Capítulo 18

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Kate fingiu que estava dormindo até escutar Bastian fechando a porta atrás de si. Ouviu os galopes do cavalo esvaecendo aos poucos então decidiu que era hora de levantar. Prendeu firmemente o punhal ao tornozelo como de costume e vestiu as calças e as botas. A espada, presa na antiga bainha do uniforme roubado. Comeu uma fruta e saiu correndo com Lúcifer pela floresta.

Bastian passou o dia todo fora, quanto menos tempo ficasse perto de Kate melhor seria para ambos. A relação deles havia chegado a um nível perigoso e as coisas simplesmente não voltam, apenas evoluem, e a evolução nesse caso lhe causava calafrios. Se ele a tivesse em seus braços uma vez sabia que iria querer mais, não podia mais negar que passava da curiosidade seu interesse por ela.

Ele já havia visto tudo que ela possuía fisicamente, no entanto a mente dela continuava na obscuridade e era isso que queria desvendar. Nunca havia conhecido ninguém assim antes, tão cheia de mistérios, tão cheia de soberba e tão.... Tão parecida com ele.

Talvez funcionasse, talvez eles pudessem ter uma relação sem exigências e sem sentimentalismos, afinal, ela havia dito que não queria se envolver.

Quando estava com ela sentia-se livre, pois Kate não questionava nada sobre o modo como ele vivia e nem sequer fraquejava quando ele comentava os absurdos que diziam sobre ele. Ser um homem de poucos, ou melhor, nenhum amigo, o tornava uma pessoa mau-caráter, que escondia algum segredo terrível, mas não era nada disso.

Sua vida era muito mais comum do que gostaria, por isso optou por silenciar toda gota de sentimento e afogar à força toda mágoa presa por baixo daquela figura sarcástica e carrancuda.

Anoitecia quando resolveu parar para uma bebida. Estava num canto solitário do balcão quando viu Walter adentrando o local com uma prostituta de cada lado. O homem era absurdamente nojento, mesmo em plena luz do dia andando pela cidade com suas amantes, enquanto a mãe de Kate estava provavelmente em casa, preparando o jantar para ele.

Sentiu um aperto ao pensar na vida que Kate deveria ter para preferir ficar na casa de um estranho com uma reputação tão duvidosa quanto a dele.

– Olá, Bastian? – Ele bateu no ombro dele, querendo mostrar a todos os presentes que aquele homem não lhe despertava medo algum.

– Como vai a esposa, Walter? – perguntou, sarcasticamente.

– Obediente. Eu sou o homem daquela casa. – Ele sorriu de uma maneira que enojou Bastian.

– Pena não dizer o mesmo da sua enteada, não? – Ele provocou.

– Eu ainda encontro aquela piranhazinha. Ela era uma meretriz mesmo, foi difícil encontrar um homem que quisesse se casar com ela. Embora tenha que admitir que para uma mulher, ela é bem inteligente – disse, enquanto bebia um gole de whisky e oferecia na boca da mulher loira ao seu lado, que ostentava o maior decote que Bastian já havia visto.

– Por que diz isso? – Bastian perguntou, tentando manter a calma ao ouvi-lo insultar Kate daquela maneira.

– O que posso dizer... – Walter fez uma pausa melodiosa. – A garota já andou se enroscando até com os criados.

Bastian suou frio ao ouvir aquilo, não sabia descrever o que sentia, mas não gostava de imaginar um outro homem tocando Kate.

Por que diabos se sentia tão possessivo com relação a ela? Ela não era nada dele e nunca seria, ambos eram livres demais para isso.

– Por que o interesse afinal? Você a conhece? – Walter estreitou os olhos em direção a Bastian.

– Nunca a vi. Apenas ouvi o tal médico falar dela – disse, com a voz firme.

– Ah, sim. – Walter gargalhou. – Aquele lá é um paspalho – debochou, referindo-se a Sheppard, que bebia ali também. – Queria casar-se com ela, mesmo sabendo que ela é uma putinha. Mas eu entendo, afinal ela tem umas curvas deliciosas.

Bastian não podia mais aguentar aquilo e se levantou, pegando Walter pelo colarinho e levantando-o com os dentes rangendo. Todos ficaram paralisados assistindo a cena, já que Bastian nunca conversava com ninguém, muito menos se preocupava com a reputação de qualquer um que fosse.

– Você é um verme, Walter! – disse num tom ameaçador.

– Você também provou um pouco do mel dela, Bastian? – Walter continuava rindo.

Não aguentando mais sua raiva, soltou Walter e lhe deu um soco tão forte que o fez cair sobre as prostitutas sentadas na mesa com ele e, em seguida, deslizar até o chão.

Depois disso colocou seu chapéu e subiu em sua carroça, voltando para casa com seu coração disparado e o sangue fervendo num nível quase explosivo.

Enquanto isso, Walter ficava desconfiado da raiva súbita e do interesse de Bastian por sua enteada. Apesar de inteligência não ser o seu forte havia pensado na possibilidade de Bastian estar escondendo a fugitiva.


LIVRO - Vidas Cruzadas - K. Corsiolli (versão não revisada)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora