Capítulo 46

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James cavalgou rapidamente de volta à sua casa. Precisava preparar-se para pôr em prática seu plano, afinal invadir aquela fazenda, ele já tinha notado, não seria tão simples quanto parecia à princípio.

– A noitada foi boa, não? – Daniel perguntou, sorrindo ao ver James entrar em casa na ponta dos pés pensando que o outro estivesse dormindo.

– Você não devia estar dormindo? – indagou, aos pigarros.

– Você que deveria dormir um pouco, se quiser mesmo ir até o convento em Londres. É uma longa viagem, irmão.

– Eu sei. – Foi tudo que comentou, antes de subir para seu quarto e jogar-se na cama. Precisava dormir um pouco, pelo menos umas poucas horas. Sua Sardenta sabia como persuadi-lo a ficar mais tempo do que havia previsto.

Kate acordou com batidas em sua porta. O sol já estava alto, então ela forçou a visão e, num salto, levantou-se. Percebeu que estava nua, então se cobriu com um robe de seda que acompanhava a camisola. Mal teve tempo de fechá-lo quando Rose, a criada, entrou segurando o vestido que usaria no.... Casamento.

– O que houve contigo, menina! – perguntou a criada, espantada ao notar que Kate estava nua por baixo daquele traje. Ela corou, jogando o cabelo sobre o rosto.

– Nada... – respondeu, por fim.

– Aquele velho tornou a procurá-la? – Rose insistiu, mostrando os punhos e rangendo os dentes. A negra tinha idade para ser avó de Kate e agia como tal, já que tinha ajudado a cria-la.

– Não, Walter não se atreveria de novo – Kate garantiu.

– Pelo bem dele, é melhor que não mesmo. Veja, vim trazer seu vestido, querida. Não é bonito? – Ela mudou de expressão, abrindo um sorriso.

– É... – Kate sacudiu os ombros, olhando apenas de relance para o vestido. – Se tudo desse certo, ela jamais se casaria com aquele inútil do John Sheppard.

– Você deve estar nervosa, não é? Não se preocupe, querida. É normal. Tudo vai dar certo, você verá. Todas as moças ficam nervosas na noite de núpcias.

Não era esse tipo de preocupação que ela tinha. Rose não tinha como imaginar, porém, neste departamento ela já estava bem graduada.

"Espero que dê tudo certo sim. " Pensou, enquanto Rose se retirava e deixava o vestido em cima da cama. Mas não era o tipo d

Olhou em volta, pensando que talvez não voltasse naquele quarto tão cedo. Sorriu tristemente quando começou a colocar o vestido. Ele era delicado e coberto por uma renda trabalhada que evidenciava seus contornos.

Quando se olhou, derramou uma lágrima ao pensar que essa era a última das maneiras que imaginava que seria o dia de seu casamento. Rezou para que conseguisse fugir, então teve uma ideia para facilitar sua fuga.

Desceu as escadas correndo, à procura de Ibrahim, mas seu caminho foi interrompido por sua mãe, que queria conversar com ela a sós. O rosto dela estava inchado em torno de um dos olhos, fazendo com que Kate sentisse vontade de estourar os miolos de Walter de uma vez por todas. Não entendia porque sua mãe se submetia a ele dessa maneira.

Que espécie de amor doentio a prendia a tal canalha?

Por fim, Dorothy a abraçou e lhe desejou que fizesse um bom casamento. Também lhe deu "conselhos" sobre a lua-de-mel, mas mesmo que ainda fosse virgem, os conselhos de Dorothy não lhe serviriam, pois basicamente ela disse que a mulher devia se submeter sempre que o marido quisesse. Que nada devia fazer, devia apenas esperar que ele fizesse o trabalho e pronto. Kate apertou a mãe com força, sentindo o perfume de seus cabelos loiros presos num coque para que pudesse guardar na mente uma boa lembrança dela enquanto estivesse fora. Também desejou que algum dia sua mãe abrisse os olhos e se libertasse daquela vida. Dorothy ela ainda uma mulher muito bonita e de aparência jovial apesar de ter mais de quarenta anos e ter tido uma vida sofrida desde que se envolveu com Walter. Ela merecia mais que aquilo. Mas cada um aceita o amor que acha que merece.

Logo depois disso, tomou fôlego e conseguiu conversar com Ibrahim de forma reservada, pedindo-lhe que preparasse uma boa carruagem para ela e desse um jeito de manter os guardas distraídos durante o casamento. Havia pouco tempo para fazer planos, tudo que podia fazer era esperar que tudo corresse bem e ela não precisasse casar-se.

– Finalmente vejo a noiva! – Uma voz atrás de si ressoou. Ela virou-se abruptamente, dando-se de cara com ninguém menos que John, o desprezível noivo que a tomava. Desejou que realmente fosse verdade que ver a noiva antes da cerimônia trazia azar ao casamento.

– Sempre soube que você seria minha, Kate. – Continuou.

– Não tenha tanta certeza disso. – Ela deu um sorriso maldoso. – Sabia que dá azar ver a noiva antes do casamento?

– Mas já está na hora do casamento, querida – ele respondeu num sorriso débil, revelando um dente de ouro. John achava fino possuir um desses, mas Kate ficou ainda mais repugnada com aquilo.

As roupas que ele usava, no entanto eram bonitas, era uma pena que o noivo que estava dentro delas não era do seu interesse. Se fosse James usando aquilo, certamente ela teria pulado nos braços dele. James, onde estaria? Chegaria a tempo de resgata-la daquele destino cruel? Suas mãos estavam geladas e suadas, seu coração palpitava e ela sentia náuseas de tanto nervosismo e ansiedade que sentia. Não sabia como ainda podia sentir náuseas sendo que já tinha colocado para fora todo o café da manhã, pouco tempo atrás. E por mais nojento que soasse, ela nem havia se preocupado em limpar os dentes, pois se fosse em último caso obrigada a beijar John, ao menos o gosto que ele sentiria seria o de seu vômito.


LIVRO - Vidas Cruzadas - K. Corsiolli (versão não revisada)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora