Capítulo 54

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James chegou ao topo do muro e concentrou-se para manter o equilíbrio e não se espetar nas pontas enquanto passava para o outro lado. Sabia que Kate o observava e isso o deixava nervoso, pois não queria que ela se preocupasse. Não era a primeira vez que ele fazia coisas como essa. Ele podia não ser um assassino, mas um ladrão já fora e sabia ser um bom enganador quando era necessário.

Após ter conseguido chegar ao outro lado completamente intacto, ele suspirou aliviado e começou a descer. Uma das pedras estava solta e ele quase caiu, mas seus reflexos eram bons e ficou apenas pendurado, enquanto tentava encontrar uma pedra firme para se apoiar. Tendo esse como único contratempo na descida, finalmente tocou a grama molhada do jardim pensando em como entraria no prédio sem problemas. Não havia como entrar pelas janelas, pois estas tinham grades. O jeito seria pela porta da frente mesmo.

Para sua sorte avistou um padre indo em direção a entrada principal, então precisava ser rápido. Correu até ele enquanto pensava:

"Que Deus me perdoe."

Antes que o velhinho chegasse perto da portaria, James o nocauteou, fazendo com que ele desmaiasse. Em seguida arrastou-o para perto de umas árvores e vestiu sua batina, pegando na mão a Bíblia, o rosário e o pequeno caderno que ele segurava.

O homem apesar de idoso era alto e a batina quase ficou do tamanho adequado.

Tentando negar o nervosismo, ele aproximou-se da portaria onde havia umas três freiras de plantão atrás de um balcão. Depois de um pigarro, uma delas veio atendê-lo.

– Sim? – a mais jovem perguntou, com um sorriso.

– Estou aqui para ver uma interna – ele disse, tentando manter-se sério, pois reparou que a noviça até que era jeitosa. Recriminou-se por prestar atenção nela, afinal ele amava a sua Sardenta. No entanto, pela força do hábito, ainda levaria um tempo a acostumar-se que era um homem... indisponível agora.

– Que interna? – a moça indagou, pegando seus cadernos.

– Margaret... – Ele fingiu não se lembrar do sobrenome dela.

– Ah, sim, só há uma com esse nome. Desculpe-me, Reverendo, mas ninguém pode vê-la. Ela está na área de isolamento.

– Mas, irmã, a família dela que me enviou. Eles querem que ela se confesse por seus pecados, entende?

– Ah, o pai dela enviou o senhor? – Ela mudou de tom, soando mais amigável.

– Sim. – Garantiu ele.

– Então não há problema, afinal ele é um dos nossos melhores colaboradores. Porém devo avisá-lo que Peggy dorme cedo. Talvez o senhor não consiga falar com ela.

– Sempre é uma boa hora para confessar os pecados, irmã – ele retrucou, tentando parecer rígido.

– Claro, claro, Reverendo. – A noviça fez o sinal da cruz. – Me dê sua benção, Reverendo?

James não fazia ideia do que isso queria dizer, no entanto fez um sinal da cruz na testa dela e disse:

– Deus lhe abençoe, minha filha.

Ficou aliviado por ver que aparentemente era disso que se tratava. Em seguida a moça lhe explicou onde ficava o quarto de Peggy e o deixou sozinho.

Impaciente, ele entrou no quarto e acendeu a lamparina, trancando a porta em seguida.

– Quem é você? – uma voz sobressaltada indagou. Olhando na direção dela, James teve que admitir que o escocês tinha bom gosto. A moça tinha longos cabelos claros e lisos e olhos muito bonitos. Também pode perceber que ela era alta, quase tanto quanto ele e Daniel.

– Fique calma. – Ele garantiu num sussurro, sentando-se na cama.

O lugar tinha pouca iluminação e os móveis eram apenas os estritamente necessários. Havia um cheiro de umidade no ar e ele pensou como um homem tão rico pudesse expor a filha a condições como aquelas.

– Você parece muito jovem para ser padre – ela comentou desconfiada, enrolando-se no lençol.

– Escute, não há muito tempo. Estou aqui para buscá-la. Daniel Hume, a espera lá fora – James disse, sendo rápido e direto.

– Dan veio me buscar? – Os olhos dela se iluminaram e ela soltou o lençol.

– Há algum modo de sairmos daqui sem ser pela porta da frente? – ele perguntou, ao ver que ela já havia se acalmado.

– Bem, podemos sair pelo túnel do lixo. Ele cai diretamente no jardim, próximo à rua – ela explicou, com uma expressão enojada.

– E onde fica esse túnel?

– Na lavanderia, no fim desse corredor. Nesse horário não há movimento no andar. Ele é de isolamento.

– Você está certa disso?

– Acho que vale a pena tentar – ela disse, esperançosa.

Ele fez um gesto afirmativo com a cabeça. Peggy então colocou um casaco e ambos andaram na ponta dos pés, mantendo os ouvidos alertas para qualquer som que pudesse haver.

No entanto o corredor estava deserto e chegaram até a lavanderia com facilidade. O túnel era grande o suficiente para que eles passassem e ainda sobrava espaço. O cheiro era desagradável e James pensou que, definitivamente, aquele forasteiro lhe devia, e muito.

Sem pensar duas vezes os dois jogaram-se no túnel e esperaram que chegassem até o solo.

– Mas que merda! – James exclamou ao cheirar a batina que usava. Sua roupa ainda estava no mesmo lugar em que havia deixado, então se trocou rapidamente e voltou para onde Peggy o esperava.

– E então, onde está Dan? – ela perguntou, ansiosa.

– Do outro lado desse muro. Eu a ajudo a subir. – James assegurou, ao ver o rosto preocupado dela.

Então iniciaram a escalada antes que alguém percebesse a falta de Peggy e começassem a busca. Não havia tempo a perder. Por sorte a missão até agora havia sido fácil.

LIVRO - Vidas Cruzadas - K. Corsiolli (versão não revisada)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora