Coloquei o telefone dentro de minha bolsa e foquei meu olhar sorrateiro na extensão de entrada da biblioteca, estava em um horário tranquilo, entrei pelas grandes portas de madeiras, já olhando curiosa, e novamente lá estava a menininha, nada da bibliotecária.

- Olá, eu quero pegar um livro. – Falei acenando. Ela pareceu me reconhecer, pois deu um sorrisinho todo envergonhado e caminhou para perto das fichas de livros.

- Lauren Jauregui, não é? – Perguntou. Eu assenti, ela deu de ombros e acenou.

- Pode ir lá. – Falou casualmente, os dedinhos adentrando seu macacão coloridos dos ursinhos carinhosos. Entrei no ambiente amplo, meus olhos já viajando pelas seções que me era de interesse, hoje eu queria um cara especial.

George Orwell.

Coloquei minha bolsa de lado sobre uma das mesas metálicas e desviei o olhar focando na estante que era o dobro do meu tamanho, os livros todos extremamente organizados e conservados, vamos lá, eu posso reclamar de nunca a ver, mas essa bibliotecária é dedicada.

A estranha sensação de ansiedade me invadiu e eu tive que repuxar uma das folhas em branco da bolsa, puxando uma caneta rápida, alucinante.

Dedicação.

Tracei, pensando na próxima cruzada, que vinha com o tempo, a vida, e a inspiração. Soltei a caneta sobre o papel e caminhei para a estante focada em perseguir o meu livro. Vamos lá, procuro a revolução dos bichos.

Meus dedos tocavam lateral por lateral de livro, enquanto meus olhos iam e vinham tentando achar o R perfeito seguido de E.

Pausei o polegar, satisfeita, e sorri repuxando o livro nos dedos, o que acabou me iludindo, o livro foi repuxado na mesma intensidade por alguém do outro lado, eu só podia ver as unhas coloridas de branco. Eu sou o livro e a pessoa puxou o livro, se inclinando e me olhando pela fresta. Era uma mulher.

É claro.

A mulher sorriu, sua expressão era de curiosidade. Eu gosto de detalhar bem novas expressões. Suas sobrancelhas eram bem-feitas, negras, com traços bem delicados, o nariz arrebitado, e os lábios era tão preenchidos, eu duvidaria se não era um tal procedimento cirúrgico, mas parecia coisa natural e genética demais. E o último e possível notável detalhe, eras os cabelos castanhos sedosos caindo em cachos sobre seus ombros, contornando sua pele um pouquinho bronzeada demais, ela tem um tom mel de pele. Eu imaginava mesmo mel derretido.

Deslumbrante.

Quando eu vejo coisas deslumbrantes, meus olhos até se projetam melhores, eu enxergo tudo mil vezes melhor. É como um colírio.

- Desculpe. – Falei quase sem voz. Ela negou.

- Eu sou a Bibliotecária. – Falou aquela frase como se justificasse tudo, e sim, parecia tão certo, realmente justificava.

- Eu até citei para a garotinha do banco que fiquei curiosa sobre a bibliotecária. Não esperava te encontrar de maneira tão inusitada.

Ela sorriu torto e contornou a estante de livros, se aproximando de mim e me deixando a olhar completamente como realmente era. Melhor, melhor do que eu podia imaginar.

Estendeu o exemplar no livro que ambas pegamos e eu neguei.

- Tudo bem, era apenas por diversão mental, eu estou bem, acho que já consegui inspiração para a próxima cruzada.

Ela pareceu curiosa sobre do que eu estava falando. Era claro. Ninguém realmente entende nada do que eu falo.

- Aqui.

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