Capítulo 08 - Mesmo que haja interferências?

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— Isso — respondi um pouco envergonhado.

— Aconteceu algo? Por que está ligando do celular do Thiago?

— Não aconteceu nada, dona Helena. Bem, eu... só estou fazendo uma pequena vistoria nos números — acabei confessando aquilo e tive que me encolher, tão envergonhado que fiquei.

— Ah... — ela suspirou realmente aliviada. — por um minuto pensei que tinha acontecido algo com ele.

— Nada, ele está bem aqui na minha frente. Rindo da minha cara nesse exato momento. Por eu ter desconfiado até do número da senhora.

Ela riu gostoso, de um jeito afetuoso, era aquela sensação que uma mãe verdadeira passava. Não que a minha mãe não fosse verdadeira, acho que ela tentou ser, me lembro do quanto ela era carinhosa, gentil e prestativa até descobrir que eu era gay.

— Você está certo em se preocupar, Caio. Hoje em dia as coisas estão complicadas, as pessoas não são tão mais confiáveis como antigamente, sabe? Mas o meu Thiago é um menino sério e, pelo que conheço dele, ou ao menos, pelo que ele me deixa conhecer, ele não é do tipo que enganaria alguém.

— Obrigada, dona Helena. Eu também quero acreditar nisso.

— Venha almoçar aqui em casa qualquer dia desses. Sua perna está melhor?

— Sim, eu vou sim. E sim, a perna está cem por cento agora.

— Fico feliz.

— Obrigada, dona Helena. Desculpe incomodá-la. Boa noite. Manda um beijo para Vitória por mim.

— Pode deixar, querido. Boa aula.

Eu desliguei e respirei fundo.

— Que vergonha... — eu sentia meu rosto queimando.

O Thiago fechou o caderno, e passou a guardar as coisas na mochila.

— O que foi?

— Vamos, vou quero te levar em um lugar.

— Não vamos ver os últimos tempos?

— Vai ser só revisão. A gente pode revisar a matéria juntos depois.

Apanhei o meu caderno que eu nem tinha aberto aquela noite e devolvi para minha bolsa.

— Espera, Thi. E o seu celular?

— Fica com ele. Pode continuar com a vistoria quando chegarmos lá.

Eu sorri ao encarar as costas do Thiago se afastando na minha frente. Meu peito se encheu de algo, de confiança, ele era mesmo do tipo que inspirava confiança, eu não podia estar enganado, não tinha porque desconfiar. Nem todos os seres humanos eram cafajestes como o Maurício, e eu queria acreditar que jamais passaria pela dor que a Laura estava passando. Era no que eu iria acreditar, por isso apertei o celular na mão, andei rápido para alcançar o Thiago que já passava na catraca da Biblioteca, e enfiei o celular no bolso da calça dele.

— Ei, tá pegando na minha bunda em público?

Duas meninas que passavam pela gente nos olharam, mas viraram o rosto rapidamente, tentando disfarçar os risos. Dei um soco no braço do Thiago e mostrei língua para ele.

— Só estou devolvendo seu celular, idiota.

O Thiago riu alto enquanto descíamos os degraus em direção ao pátio redondo da faculdade e então ele juntou as duas mãos nos meus cabelos e esfarelou.

— Você tem que parar de ser tão fofo desse jeito, ou qualquer dia te agarro no meio de todo mundo.

— Ei, para, Thi! Tá virando um ninho — eu dei risada.

Entre Sem BaterWhere stories live. Discover now