Capitulo 6

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Agora eu moro numa outra casa, num outro planeta, num outro ambiente.

Se passaram dez anos desde aquela fatídica noite, e doze desde minha audiência no Olimpo.

Eu descobri quem foi o autor daquela desgraça. Se eu me vinguei dele? Ainda não. Mas ele não perde por esperar. Seus dias estão contados.

Quem é? Ora, ainda é cedo para revelar. Mas uma coisa eu posso dizer, ele vai se arrepender amargamente.

Deve estar se perguntando: onde você está? O que aconteceu depois daquilo?

Bom, minha mãe ficou louca, Paul tentou se matar várias vezes e eu fui adotado por Caos.

Depois daquilo, mamãe não me reconhecia mais, nem ao Paul, e ficava perguntando onde estava Ally, que aliás ela também não sabia quem era. Paul ficou furioso. Tentou matá-la e quando eu não permiti isso, tentou me matar. E quando ele viu que não conseguiria, pegou uma arma e mirou na própria cabeça. Eu não deixei ele se matar. Mas as coisas só foram de mau a pior. Várias vezes por dia, quando não havia ninguém olhando, ele procurava uma forma de acabar com a própria vida.

Quanto ao lugar, hoje estou em Aureum, o planeta do ouro. Em outras palavras, estou no planeta de Caos, o grande deus primordial do universo, criador de tudo.

Como eu vim parar aqui? Simples: eu tava me afogando nas minhas mágoas e ele apareceu e me fez uma proposta.

Foi uma semana depois que mataram minha vida, eu estava sentado em um bar, jogando pragas em todos os deuses de que me lembrava. Eu nunca fui do tipo de pessoa que bebe, na verdade, foi a primeira vez que eu bebi álcool.

Estava lá, pensando em como eu me afundei completamente. Tinha saído do hospital psiquiátrico fazia algumas horas, tinha ido visitar mamãe e Paul. E na volta sentei na primeira cadeira que vi. Nem tinha dinheiro, mas mesmo assim pedi ao garçom que trouxesse sua bebida mais forte e assim ele fez. Já estava vendo tudo dobrado quando alguém se sentou na cadeira à minha frente. Forcei os olhos e quando não reconheci a pessoa, xinguei de todos os nomes possíveis. Vai que era um monstro e acabava de uma vez com o meu sofrimento e de brinde com a minha insignificante vida de semideus.

- Não deveria descer tão baixo assim, semideus.- disse o estranho com uma voz forte e imponente.

- Isso nãooo é da zua conta.- dizia com a voz indo e vindo. Típico de uma pessoa bêbada. Tentei cambalear para fora da minha cadeira e ir embora, mas o indivíduo apenas fez um gesto com a mão e eu voltei ao meu lugar, não, fui lançado de volta ao meu lugar.

- Eu só direi uma vez, Perseu, então preste atenção.- como num passe de mágica, a tontura e até mesmo o bafo causados pela bebida foram embora. E de repente eu estava completamente são do que dizia.- Não suporto gente bêbada. Essa droga não serve para absolutamente nada. Apenas para gastar o dinheiro que as pessoas não têm. E falando nisso, como pretende pagar sua conta aqui no bar? Ou o hospital onde sua mãe e seu padrasto estão internados?

Ele estava certo. Depois daquela noite, descobri que as contas da mamãe e do Paul estavam zeradas e bloqueadas. Quem fez aquilo tinha pensado em tudo. Sem dinheiro, eu não poderia cuidar deles e nem mesmo de mim. Mas eu ia dar um jeito. Ainda havia esperança. Eu sabia que se tinha uma deusa que não me deixaria na mão, essa seria Lady Héstia.

- Tem razão, garoto, ainda há esperança.- olhei para ele. Não era um mortal comum, disso eu tinha certeza. Se podia ler minha mente, devia ser um deus bastante poderoso, ou algum titã, ou gigante. As possibilidades eram infinitas. O encarei desconfiado, eu podia sentir sua áurea. Era de um poder imenso.

Então me toquei de que já havia sentido aquele poder antes. No acampamento, quando Hermes nos levou para o Olimpo, na própria audiência com os deuses, na praia depois da conversa com Poseidon. Aquela sensação de estar sendo observado por algo grande. Agora eu estava em frente à pessoa que carregava aquele poder. Mas quem era ele? Vestia um terno negro como a noite, seus cabelos negros azulados iam até nos ombros, sua pele branca era pálida e ao mesmo tempo muito viva, e seus olhos pareciam conhecer todos os meus segredos. Ao olhar dentro de seus olhos negros, vi toda a minha vida passar em um flash.

- Sou Caos, Perseu, não se preocupe. Eu vim para ajudá-lo e fazer-lhe uma proposta.- ele sorriu para mim, me deixando mais à vontade.

Eu sabia que deveria me curvar e agradecer por sua atenção. Mas eu não faria mais isso. Cansei de me curvar perante deuses.

- Não é como se precisasse mesmo se curvar para mim. Reverências me fazem sentir velho.- ele sorriu ainda mais.- Você é corajoso, garoto.

- Pare de ler minha mente.- cruzei os braços. Já estava com os pensamentos no lugar. Podia pensar claramente e não queria ninguém invadindo minha privacidade.

- Sim, sim, erro meu, desculpe.- ele sorriu.

- Você não vai parar, não é?- perguntei e ele apenas balançou a cabeça, ainda com aquele maldito sorriso. Cruzou os braços e me encarou divertido.- Como você me ajudaria? Se minha mãe e Paul não puderem ficar naquele hospital vai dar na mesma. Eu posso deixar ele matá-la e tudo isso vai acabar. Se quer mesmo ajudar, me mate. Simples assim. Me dê de comida a Zeus, aposto que ele vai adorar.- eu disse ríspido.

- Você quer mesmo dar esse gostinho para ele? Mostrar que depois de tudo o que você passou vai desistir logo no final? Tudo bem.- ele se levantou. - Mas se você estiver morto não poderá se vingar daqueles que mataram sua irmã.

- Você sabe quem foi?- perguntei me levantando também.- Diga-me quem fez aquilo com ela.

- Acho que você já sabe quem foi, Perseu. Você apenas não quer aceitar. Mas vamos a minha proposta: venha comigo.

- O quê?!- perguntei completamente perplexo. O que o senhor do universo iria querer comigo?

- Eu quero que você seja meu braço direito, o comandante do meu exército, e talvez até mesmo meu filho. Você pode trazer sua mãe e seu padrasto. E eu posso tentar recuperar a sanidade deles. E você descobrirá tudo sobre a morte de sua irmã.- ele olhava em meus olhos.- A menos que ainda queira a sua primeira opção: mostrar a Zeus que ele venceu. Claro que se você quiser, eu vou embora e você nunca mais saberá de mim.

Tocar na morte da minha irmã foi uma jogada de mestre. Ele sabia que eu jamais admitiria que Zeus venceu. Que eu fui derrubado.

Olhei em seus olhos e disse a frase que mudaria minha vida para sempre:

- Eu aceito.

Percy Jackson: O Vingador De CaosWhere stories live. Discover now