Quando o Heitor tinha três anos, eu comecei a retomar a minha vida aos poucos. Para começar dispensei a moça que cuidava do lugar e assumi as suas funções, isso tomava grande parte do meu tempo. Pois, além de cuidar do meu bebê, que dava muito trabalho, eu lavava, arrumava, cozinhava, passava, em suma, eu era uma dona de casa perfeita. Depois que assumi essa rotina comecei a me sentir melhor, mas cansada.  

Alguns meses depois, recebi a visita de Maria, ela era mesmo um anjo. Eu confiava muito nela, pois ela supriu o carinho que não recebi de minha mãe, ela foi minha babá e se tornou uma pessoa mais que querida. Então, nós passamos o dia conversando, e aquilo me fez muito bem. No fim do dia, ela já tinha me convencido que eu era muito jovem que tinha que aproveitar a vida, que eu ainda tinha muita coisa para viver, que eu deveria sair ao invés de ficar enfurnada dentro de casa. Não sei o porquê, mas naquele dia eu acreditei em seus conselhos, e resolvi sair. 

Liguei para uma amiga de faculdade e nós saímos. Fomos a uma boate, eu dancei muito, bebi muito, beijei muito e dei muito. Acordei as quatro da madrugada, na cama de um completo estranho. Daquela vez, eu fiz questão de observar enquanto ele colocava a camisinha, só para constar. Foi uma boa transa, mas nada espetacular. Por isso, quando despertei, averiguei se ele ainda estava dormindo, e fugi. E isso se tornou um hábito, desde então. E me refiro as duas partes, acordar na cama de estranhos e fugi de todos eles. 

Como tudo funcionava? Era simples. A Maria, a governanta da minha mãe e mãe da Júlia, ela ficava com o Heitor em suas noites de folga para que eu pudesse sair para me divertir. E, depois que a Júlia completou dezesseis, o que aconteceu há quatro anos, ela passou a tomar conta do meu filho para que eu pudesse sair. Para onde eu ia? Bem, alguns terreiros de escolas de samba, bailes funk, e para a Lapa. Já disse como eu adoro a Lapa? Então, eu adoro e adoro, também, um bom pagode e bom samba.

O que eu posso dizer? Eu fugi algumas muitas vezes. Mas, logo percebi que era difícil fugir na noite, pois sempre passava aperto para arrumar um táxi. Por isso, logo tirei a minha habilitação e usava um dos carros do Hugo para sair, pois ele não se importava. O que posso afirmar é que a minha vida deu uma guinada, desde aquele tempo. Depois disso, eu só melhorei, a minha autoestima melhorou, eu comecei até a fazer box. A verdade é que foi esse caminho que eu encontrei para me reencontrar.

De uns tempos para cá eu comecei a me sentir mal comigo mesma outra vez. Eu estava me sentindo uma vadia. Eu dormia com homens demais. Não me entenda mal, eu não fui louca a ponto de ter tido a minha única experiência com o sexo oposto, com João. Confesso que já conheci alguns dezenas de homens, posso até ter exagerado. Mas, sim, eu tive que viver a minha juventude perdida. Eu era jovem, e estava frustada. No entanto, agora me sinto mal com isso. Só agora me dei conta que tudo é demais, sobra. Eu sinto que não sou um bom exemplo para o meu filho, todavia, não posso mudar quem sou, e nem posso negar que me divertir muito. Como é mesmo aquela música? Lembrei: Pode até parecer fraqueza / Pois que seja fraqueza então/ A alegria que me dá/ Isso vai sem eu dizer / Se amanhã não for nada disso / Caberá só a mim esquecer / O que eu ganho e que eu perco / Ninguém precisa saber".

Portanto, toda vez que eu saia tinha algumas experiências sexuais. Gente, posso dizer que conheço de todos os tamanhos e cores. Mas, para o meu total desgosto eu nunca me apaixonei por nenhum deles, todavia nenhum durou mais do que uma noite. A minha filosofia é: figurinha repetida não completa álbum, a não ser que ela seja premiada. Mas, eu ainda não encontrei nenhum que valesse a pena o repeteco, exceto, você sabe quem. Não me culpe, ele é feito sob medida para mim, ele tem o tamanho certo, a espessura perfeita e uma pegada inesquecível. 

- Cacete. Praguejo baixinho quando sinto o tesão tomar conta do meu corpo. As memórias dele são quentes, ainda me lembro de sua voz rouca falando sacanagens ao pé do meu ouvido, e seu gemido baixo. - Merda.

Ironias do DesejoWhere stories live. Discover now