A verdade

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Olá queridxs,
Desculpe-me por estar tão ausente.
A notícia boa é que voltei, agora para ficar.
Espero que gostem do capítulo novo.
Até breve,
Jéssica Miranda.

Chego a chorar, manso de tristeza. Depois levanto e de novo recomeço.

Clarice Lispector

Melissa

Caminho devagar, como se a lerdeza de meus passos pudesse retardar o momento, o que não acontece. Respiro fundo após fechar a porta do quarto do meu filho. Olho aquele lugar que mudou na medida em que meu bebê cresceu, ainda me lembro do berço branco que um dia esteve aqui, da decoração náutica. Lembro-me de cada noite sentada amamentando, de cada noite em que quase fiz buracos no chão de tanto andar por aqui ninando aquele serzinho que resmungava com cólicas e às vezes só com um pouco de dengo.  São tantas lembranças boas que me tomam o coração, e mais uma vez eu sinto que fiz o melhor que eu pude. Se eu errei? Sim, errei muito. E agora eu preciso resolver o meu pior erro.

- Mãe? Heitor me chama.

- Filho, primeiro eu quero me perdoe. Eu vou te contar uma história, quero que você me ouça. Mas, preciso que você entenda que eu fiz tudo o que podia, e fiz sempre pensando em você. Respiro fundo mais uma vez, tomando coragem.

- Só me conta mãe. Eu vou entender. Isso é tudo o que eu mais quero.

- Tudo bem. Então... faço uma pequena pausa. - Eu me apaixonei por uma pessoa quando eu era ainda muito jovem, na época eu ainda morava em Belo Horizonte. Essa pessoa foi o meu primeiro amor, meu filho. Digo e pensando que ele foi o meu primeiro amor e ainda é o meu único amor, parece que não tenho forças para mudar isso, afinal ninguém nunca foi como ele. - Preciso que você entenda que você é fruto do meu amor, você entende isso? Ele acena em resposta. - Como você sabe, eu vim morar no Rio, e por isso fiquei alguns anos sem ver o seu pai. Mas, um dia, o encontrei aqui. Era um dia muito feliz para mim, era meu aniversário de dezoito anos. Naquela noite eu... Procuro as palavras. - Bom, aconteceu que nós fizemos você naquele dia. Digo um pouco atrapalhada. Paro um instante para observar suas reações, ele parece só interessado e talvez ansioso.

- Continua mãe.

- No dia seguinte, eu pensei que ele fosse uma pessoa comprometida, pois achei sua aliança.

- Como assim mãe? Meu pai era casado?

- Não, mas eu achei que sim. Por isso fugi e dois meses depois descobri que você crescia em mim.

- E você não contou para ele? Ele não quis saber de mim? Foi isso mãe? Meu pai não me quis?

- Calma, meu amor. Digo abraçando-o.  - Seu pai não soube logo que eu esperava você, ele voltou para BH, mas eu o procurei, levei uma carta para ele contando sobre você, mas ele não estava em casa, ele havia se casado, e sua esposa me recebeu na casa deles, eu dei a ela carta para entregar ao seu pai. Mas, só há pouco tempo eu soube que ele não recebeu.

- Deixa eu ver se eu entendi, meu pai não sabe que é meu pai? É isso?

- Ele não sabia, agora ele sabe, por isso estou te contando a verdade. Seu pai quer conviver com você, quer ser seu amigo. A verdade é que você o conheceu enquanto estávamos em Belo Horizonte.

- Não entendo. Você está querendo me dizer que o Arthur é meu pai também? Igual ele é pai do Miguel? Eu não quero mãe. Ele me dá medo. Ele dispara meio desesperado. Poderia sorrir se não sentisse tanto medo.

- Heitor, o Arthur não é seu pai, ele é pai do Miguel e só.

- Então... Ele me olha, abre e fecha a boca, se dando conta de quem é seu pai. Eu meneio a cabaça e sentencio.

Ironias do DesejoDove le storie prendono vita. Scoprilo ora