T h i r t y - F o u r

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T h i r t y – F o u r

{Sugestão Musical; Not in that way, Sam Smith}

Elaine

A tristeza é um sentimento que só por si nos deixa a boiar no vazio. Milhares de sentimentos negativos a acompanham, e todos eles nos proporcionam um sentimento muito maior e tão complicado de descrever. Tratasse de algo que nos faz sentir tudo e nada, é uma montanha russa de emoções; subir ao ponto mais alto para desoladamente tropeçares e chegares á estaca zero, novamente. E isto repete-se num ciclo vicioso. É complicado compreender, mas é algo com que temos de viver.

Segundo Parménides, um filósofo do século VI antes de cristo, o universo estava dividido em pares contrários: quente-frio, felicidade-tristeza. Um polo positivo que atraía o bom, por assim dizendo, e o outro era negativo que por sua vez atraía o mal. Na minha vida, sinto que esses dois polos se encontram numa partida de ping pong, tudo está bem quando a bola está no polo positivo, mas em milésimas de segundos é passada para o polo negativo e tudo se desmorona. Com o polo positivo cheguei ao topo da montanha, mas o polo negativo é o vento que me faz tropeçar e cambalhotar montanha abaixo. A minha vida era vivida no polo negativo, mas então chegou Niall e passei para a mediana dos dois polos. A nossa relação evoluiu e senti-me no polo positivo, estava no pico da felicidade. Depois, de maneira dolorosa caí e voltei ao polo negativo.

Era uma dor forte, fazia-me querer sair á rua e gritar até as minhas cordas vocais se quebrarem ou por ventura se emaranharem como uma rede de pesca. Sentia-me vazia, como se tivesse acabado de morrer e me tivessem tirado todos os órgãos do corpo. No entanto, sentia-me pesada, como se sobre mim carregasse o universo inteiro. Era um sentimento extremamente sufocante, sentia o ar a ser-me roubado descaradamente. Queria arrancar os meus próprios cabelos, queria cozer a minha boca para nunca mais poder dizer algo de errado. Queria cegar-me para nunca mais ver algo que me pudesse magoar, queria prender os meus membros para não poder magoar-me a mim própria. Mas no final, eu não queria nada, não fazia nada, não sentia absolutamente nada para além do vazio.

- Não achas que já chega? – Harry perguntou olhando-me zangado quando me viu tirar o quinto cigarro da caixinha branca e vermelha.

- Deixa-me me paz, Harry. – Sussurrei. – Por favor, eu só preciso de ficar sozinha.

Os seus dedos misturaram-se com o seu cabelo frustradamente, e no momento seguinte ouviu suspirar negando enquanto me olhava.

- Não Elaine, eu não te vou deixar sozinha neste quarto. – Respondeu firme. – De maneira nenhuma, tu estás num estado alterado e nunca se sabe o que podes fazer.

- Espero que não me estejas a chamar de louca. – Sussurrei com a voz falhada, estava a fazer de tudo para não chorar mais, eu queria ser forte.

- Laine sabes que não é isso que eu estou a dizer. – As suas mãos tocaram na minha face. – Eu apenas não quero que faças algum disparate de cabeça quente.

Respirei fundo e voltei-me para a janela novamente colocando o cigarro na boca preparada para o acender. A mão enorme de Harry alcançou o cigarro da minha boca e com ele levou a caixa de tabaco.

- Já chega, caramba. – Falou rudemente. – Eu posso deixar-te sozinha, mas sem o tabaco.

Dito isto virou costas e saiu do quarto batendo a porta com força. Assim que ele saiu escorreguei pela parede pálida até cair sentada no chão. Revia-me novamente onde tudo começou, revia-me novamente nas tardes em que passava a chorar encostada á parede do quarto, um cigarro na mão e uma lâmina na outra. Sentia falta desse tempo, parece idiota dizer isto devido às circunstâncias, mas naquele tempo eu não tinha memórias frescas da felicidade e por isso não doía tanto assim. E o mesmo não acontecia aqui, eu estava feliz á três dias atrás, estava feliz ontem, e hoje estou aqui, caída em pedaços de volta ao passado.

Racism | njhOnde as histórias ganham vida. Descobre agora