28 de Maio de 2010, Sheffield, South Yorkshire – UK
Stella acordou um pouco, depois um pouco mais, retomando lentamente a consciência. Perguntou-se, enquanto observava a escuridão de seu quarto, se o som da campainha havia sido real ou fazia parte de um sonho. Suas noites mal dormidas, de raras passaram a uma frequência cansativa. Não se espantava quando acordava com o trivial som de um carro passando pela rua, ou o tiquetaquear do relógio do corredor. Era como se nunca chegasse a sair da fase de vigília, e o sono profundo do estágio quatro fosse nada mais que uma utopia.
Quando a campainha preencheu todos os cômodos outra vez, seus olhos correram até a mesa de cabeceira, onde ficava o relógio digital. Ele marcava 01:20. Seu coração vacilou, preocupado com a visita inesperada. Poderia ser qualquer um, trazendo qualquer notícia, e tinha essa impressão angustiante de que não poderia ser algo positivo.
Era Anna. Roupas encharcadas de chuva. Olhos encharcados de lágrimas.
- Anna, o que houve? – Stella não esperou que ela se manifestasse, apenas a tomou pelo braço, puxando-a para dentro de casa – Você está ensopada!
- O Alex está? – Disparou, e embora seus lábios e queixos tremessem de frio e ansiedade, sua voz não titubeou.
- Sim, deve estar no quarto...
- Posso subir?
- Você está bem, Anna? – Ela apenas chacoalhou a cabeça positivamente, sabendo que Stella não acreditaria, tampouco não insistiria – Ok.
Dangerous Animals soava pelo headphone, tão alto que Alex sentia como se fizesse parte da música. Seu corpo vibrava, e ele imaginava que era um dos acordes, uma das cordas da guitarra, de repente estava escondido dentro do bumbo da bateria. Desfazendo-se em pura melodia.
Não pensava em nada, e gostava da sensação de não haver nada em mente, a não ser por aquelas linhas coloridas que se entrelaçavam harmoniosamente no ritmo da música. Mas de repente, mesmo por trás de suas pálpebras, ficou claro. E depois disso, foi uma questão de tempo até não haver mais música.
- Quando você ia me contar?
Alex tentou organizar as palavras em sua cabeça, mas elas corriam muito depressa.
Anna assistiu enquanto ele se sentava lentamente, apreensivo e confuso. Tentou lidar com as ambivalências que ele costumava provocar. Queria jogar alguma coisa em seu rosto, gritar ofensas que o fizessem chorar, e depois abraçá-lo tão forte e tão perto, até que não restasse uma só parte de seus corpos que não estivesse em contato.
- Você está molhada... – Ele comentou, enrolando as pernas na posição de índio.
- E você está chapado, que ótimo! – Alex arqueou um pouco as sobrancelhas, e controlou a repentina vontade de rir, disfarçando com uma tosse.
- Por que está brava? – Perguntou, tentando se lembrar de quanto tempo fazia que não se viam pessoalmente – Quando chegou?
- Alex... – Ele não gostou de seu tom, e de como seus olhos estavam cravados nele. Ele quase podia sentir fisicamente – É verdade?
- Do que está falando, Anna?
- Estou falando sobre você ir embora para os Estados Unidos em duas semanas, e não ter me dito absolutamente nada! – Ela disparou, tão rápido que ele quase não conseguiu acompanhar. Tão agressiva que um soco teria sido menos doloroso.
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Friendzone
ChickLitAlex gostava de estar tão próximo à ela, e imaginar o dia em que teria coragem de admitir que havia aquela moradia em seu coração, e que ele vinha limpando e cuidando, mobiliando e decorando, para o dia em que ela chegasse. A porta havia sido feita...