Capítulo 2 #Dor

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As portas foram abertas e Sury foi conduzida às presas pelo corredor do hospital.

Miguel segurava a mão da namorada e tentava manter a expressão inabalável, porém, no fundo do coração, ele temia que fosse o último momento ao lado dela.

Ela era a mulher da vida dele e a criança no ventre dela deveria ser a vida dos dois, mas não era. Na verdade, ela deixou de dar importância a si mesma quando optou por não ser resgatada do mundo das drogas, desde então, Miguel nunca mais fechou os olhos com tranquilidade.

Sury não estava conseguindo respirar! Os olhos dela buscavam com desespero os de Miguel implorando que ele a salvasse, mas, dessa vez, nem mesmo ele tinha certeza de que isso seria possível. As enfermeiras colocaram-na no oxigênio, a situação estava se agravando e as lágrimas nos olhos do rapaz apenas comprovavam o fato.

Miguel sempre socorreu a namorada durante as convulsões, porém, dessa vez, algo estava diferente.

Ok! Mantenha a calma, não a deixe perceber que você está nervoso e com medo, quem sabe seja só mais um susto e quando passar, ela vai agradecer por eu estar ao lado dela. Não! Não! Você sabe que não é um susto. Mas ela não precisa saber. Seja forte! Não chore na frente dela. Você sabe, mesmo que não queira admitir, que dessa vez, ela não vai sobreviver. Merda! Por que estou pensando isso?! É claro que ela vai conseguir!


Miguel foi impedido de entrar na sala de emergência. As lágrimas começaram a escorrer pelo rosto dele à medida que ele via a mulher da sua vida se afastar, talvez, para sempre.

Não é para sempre. Daqui a pouco o médico vai aparecer e dizer que está tudo bem com ela e com a criança, e que ela vai ser internada em uma clínica de reabilitação. Ela não vai voltar para mim... Eu não sei como lidar com isso, eu não consigo acreditar que isso está prestes a acontecer... Merda! Merda! Merda! Por que é tão difícil manter um pensamento positivo? Vai dar tudo certo... Eu sei que vai.

A imagem de Sury sendo levada às pressas não saía da mente de Miguel, parecia uma fita que ficava sendo rebobinada e recomeçava exatamente na mesma cena.

Em um momento você acha que está tudo bem, e que nada vai estragar sua felicidade, de repente, sua vida da um giro de 360º, você perde o chão, pois vê seu mundo desabar, e tudo o que você precisa é ouvir uma frase para poder recuperar a sanidade, tudo o que eu queria ouvir era "sim, ela conseguiu". Então vejo o médico caminhando em minha direção, o semblante dele não está nada bom, temo que o pior tenha acontecido, sinto meu coração apertar e um nó na garganta.

- Sinto muito - disse ele - Ela não resistiu.

O mundo de Miguel caiu. Ele tentou, sem sucesso, discernir e encarar a cruel realidade, mas a dor no coração era mais forte do que qualquer tentativa de pensamento ou atitude.

- E quanto ao meu filho? - Ele olhou para o médico, que balançou a cabeça negativamente.

As lágrimas caíam de maneira desenfreada.

- A criança era prematura, as chances de sobreviver eram mínimas, e se sobrevivesse, as más formações devido ao uso de drogas... - e a voz do médico desapareceu.

O coração de Miguel se partiu em milhares de pedaços, a vida dele também. Ele via os lábios do médico se mover, mas, naquele momento, as palavras não faziam o menor sentido.

- A polícia foi acionada - disse o médico - Você precisa aguardar aqui.

- O que?! O que o senhor está dizendo?

- A garota tinha problemas com drogas, chegou aqui em estágio avançado de destruição. Alguém fornecia drogas a ela, a questão é, quem?

- O senhor não pode estar falando sério! Eu acabei de perder duas pessoas que amo e tudo o que pensa é na merda de uma investigação?!

- Cuidado com o vocabulário, rapazinho! E para o seu bem, é bom que não seja você o responsável pelo fornecimento das drogas que acabou com essas duas vidas!

O soco atingiu o nariz do médico.

- Eu não sou o responsável pela morte da minha família! - esbravejou Miguel - Mas posso ser, pela sua, se continuar falando besteiras! - As lágrimas se misturaram ao ódio e Miguel se afastou do médico sem olhar para trás.

- Você vai se arrepender por esse soco, rapazinho! - esbravejou o médico jogando no chão o jaleco manchado de sangue.


FERIDOSWhere stories live. Discover now