Capítulo 1

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Era mais um dia sombrio e farto em Oxford, como nos dias atuais, a rotina é a mesma, meu irmão trabalha dia e noite para colocar comida na nossa mesa, a qual já se encontra em estado deplorável, mamãe já não suporta viver a vida que estamos levando nesse lugar, se pelo menos houvesse uma saída, uma solução, mais não há nada, e apenas nos conformar é a única opção, se quisermos viver mais uns anos.A crise vinha atacando aos poucos, as pessoas foram procurar empregos em outros lugares, alguns ainda mantém a fé que isso poderá se resolver, outros já não tem mais esperanças.

Vivi minha vida toda neste lugar e jamais imaginei algo tão trágico, chegando a ser assustador, acontecer com esta cidade, Mississipp nunca sofreu com esse tipo de coisa, sempre acreditamos na força política que nos eram oferecidos, e de repente tudo mudou e estamos vivenciando o que hoje podemos chamar de: miséria.

É triste, é difícil de aceitar, mais é o que nos resta e nada pode mudar. Oxford está falindo lentamente e acabando com a vida de milhares de pessoas.

Olho ao redor da pequena casa coberta por pó, as paredes rachadas, o piso desgastado cheio de buracos e mais buracos. O telhado velho, a porta amarela já não tem o mesmo tom de dez anos atrás, ela parece que se foi junto com as lembranças do passado, onde um dia eu fui feliz, onde plantei todos os meus sonhos, e hoje vejo que tudo mudou, e meus sonhos foram arruinados, ou melhor destruídos.

Ouço todas as noites minha mãe chorar, meu irmão mais velho quebra o pouco que tem pela raiva, pelo ódio, e se julga inútil, e eu? Simplesmente me afogo nas dores deles, porque é isso que me resta. Tentei procurar empregos, deixei currículos, a minha única sorte é que tenho meu curso de telemarketing e administração que fiz numa empresa pública que abriu para tentar amenizar a crise que se alastrou, e mesmo assim foram poucos os que conseguiram um emprego fixo, e os que tentam até hoje desacreditaram friamente que poderiam mudar essa situação.

Eu tentei, juro que tentei e sabe o que consegui? Nada, simplesmente nada. Rodrigo é o único que tem o emprego fixo aqui em Oxford, mais ele não conseguiu receber um salário, ele trabalha como funcionário numa fábrica de produtos alimentícios, e uma vez ou outra ele ganha de brinde extra uma cesta básica, o que para nós é a salvação. Mamãe está doente, com depressão e os remédios são caros, e meu irmão faz de tudo para separar as dividas e as despesas de mamãe, ela já não trabalha mais, desde que papai se foi para um lugar melhor ao lado de Deus, ela perdeu as esperanças de ser feliz, eu sou a única que ainda sente que pode haver uma esperança, que tudo pode mudar pra melhor.

- Eu não aguento mais isso! - Meu irmão entra batendo a porta com força.

- Tudo pode melhorar é questão de tempo. - Falo sentindo um novo nó se formando em minha garganta.

- O que você acha que pode fazer? - Ele fala respirando fundo - Não há nada para fazer nesse fim de mundo! - Diz tentando ficar calmo.

- Eu vou tentar em outro lugar, sei lá, mais vou tentar, Rodrigo nem tudo é o fim. - Tento segurar as lágrimas, me dói vê-lo tentar e não conseguir, e me sinto ainda mais culpada por isso.

- Me diz quantos currículos você já entregou? - Ele pergunta baixo.

Fico em silêncio. 

-Muitos não é...-afirma. Suspiro cabisbaixa.

- Uns trinta, mais sei que vou conseguir você vai ver. - Digo firme. E o  abraço.

- Liza a gente nunca vai ser feliz, a gente nunca vai conseguir sair dessa! Oxford já era. - Ele diz com a voz embargada.

- Tem que haver alguma saída, Rodrigo vamos ter fé! - Minhas lágrimas caem.

-Olha pra mim, a gente nunca vai sair dessa.- Ele diz triste pausadamente e vai embora para o quarto.

-DROGA! EU ODEIO ESSE LUGAR! ODEIO ESSA VIDA! - Grito e caio de joelhos no chão- Papai cadê você que não está comigo quando mais preciso? - Falo baixo enquanto as lágrimas tomam conta de mim.

Ele tem razão não há nada pra fazer nessa droga de lugar, mais a esperança é a única que morre, não posso desistir, tenho que ser forte uma vez na vida, pelo menos uma vez.

***

Saio pelas ruas esquisitas de Oxford, tudo aqui parece sem vida, sem cor, o céu cinza deixa tudo frio, as ruas pouco movimentadas, pessoas com necessidades desmaiadas pelas calçadas, enquanto parentes estão sofrendo ao redor. Essa foi a maior crise de todos os tempos, ninguém nunca havia passado por isso, tudo parece querer nos afundar num mar sem volta, ou pior que isso.

As dores nos rostos das pessoas, a fome, as doenças que tendem a surgir, isso não é lugar para morar, não é lugar para viver.

Chego em uma cafeteria, o lugar parece bom para trabalhar, as pessoas que costumam frequentá-lo parecem com boas condições, não custa tentar.

-Pois não? - Diz um homem um pouco mal-humorado, acho que seja ele o dono do estabelecimento.

-Bom... eu queria saber se você precisa de algum funcioná... - Ele me interrompe.

-Não tenho nada pode ir embora. - Diz grosso.

-Mais eu só... - Novamente ele não me deixa falar.

-Já disse não há nada, e se você não sair agora, vou chamar a polícia! - Fala com um olhar assustador.

Saio rapidamente, tudo que eu quero agora é um emprego e não problemas. Mais ele não precisava ser grosso, pelo menos tentei.

Ando por todos os estabelecimentos que existem em Oxford, e nada .Quando penso em desistir vejo uma lanchonete.

- Ó meu Deus me dê forças! - Peço.

Já é noite e tudo esta quieto demais, já se passa das oito horas, vejo algumas pessoas passando e penso, porque não ir? Meus pés caminham em direção ao lugar e logo adentro o mesmo, onde se encontra apenas um homem um pouco velho com dois casais, pelo menos não estou só.

Me aproximo do balcão e o homem me olha de cima a baixo. Sinto medo e decido sair dali, algo me diz que isso não está certo.

-Onde vai docinho?- Pergunta o homem.

Meu coração acelera compulsivamente, e os casais olham e percebem que estou com medo, e saem.

-Nada eu ... preciso ir.- Falo e corro.

Corro como nunca, e ouço quando o homem diz que ainda vai me encontrar. Meu Deus onde fui me meter?

Avisto a minha casa e entro assustada, meu irmão me olha confuso .

- Aconteceu alguma coisa, Liza?- Perguntou.

-Não!-respondo ofegante-Eu vou pro meu quarto.- Falo indo para o mesmo, ele dar de ombros e volta a tomar café com a mamãe que apenas me olhou sem vontade e voltou a tentar comer.

Entro no quarto e bato a porta me encostando na mesma.

-Nunca mais faço isso sozinha- Falo ofegante.

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