Capítulo 05 - Mesmo se o mundo desabar?

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Entre Sem Bater

Por Andréia Kennen

Capítulo 05

Mesmo se o mundo desabar?

Saí correndo atrás da Laura, apesar de eu ter sido o prejudicado, era o mundo dela que parecia estar vindo abaixo.

— Laurinha, pelo amor de Deus, espera.

— A culpa é minha, Caio. Minha! — ela gritava, intercalando a exposição da sua raiva entre chutes na porta do carro e as mãos que esfregavam o rosto. — Como eu não percebi? Como pude ser tão estúpida?

— Laurinha, a culpa também foi minha.

— Ele te humilhou, Caio. Como um cara lindo como ele teve a capacidade de ser tão podre? Ele te chamou de garoto de programa! Fui eu quem bati a foto. Vamos pra polícia? Vamos agora. Vamos denunciar esse cafajeste — ela decidiu abrindo a porta do carro e se sentando no banco do motorista.

Mas eu tive que ser mais rápido e pegar da mão dela a chave que ela tentava em vão colocar na ignição.

— E você acha que a polícia vai mesmo dar crédito para dois bêbados? — perguntei. — Apesar de que eu estou bem. Mesmo assim, esse é um problema meu. Eu vou resolver depois. Agora passa pro banco de passageiro. Você não vai dirigir desse jeito. Eu só bebi aquele coquetel no começo da noite, estou em melhor estado que você.

Mantive-me firme, enquanto a Laurinha me encarava com seu rosto encharcado em lágrimas, a maquiagem borrada e os olhos vermelhos arregalados. Mas depois de estremecer os lábios e tentar engolir o choro, ela pulou do banco do motorista para o de passageiro e me deu espaço para entrar.

Respirei fundo, sentindo o vento frio cortar meu rosto. A temperatura havia caído drasticamente. O inverno tinha que mostrar sua cara em uma situação tão crítica como aquela?

Entrei no carro, bati a porta, coloquei o cinto, pedi para bêbada-chorona da Laura fazer o mesmo e partimos. Durante todo o caminho a Laura continuou se lamentando muito pelo ocorrido, querendo saber onde eu havia conhecido o Guilherme e porque ele havia feito algo tão baixo para me machucar. Eu só respondi que explicaria quando ela estivesse em condições de compreender.

Não sei bem o que houve, mas o desespero da Laurinha acabou aplacando o meu próprio.

Deixei-a em casa depois de ajudá-la a trocar de roupa, colocar um pijama e ter certeza que ela havia pegado no sono. Chamei um moto-táxi em seguida. Usei a chave reserva para fechar a casa dela e esperei do lado de fora, tremendo de frio. Estava quase congelando quando o moto-táxi chegou. Andar de moto no frio, só com blazer, foi a pior das ideias que tive, mas eu não estava em condições de pagar um táxi e também não poderia prever que a noite esfriaria tanto.

Quando cheguei em casa dei graças a Deus. Eu estava um verdadeiro picolé. Desci da moto rápido e retirei a carteira do bolso para pagar o moto-taxista quando eu o vi franzir o cenho.

— Olha, moço. Não quero te assustar não, mas tem um sujeito suspeito sentado ali na calçada, encostado no muro.

Senti meu coração vir na boca, mas quando me voltei para trás e vi a moto, deduzi imediatamente quem era.

— Ah, não se preocupa, é o meu colega. Ele deve ter esquecido a chave — justifiquei rápido, dando a nota de vinte reais para o motoqueiro, que abriu a pochete na sua cintura, guardou a nota de vinte e me devolveu dez de troco.

— Tem certeza? Nem dá para ver o rosto direito, moço. E se não for? Se quiser, eu ilumino com a moto até você entrar.

— Não precisa — afirmei e peguei o troco da mão dele, guardei de qualquer jeito no bolso detrás da calça e dei as costas ao moto-taxista. — Obrigado.

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