A Loja de Música do Duran

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12 de Abril de 2003, Sheffield, South Yorkshire – UK


Os olhos de Alex, escuros de raiva, focavam o portão da escola do outro lado do jardim. O sangue havia fugido das juntas de seus dedos, agarrados com força nas alças de sua mochila. "A Anna vai pentear seus cabelos hoje, Alex?", um dizia. "Alex e Anna, melhores amigas pra sempre", acrescentava outro. "O Alex é um cara meio estranho, ele pensa no Marvin durante o banho", cantarolavam em coro.

Anna, que costumava ser seu esconderijo favorito, naquele momento não passava de um suplício. Mas lá estava ela, no portão da escola, como todas as quartas. Sempre encolhida e assustada como alguém que se vê pequena demais para um mundo tão grande. Alex, de tão parecido, se incomodava.


- Você não podia ter ido direto para a loja? – Disparou ao passar por ela, sem parar pra cumprimenta-la. Anna sabia que Alex era alvo de piadas na escola, mas não fazia ideia de quanto estava envolvida.

- Eu sempre venho até aqui... – Comentou, tentando alcançá-lo – Não achei que fosse um problema.

- Hey, Alex, pede para a Anna te levar no salão fazer as unhas!

- Anna e Alex, best friends forever!

- Você deveria fazer alguma coisa... – Anna comentou, acompanhando com dificuldade as passadas largas do amigo.

- O que quer que eu faça?

- Primeiro, pare de agir como se a culpa fosse minha... – Ela estabeleceu, e parou no topo das escadas do metrô – Se quiser que eu vá embora é só dizer... – Alex interrompeu os próprios passos dois degraus depois, voltando-se para ela.

- Me desculpa... Vem. – Chamou, e estendeu sua mão para ela – Vamos, o Duran disse que hoje chegaria o novo álbum do Linkin Park... – Anna não se moveu, a expressão impaciente – É meu aniversário, vamos lá!

- Ok, seja menos idiota, então. – Rendeu-se ela, seu braço ao redor dos ombros do melhor amigo, que ria seu riso favorito.

- Eu prometo que vou tentar!


Poucas coisas sobreviveram ao incêndio – que naquele ano completaria seus quatro anos. Da estrutura da casa, restaram algumas paredes, queimadas o suficiente para precisarem ser derrubadas. Dos móveis, apenas as pias de mármore. Nenhuma peça de roupa, nenhum par de calçados.

Martha ficou firme nos primeiros dias, mas chorou pelo próximo ano inteiro, lamentando principalmente a perda de todas as fotografias de Anna, desde seu nascimento até as que ainda estavam em um envelope, esperando para serem colocadas em porta-retratos e álbuns novos.

Mudaram-se para uma casa em um bairro menor e menos movimentado. Depois Lucian mudou-se para Doncaster. Prometeu que as levaria consigo logo que estivesse estabilizado. Apenas uma das muitas promessas que ele não cumpriu dentro daqueles anos.

Entre as coisas que restaram daquela noite – a única que não estava trincada, queimada, cheirando a fumaça – Anna e Alex.


No início se falavam por telefone quase todos os dias, coisas banais. Anna indicava leituras. Alex indicava álbuns. Depois ligavam para comentar o que tinham achado das sugestões. Voltaram a se ver no aniversário de Alex, em abril de 2000. E depois disso viam-se com frequência, porque Anna passou da escola primária para a secundária, e esta ficava há apenas 10 minutos da escola onde Alex estudava.

Além disso, Robert levava Alex até a casa de Anna. Martha levava Anna até a casa de Alex. Em alguns fins de semana levavam eles até o cinema e esperavam por eles do lado de fora.

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