Pé esquerdo

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14 de Julho de 2016, Los Angeles, Califórnia – USA


Com desatenção, Alex acariciou a crina do cavalo no qual estava montado. O carrossel estava mais antigo e melancólico do que conseguia se lembrar. Podia sentir a aspereza dos pelos sob seus dedos, e ouvia a madeira gemer a cada movimento das correntes enferrujadas, que carregava os cavalos para cima e para baixo. A iluminação, precária, não permitia que Alex reconhecesse qualquer um daqueles rostos ao seu redor. Aquela música se parecia muito com algo que tocava nos filmes de drama, os que Madson gostava de assistir.


- Filho?


Alex atentou-se, seus olhos encharcados fazendo com que sua boca parecesse ainda mais ressecada. Ele olhou curiosamente à sua volta, sem saber ao certo de que direção tinha vindo a voz do pai. Mais tarde teve a impressão de que era de algum lugar dentro de si.


- Alex, vamos! – Robert convidava – Você vai se atrasar!


Ele demorou para se recordar e reunir todas as letras que precisava, e quando finalmente formou um hesitante "para que?", sua voz não passava de um sussurro frágil e inaudível por qualquer um além dele.

Alex segurou-se na corrente, assustadoramente enterrada na cabeça daquele cavalo que não deveria ser um animal de verdade, e prontificou-se a saltar. Notou, só então, que estava há metros de distância do chão. E mesmo aterrorizado, deslumbrou-se com a vista. Aquele carrossel não costumava voar, pensou.


- Ora, menino! – O pai reclamou, e Alex pôde vê-lo. O campo pareceu grande demais para a figura de Robert, mãos na cintura como um super-herói tentando parecer imponente – Desça já daí!


Alex quis desesperadamente descer do cavalo e ir de encontro ao pai, se comunicar com ele antes que se zangasse ou desistisse de esperar. Mas sua voz era nada mais que um sopro débil em sua cabeça, como se não tivesse força o suficiente para ser externalizada. "Uma volta de carrossel não pode demorar tanto", ele considerou, e concentrou-se na espera.

A imagem risonha de Robert foi tomando novas proporções, conforme os cavalos cavalgavam de volta para a terra firme. Alex saltou logo que pôde, e tentou correr em direção ao pai, frustrando-se com a distância que havia entre eles, e que parecia maior a cada um de seus passos.

"Eu não consigo", ele admitiu, com o coração dolorido. Dessa vez havia tanta voz que soou como um grito, desencorajado e sofrido. Robert soltou uma risada compreensiva, os braços movendo-se num gesto que convidava Alex para um abraço.

Zonzo e cansado, o rapaz observou o gramado entre ele e o pai. Contou, com dificuldade, quantos passos precisava percorrer para alcançá-lo. E dessa vez, quando começou a andar, tudo ficou em seu devido lugar.


Ele contou, bem baixinho:

Décimo.

Nono.

Oitavo.

Com a proximidade, Robert parecia mais velho do que antes. Mais magro, talvez.

Sétimo.

Sexto.

Alex reconheceu e repudiou a imagem da bengala de madeira, onde o pai se apoiava.

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