Capítulo 6 - Ah, Eva...

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“Um homem só encontra a mulher ideal quando olhar no seu rosto e vir um anjo, e tendo-a nos braços cair nas tentações que só os demônios provocam”.

— Pablo Picasso

 

Foi muito difícil ter que deixar Eva em Vegas. O curto trajeto até Phoenix foi terrível. Finalmente a ficha tinha caído. A sensação de solidão é angustiante. E só de saber que será assim pelos próximos dois dias meu coração se aperta. Pelo menos terei o trabalho para me distrair.

Chego à suíte do hotel e ligo para Scott para confirmar se tudo está saindo conforme o planejado.

Sim, senhor Cross”, responde Scott. “Sheila foi orientada de suas tarefas e já está ciente da chegada da senhorita Tramell ao hotel. A gerente ficou encarregada de levá-la pessoalmente à suíte presidencial. Instalei em seu notebook uma conexão que lhe dá acesso ao servidor do hotel contendo a listagem de hóspedes e todas as informações necessárias sobre cada um. Assim o senhor se manterá atualizado de todas as entradas, saídas, reservas e cancelamentos”.

“Excelente. Peça a Ben para entrar em contato comigo amanhã após as 10h”.

Claro. O senhor deseja mais alguma coisa?”.

“Não Scott, isso é tudo. Boa noite”.

Boa noite, senhor”.

Desligo. Sheila é a segurança que escolhi para Eva. Ela é uma das minhas melhores funcionárias. Sua competência e sua discrição foram algumas das motivações que me levaram a escolhê-la, além do fato de ela ser mulher, claro. Não preciso dizer por quê.

Tiro o terno e vou direto para o banheiro.

(Música: James Blunt - High)

Já debaixo do chuveiro, reflito sobre como tudo mudou de uma hora para outra. Eva foi um divisor de águas em minha vida. Antes era só eu. Sempre me preocupando comigo mesmo e com minhas necessidades imediatas, sem sequer olhar para o lado. Sempre trancafiado em minha própria solidão, protegido por muros que eu julgava serem inquebráveis. A aura de força e impassibilidade foi um escudo intangível durante muito tempo.

Então Eva apareceu como o sol em um planeta escuro e sem vida. Resplandecente, majestosa e digna de adoração. Ela se tornou o motivo de tudo, a razão pela qual eu deixei de ser aquele homem oco. Quando estamos juntos, sinto como se finalmente tivesse descoberto o porquê de ainda estar aqui. Mesmo trabalhando arduamente, me tornando o que sou hoje, eu ainda ficava me perguntado qual era o propósito da minha existência. Não sou um herói. Não sirvo de exemplo para ninguém. E, além disso, sou um ser humano cheio de falhas e atormentado por diversos demônios.

Durante esses anos eu só existi. Nada mais que isso. E com Eva passei a viver, plenamente. Entendi que o “nós” é o certo. Eu sou quem sou, passei pelo que passei porque, no fim, tudo se resume a ela. De eu ser o que ela precisa e vice-versa. No começo não admiti, mas eu me achava indigno dela. Talvez ainda seja, mas farei o possível e o impossível para reverter isso. Ela precisava de alguém que tivesse condições de amá-la e protegê-la. E esse alguém tinha que ser eu.

Saio da ducha, me enxugo e visto apenas uma calça de moletom. E vou me deitar. Amanhã será um longo dia. Mas não será pior do que dormir nessa cama.

Sozinho.

/***/

Acordei cedo. Aliás, não dormi. Tive dois pesadelos seguidos. O segundo foi tão pavoroso que não consegui mais pregar os olhos. Sonhei que Nathan tinha conseguido pegar Eva. Não esperei pelas 10h e às 8h eu já ligava para Ben para saber das notícias sobre aquele cretino. Não houve novidades. Ele mantinha a mesma rotina. Saía pouco do hotel. Apenas para comprar coisas simples e comida. E sempre com dinheiro. Senti-me frustrado. Alguma coisa estava muito errada, eu podia sentir. Esse silêncio absoluto é muito estranho. Se ele continua no hotel é porque não desistiu. Com certeza vai tentar chantagear a mim e a Stanton novamente. E não me surpreenderia se conseguisse arrancar dinheiro dele.

SÉRIE CROSSFIRE - Livro 2 (Gideon PDV): Profundamente MinhaWhere stories live. Discover now