O convite

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14 de Julho de 2016, Los Angeles, California – USA


Alex ouvia a própria respiração, custosa e ruidosa. Abriu os olhos, zonzo da bebida e da adrenalina. Madson aconchegou a cabeça em seu peito, buscando por ele daquela maneira manhosa que ele costumava gostar, mas naquela noite o perturbou.

Acariciou seus cabelos, que ele mesmo havia embaraçado. Depois correu a ponta dos dedos por suas costas nuas, seguindo cada vértebra de sua coluna, porque sabia que ela sentia cócegas, e sempre se contorcia em meio a uma risadinha frouxa. Ele costumava sorrir junto, mas naquela noite não conseguiu.

Fechar os olhos era ainda pior. Atacado novamente pela imagem que havia criado de Anna durante o sexo com Madson. Não se lembrava de outra vez que isso tivesse acontecido. Tampouco se lembrava de algum dia ter estado tão excitado.

Junto com o tesão, deixou pra trás o bem estar daquele devaneio. De prazerosa, a imagem tornou-se apavorante.

Ainda assim, quando Madson desenrolou-se de seus braços e não o convidou para o banho, Alex pegou-se colocando rapidamente suas roupas e escapulindo quarto afora, onde talvez conseguisse respirar

A ideia era tomar um copo d'água – talvez whisky caísse melhor, mas esqueceu-se disso no caminho.


- Estava dormindo? – Disparou logo que Anna surgiu do outro lado da porta. Não parecia sonolenta, constatou.

- Não... Está tudo bem? – Quis saber. As bochechas rosadas delatando que havia bebido demais.

- Posso entrar? – Os olhos dele correram pelo corredor, persecutórios. Anna achou que ele cheirava à whisky e sexo. Desejou que tivesse força para dizer que não, que ele não podia entrar.

- Pode... – Alex passou pra dentro, e, sem pedir permissão, largou o corpo sobre a cama – O que houve?

- Nada... – Anna reconheceria suas mentiras em qualquer situação, mas decidiu não pressioná-lo, porque não tinha certeza se queria saber qual era a verdade – Só queria te ver. – E lá estava ela, tremendo dos pés à cabeça.

- Hm... – Murmurou, e depois aclarou a garganta como se pretendesse acrescentar algumas palavras, mas apenas sentou-se ao lado dele e manteve o silêncio.

- Você tem música aí?

- Alex, é melhor você ir para o seu quarto, Madson pode se zangar se souber que está aqui ouvindo música, tarde da noite... – Ele concordou com a cabeça, sua expressão mal escondeu quão penoso era ser rejeitado por ela. Mesmo depois de todos aqueles anos.

- Quero te fazer um convite. – Alex comentou, e levou a mão em seu bolso num gesto automático, procurando pelos cigarros, que há muito tempo não ficavam ali para quando estivesse ansioso.

- Da última vez que me fez um convite, foi pra essa enrascada aqui... – Anna brincou, depois sentiu-se mal pela veracidade que havia por trás daquelas palavras.

- Esse é dos bons... – Ele garantiu, risonho – Você ainda confia em mim?

- Como assim? – Anna empertigou-se, suas sobrancelhas se reunindo e expressando sua confusão.

- Se você ainda confia em mim, pouco que seja, só diga que sim!

- Alex... – Ela soltou, um pouco descrente, muito surpresa.

- Como nos velhos tempos...

- Nos velhos tempos, todas as vezes que você fazia isso era porque ia me levar para algum lugar que sabia que eu não ia concordar... – Alex começou a rir, e aos poucos conquistou um sorriso de Anna.

- Vamos lá, você era mais corajosa!

- E você não usava gel! – Ele curvou-se numa gargalhada. Só pela maneira como o atacou, Alex sabia que ela estava guardando aquilo desde que chegou.

- Um "sim", e não usarei nenhum gel... – Havia um ar leve e gracioso no olhar desconfiado de Anna. Estava tentada a aceitar, Alex notou – Vamos, Anna.

- Sem nenhuma dica?

- Você nunca precisou delas, poopface. – Ela lambeu os lábios e ficou um tempo apenas observando o rosto cheio de expectativas do amigo.

- Ok.

- Sim?

- Sim! – Alex adotou uma postura triunfante enquanto se levantava. Cambaleou nos dois primeiros passos antes de voltar a estabilizar-se – Tenho a impressão de que você está completamente bêbado, e que vou me arrepender pelo resto da vida por aceitar sua proposta impensada.

- Anna, existem poucas coisas que posso te garantir na vida... – Ele discursou, uma mão apoiada no batente, a outra na cintura, em uma característica pose ébria. Não havia qualquer parte do corpo de Anna que não estivesse arrepiada – Uma delas é que você não irá se arrepender! 

FriendzoneWhere stories live. Discover now