow — Moscow é a empresa de fotografias e artes que Paul era fundador. É um local lindo, nas poucas vezes em que fui lá com Cami, fiquei encantada com o lugar. Era cheio de cores, fotos de todas as formas e tamanho nas paredes. Lembro que estava tão distraída encarando o local que topei com alguém, e, infelizmente, fiz com que o objeto em suas mãos caísse, que mais tarde descobri ser uma câmera. Mas não era a câmera de qualquer pessoa não, ah não, tinha que ser justo a câmera do diabo ruivo. E também foi nesse dia que descobri que Ben era fotógrafo, um dos melhores, segundo Paul. Mas voltando ao foco principal, Anny e o diabo ruivo. Que romântico, não? O fotógrafo e a modelo. Se eu não fizesse nada de lucrativo na minha vida, ficasse cega, virasse mendiga ou fosse internada com problemas mentais, eu poderia contar a história dos dois. Imagine, o Best-Seller dos fracassos.

Quando eles somem da sala, volto minha atenção para a TV, e vejo a Galinha Pintadinha usando saia e dançando.

— Lola?

— Sim? — Célia aparece segurando um pano de prato em mãos. Ah, Célia, meu anjo sobre a terra, ela conseguiu limpar a casa em um dia, eu tentei ajudá-la, mas ela me dispensou assim que eu quebrei (totalmente sem querer) um copo de vidro. Proibida de chegar perto dos móveis da casa, fui cuidar do que era meu por direito, Estela.

— Sua amiga ligou e disse que você precisar ir na faculdade hoje, alguma coisa a ver com sua bolsa.

— Droga!

Já haviam se passado duas semanas desde a minha última ida à faculdade. A primeira semana tinha sido neutra já que eu estava de luto e tinha direito a sete dias em casa, mas quando o período de luto acabou eu não tinha mais desculpa. Não havia ninguém para cuidar de Estela e eu não podia levar uma criança para a faculdade — por mais que isso me pareceu tentador durante esses dias que tive que faltar.

— Que interessante — Ben comenta, parado na porta. Ignoro ele e continuo olhando para Célia.

— Mais nada? — ela negou com a cabeça — Obrigada.

E ela sai, me deixando sozinha na presença do barba vermelha.

— Você anda faltando na faculdade. — a TV tem minha total atenção. Não olhe pros lados. — Estou falando com você.

— Percebi. — respondo sem me virar, mas uma pequena traidora começar a se debater em meu colo e a fazer gesto de querer ir pro chão e eu bem sei o que ela pretendia com isso. Saio da minha posição confortável no sofá e coloco Estela no chão, e só vejo a bundinha da bebê ir de um lado pro outro enquanto ela engatinha até os pés do tio. Ele a pega com um sorriso no rosto. Todos parecem gostar de Ben e por isso me pergunto se isso é só antipatia minha. Mas quando vejo ele me olhando com a maldita careta dele, sei que ele também não gosta de mim e que a antipatia não é só da minha parte.

LolaWhere stories live. Discover now