Deslizo um pouco mais meu braço que estava sobre o espaço da mesa entre mim e o moreno, meu estojo acaba deslizando e um pequeno guincho de surpresa sai de minha boca. De algum jeito, o garoto com cabelos compridos havia o segurado com tamanha destreza e agilidade quase sobrenaturais. Com as sobrancelhas franzidas, pego o estojo que ele me estende e pisco um pouco antes de esquecer a questão.

"A propósito, sou Kyle Ross" Um dos cantos de seus lábios se curva delatando uma pequena covinha.

"Amy Clair Voyance" Digo dando-lhe um rápido sorriso.

"Ah sim! Já ouvi falar muito de você" Ele dá uma piscadela.

"E posso saber de onde você ouviu falar de mim?" O imito.

"Sabe como é, ninguém consegue ficar longe dos stalkers deste colégio. E você é carne nova no pedaço" Ele acrescenta, sorrindo malicioso. Fico alerta por um instante, me perguntando o que esses stalkers estaria fofocando e espalhando por ai, mas percebo que este não era o foco da conversa.

"Carne nova?"

"Sim. Em múltiplos sentidos" Ele arqueia a sobrancelha e põe um sorriso astuto nos lábios. Antes que eu possa falar algo, ele acrescenta:

"Mas não se preocupe, também sou novato por aqui, cheguei faz duas semanas com uns parentes."

"E o que te trouxe para Beacon Hills?" Pergunto tentando prolongar o assunto, não estava afim de tentar fazer os monstruosos exercícios de química que mais me pareciam grego.

"Você é bem curiosa" Fala em um tom brincalhão, mas coro por algum motivo "Vim por causa de alguns negócios que meu tio tinha de fazer na cidade, visitar algumas pessoas, tratar de coisas do passado... Assuntos de gente velha" Ele dá de ombros e consegue arrancar uma risada de mim, me seguindo logo após.

"Aqui na frente, silêncio por favor!" A professora nos adverte antes de voltar-se novamente para o quadro. Encolho-me mais no banco.

Assim que tenho certeza que a professora não está mais a olhar para nós, reviro os olhos e sopro os cabelos para longe de meu rosto. Apoio meu queixo sobre minha mão que estava com o cotovelo sobre a mesa e sussurro para Kyle com um sorriso presunçoso brincando em meus lábios:

"Que coisa séria, primeira vez que falo com você e já me meto em problemas com a professora" Falo brincando, ele ri, mostrando seus dentes brancos e alinhados.

"Sou propenso a meter as pessoas em problemas" Ele fala, mas noto algo em sua voz, como se aquilo fosse além de uma brincadeira; fosse uma verdade e que lhe custava caro.

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A aula de química parecia que nunca iria acabar, portanto dou graças a Deus quando o sinal bate. Jogo as coisas de qualquer jeito dentro da mochila e a fecho, jogando-a em seguida sobre meus ombros.

Kyle acaba sendo legal comigo e se oferece para me acompanhar até o refeitório, já que íamos para o mesmo lugar. Por mais que ele tivesse uma estatura e porte físicos um pouco intimidantes, ele movia-se com certa graça e sutileza. Parecia fácil relaxar perto do moreno e soltar uma boa risada.

A aula de certa forma foi produtiva, se considerar que fizemos todos os exercícios, mas todos eles devem estar errado, pois ficamos distraídos conversando.

Em meio a conversa, descobri que Kyle tinha crescido e passado a grande parte de sua infância em Forks, uma cidadezinha em Washington. Ele diz que era pequena, umidade e com pouco mais de 3.000 habitantes. Apenas escuto e faço pequenos comentários, pois a grande parte de minha mente ainda estava a tentar lembrar de algo, uma mísera coisa, sobre meu passado ou minha infância. Nada, uma lacuna em branco no lugar onde deveria estar as memórias. Fico pensando seriamente se não sofri de amnésia, mas era algo improvável de não se notar.

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