Cabello

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Você já parou para perceber o quanto o cheiro de livros é bom?

Folheei algumas obras antigas de história na biblioteca local, isso enquanto anotava algumas palavras de significado não tão habituais, mas que levariam pessoas a pensar. Eu estou só, o silêncio do ambiente me fazia tão calma e vivida que aqui é meu paraíso pessoal para criar boas cruzadas. Hoje é sábado.

Quem vai à biblioteca no sábado? Eu.

Não achei a bibliotecária, mas eu também nunca a achava, sempre era atendida pela adolescente loirinha que ficava sentada na cadeira de madeira, escura e envernizada, eu gosto de reparar os detalhes, fazendo uma pose de menina sábia, apenas por auxiliar, seja quem for.

Acenei para ela, que aumentou um sorriso aberto na boca ao se aproximar, eu sabia que biblioteca era local de silêncio, mas estávamos a sós ali, a menina não ia me xingar por isso né?

- Por que eu nunca vejo a bibliotecária aqui? E sempre vejo você? – Perguntei tentando soar o baixo que pude. Ela franziu o cenho para a minha atitude estranha de me curvar na mesa.

- Ela fica lá nos fundos, cuidando dos livros que chegaram, poucas vezes aparece aqui na frente. Por que, quer a ver? Alguma dúvida?

Eu neguei veemente, sentindo meu rosto aquecer.

- Só curiosidade, sabe, eu venho aqui faz quatro meses, e nunca vi ela, até pensei em a denunciar no governo, por não trabalhar, mas eu acho que entendi que ela trabalha no pesado e te deixa sentada no banquinho.

A menina me olhou como se eu fosse uma maluca desvairada. E deu um passo atrás dando um sorriso amarelo. Quem não gostava dos meus devaneios sempre fazia isso.

- É... Precisa de algo? – Perguntou relutante. Eu neguei e a olhei se afastar e sentar no banquinho novamente.

Pessoas

Anotei no papel branco no extremo esquerdo e suspirei. Pessoas são complicadas.

O som estridente de telefone tocando me fez moldar uma careta e olhar em desculpa para a garota que me fuzilava por manter meu telefone com som. Me desculpei com o olhar e ergui da cadeira na mesinha perto da janela da extensa biblioteca que eu ficava. Aproximei da porta principal e levei o telefone ao ouvido, entretida com quem era, enquanto meu corpo foi empurrado por um vulto negro que carregava caixas nas mãos e entrava como um furacão na biblioteca.

Eu nem liguei, apenas foquei na linha.

- Lauren, eu queria te chamar para ir em uma boate.

Tipo isso, as pessoas são complicadas mesmo. Como alguém que nem te cumprimenta faz uma pergunta dessas.

- Oi, Ally. Então, boate, pra que? Comemoração especifica? – Perguntei. Silêncio.

Silêncio.

Esbarrão. Olhei o vulto do corpo que voltou a entrar com mais caixas para dentro da biblioteca. Deve ser a bibliotecária, eu nem olhei, estava em meu drama interno de boate sem motivos.

- Para dançar. E te inspirar a se tornar alguém... melhor. – Ela falou aquilo pausadamente, como se fosse mesmo um assunto sério. Poderia ser um discurso de alguém que está tentando lhe inspirar a ir à igreja, procurar salvação. Mas não, era apenas Ally querendo me chamar para uma boate.

- Tenho mais 7 cruzadas para terminar até meia noite do dia de amanhã.

Silêncio.

- Sabia que os ambientes de boates são inspiradores?

Silêncio.

- Tá bom.

- O que?

Silêncio.

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