- Mas isso?

- Você não gostou? Posso trocar por outra coisa...

- Não, não é isso. Mas é um presente muito caro.

- Ah... - ele ri. - Seus pais merecem.

Meu pai vai ficar nas nuvens com essa adega. Especialmente porque nos últimos meses ele tem tido aulas de enologia e vive dando seus pitacos sobre vinhos.

- Papai vai pirar com esse presente - digo, quando saímos.

- Você nunca teve vontade, Sarah? - Igor me pergunta, enquanto coloca o cinto de segurança.

- De quê?

- Casar e essas coisas...

- Ah... Acho que não - digo.

Mas eu já tive sim. Eu pensava em casar com Bruno e morar em um loft.

- E você? - pergunto.

- Eu penso - ele diz. - Quero ter uma cozinha bacana... Preparar o jantar num dia frio... Essas coisas - ele ri.

- Uau! - digo e sorrio. - Será que a boa e velha amiga receberá convites para jantar com o casal?

- Depende dela - ele responde.

- Chegamos! - aviso.

Minha mãe está sentada na varanda, usando um vestido azul marinho e sapatos de salto alto. Ela é loira como eu e está usando um corte de cabelos moderno e repicado. Descemos do carro e vamos ao porta-malas retirar os presentes. À nossa frente está o carro de Corina e Malheiros, um casal amigo dos meus pais. Eles descem com uma caixa embrulhada em papel prata, envolvida por um laço enorme. Em um rápido movimento, mamãe se levanta e entra. Logo em seguida, sai de mãos dadas com papai.
Percebo que eles estão fazendo aquele tipo de recepção em que o casal fica na entrada, cumprimentando os convidados e recebendo os presentes. Não é engraçado? Corina dá um abraço na minha mãe e as duas ficam sorrindo e dizendo coisas do tipo "como você está jovem!". Olhando para eles, me pego pensando se é isso que eu quero da minha vida.

- Mamãe! Seu cabelo está ótimo! - digo.

- Você acha mesmo? Resolvi dar uma mudada... Você sabe... - ela sussurra. - Vinte e cinco anos de casamento... A gente tem que dar uma chacoalhada - ela faz um gesto balançando os quadris e eu afasto do meu pensamento a imagem de mamãe e papai chacoalhando.

- Com todo respeito... A senhora está muito bem, dona Helena - Igor diz e coloca no chão a enorme caixa de presente. - Parabéns! Seu Honório... - ele aperta a mão de papai, que o puxa para um abraço de tapas nas costas.

- Obrigado, filho - papai se abaixa para pegar a caixa, mas logo percebe que é mais pesada do que pode carregar. - Opa! Isso aqui é bem pesado - ele diz, arfando.

- Ah, deixa comigo - Igor diz e levanta a caixa.

Eu não sabia que ele era tão forte assim, mas durante o movimento, os músculos do seu braço ficam aparentes. Às vezes é como se eu não o conhecesse totalmente. Quero dizer, Igor talvez seja uma espécie de Clark Kent.
Quando entramos, vejo meus tios e primos na sala. Vovó está sentada na cadeira de balanço, fazendo palavras cruzadas. Seus cabelos são lindos, de um branco quase azulado. Ela ainda adora cozinhar e não admite que mexam em sua cozinha.

- Sarah! - ela diz ao me ver e se levanta com dificuldade para me abraçar.

- Oi, vovó! - digo e lhe dou meu sorriso mais genuíno.

- Querida, será que essa velha aqui ainda terá a emoção de vê-la subir ao altar? - ela pergunta.

- Ah, vó... Não penso nisso agora. Mas a senhora vai sentir essa emoção com as meninas - aponto para as minhas primas, sentadas com os namorados.
-Você sabe que é a minha preferida, não sabe? - ela cochicha.

Do Seu LadoWhere stories live. Discover now