Capítulo 31

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Alguns dias se passaram e Bastian continuava evitando falar sobre Kate. Daniel tentava trocar algumas palavras com ele, mas era praticamente uma missão impossível, já que o mesmo passava o tempo todo trabalhando como um louco. Daniel apenas exterminava seu estoque de bebida e pensava em como iria até Londres, já que não tinha dinheiro algum e nem forma de consegui-lo já que seu anfitrião não era exatamente a companhia adequada para um forasteiro tentando se estabelecer.

Bastian passava suas tardes trabalhando de sol a sol, incansavelmente, porque tentava esquecer Kate, mas seu pensamento estava preso a ela de uma maneira insuportável. Ficando cansado daquela situação, Daniel foi tentar fazer uma última tentativa de convencê-lo.

Suado e queimado do sol, já que havia tirado sua camisa, Bastian pregava umas cadeiras quando foi interrompido pela presença de Daniel.

– Você não vai esquecê-la nem que faça móveis novos para todas as casas de Londres. – Daniel alfinetou, parando ao lado dele com os braços cruzados.

– Não sei do que você está falando – ele disse, ignorando a presença zombeteira do outro.

– Sabia que você é um homem de sorte? Muitas pessoas passam a vida toda procurando pelo amor e, no caso, você foi encontrado por ele. Isso só acontece uma vez, meu caro. Não disperdice.

– Você é alguma espécie de poeta, por acaso? – Bastian se levantou perguntando num tom irritado e claramente retórico.

– Acertou!

– Bem, fique com seu amor e eu fico com meu trabalho... – Ele balançou a cabeça e deu um sorriso seco.

– Quando vai aceitar minha proposta? Eu atiro bem e você tem o transporte. Podemos ambos nos ajudar.

– E por que diabos eu ajudaria você? – Bastian perguntou, aproximando-se dele, quando ouviu o galope de um cavalo que distraiu sua atenção.

Ambos olharam para o homem que vinha na direção deles. Bastian se aproximou e o homem moreno de feições exóticas desceu do cavalo e apresentou-se:

– Olá.... Você deve ser Bastian, suponho. Eu me chamo Ibrahim Jarrah e sou um dos guardas da propriedade da Srta. Bennet.

– Ela mandou você aqui? – Bastian deixou uma leve ruga de interesse escapar entre suas sobrancelhas.

– Não. Na última vez em que a vi, ela me contou em segredo onde estava escondida. Sou um dos poucos remanescentes de quando o pai dela era vivo. E um dos poucos no qual ela confia, então achei que devia alertá-la. Onde ela está?

– Alertá-la de quê? – Ele perguntou impaciente. Ibrahim aproximou-se dele, falando num tom cauteloso.

– Escute, Kate se acha muito esperta, mas Walter a enganou dessa vez. Não é a propriedade que ele venderá.

– O que quer dizer com isso? – Bastian pigarreou um pouco, começando a sentir um aperto de preocupação no estômago.

– Walter venderá Kate. Já fez um acordo com um tal de Sheppard. Assim que ela chegar galopando e amaldiçoando Walter, ele acertará a compra. Irá livrar-se dela, para fazer com a propriedade o que bem quiser.

– Sheppard? – Ele pensou de onde conhecia aquele nome, então se lembrou de um médico chamado John Sheppard que havia lhe dito que se casaria com Kate. Seu sangue começou a ferver ao pensar como aqueles dois vermes poderiam negociá-la como se fosse apenas um objeto e não uma pessoa. Tentando se acalmar, ele disse com uma voz baixa:

– Ela sabe se cuidar, tenho certeza que não irão pegá-la.

– Não fique certo disso, a fazenda está cheia de homens da confiança de Walter, que não hesitariam em dar um tiro nela. Avise-a para não ir até lá sozinha.

– Bem.... Há um problema – resmungou, tentando negar o pânico que o invadia.

– Que problema?

– A garota já foi há dois dias – Daniel respondeu por ele.

– Isso é impossível! Ela não pisou na fazenda, tenho certeza disso. E ela não se perderia na floresta.

– Talvez ela tenha se atrasado e ainda possamos alcançá-la – Daniel sugeriu, olhando para Bastian num tom ameaçador, como se dissesse "é agora ou nunca."

– Nesse caso cheguei tarde, preciso voltar e tentar encontrá-la. Ela não pode encarar Walter nessa situação.

– Mas e a mãe dela? Permite isso? – Bastian jogou o cabelo para trás, aumentando o tom de voz como se fosse culpado pelo perigo que ela corria.

– A mãe faz tudo que Walter quer, ela finge que não vê as maldades dele – Ibrahim explicou friamente, e então continuou:

– E então.... Vocês me seguirão até a fazenda?

Daniel olhou para Bastian com expectativa e Ibrahim fez o mesmo.

Este resmungou e exclamou algum palavrão em silêncio, e então disse:

– Ela pode esperar o tempo de eu me limpar e me trocar.

Seguiu até a casa arrastando os pés e tomou um banho rápido.

Enquanto isso, Ibrahim e Daniel o esperavam do lado de fora. O escocês sorria sozinho, fazendo com que o outro lhe desse um olhar curioso. E antes que perguntasse, Daniel o fez:

– Eu estou tentando convencê-lo a ir atrás dela há dois dias. Você conseguiu em dois minutos. Touché – disse, erguendo a garrafa de rum e bebendo mais um pouco.

– Não devia beber tanto. Como ficará em cima do cavalo? – Ibrahim perguntou ironicamente.

– Nem sequer tenho um cavalo, meu caro. – Vendo o olhar inquisitivo de Ibrahim ele respondeu. – Longa história.

Sem que tivessem tempo de conversar mais, Bastian fechou a casa e disse:

– Assim que as moças estiverem prontas, me avisem.

Selando o cavalo, ele preparou-se para a busca enquanto Ibrahim se levantava da grama e fazia o mesmo.

– E você? – Bastian olhou para Daniel, que continuava sentado com sua garrafa de rum.

– Não tenho cavalo e você não aceitou minha proposta, irmão.

– Está bem. Suba logo antes que eu mude de ideia – ele resmungou impaciente. Daniel sorriu, subindo no cavalo junto com ele.

– Sem gracinhas, está bem? – Ele avisou num tom ameaçador.

– Relaxa, parceiro.

Ibrahim apenas olhou para eles com aquele semblante sério de sempre e seguiu seu caminho, fazendo com que os outros dois o seguissem.

Galopando pela floresta por várias horas, os três, que até então estavam em silêncio, começaram a ter qualquer conversa inútil para evitar prestar atenção no som sinistro do vento e na escuridão que tomava conta da floresta aos poucos.

Bastian estava começando a ficar com sono e quase cochilou em cima do cavalo, porém um resmungo de Ibrahim o fez acordar.

– Não estamos a sós – ele disse num tom baixo e cauteloso, olhando de relance para Daniel e Bastian.

– Do que está falando? – perguntou Bastian, enquanto tentava se concentrar no que ele dizia.

– Ouve isso? – perguntou o árabe. – Há mais um cavalo por aqui.

– Você está precisando dormir, Ali Baba...

– Shhh... – ele sussurrou e começou a galopar em outra direção. A contragosto, Bastian o seguiu aos resmungos e seus olhos se abriram intensamente ao ver que Ibrahim tinha razão. Havia um cavalo parado perto de uma árvore, tão quieto, tão imóvel que parecia não ser real. Não era um cavalo qualquer... Era o cavalo de Kate.


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O que será que aconteceu com Kate? Gostaram do capítulo? Amanhã tem mais lyndezas <3

LIVRO - Vidas Cruzadas - K. Corsiolli (versão não revisada)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora