T h i r t y - O n e

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- Não, o que é? – Questionei.

- As gémeas querem passar o próximo fim-de-semana na fazenda delas e convidaram-nos. – Afirmou. – Basicamente, a família delas tem uma vida bastante boa, a todos os níveis. São pessoas simpáticas, chegam a ser meio hippies e tudo. O Zayn contou-nos que a primeira vez que conheceu a mãe da Anna, pensou sinceramente que a mulher tinha fumado umas ganzas porque ela não dizia coisa com coisa. – Gargalhou.

- Não sei se posso. – Sussurrei pensativa. – É o meu aniversário, no Sábado.

Niall desentrelaçou as nossas pernas, e á velocidade de um relâmpago colocou-se sobre mim apoiando o seu peso com os antebraços pousados em cada lado da minha cabeça. A sua testa estava ligeiramente franzida e ele olhava nos meus olhos seriamente.

- Será que tu poderias começar a avisar-me das coisas com mais antecedência? – Perguntou. – Quer dizer, quando é que tencionavas dizer-me?

- Só não achei relevante. – Sussurrei sentindo a minha respiração descompensada pela distância reduzida a que nos encontrávamos.

Ele mordiscou o seu lábio e arqueou uma sobrancelha.

- Não é relevante? Estamos a falar do aniversário da minha crush. – Sussurrou.

Paralisei com as suas palavras e apenas mordi o meu lábio inferior tentando esconder o sorriso idiota que teimava em nascer no meu rosto. Um calor estranhíssimo atacou o meu estômago, e mais uma vez senti dragões a esvoaçar pelo meu interior numa corrida inextricável.

- Crush? – Sussurrei sentindo as minhas bochechas a aquecer.

- Yap, crush. – Murmurou ele com um sorriso trocista a bailar nos seus lábios rosados.

Fiquei a encará-lo por extensos segundos, não sabia o que dizer, estava envergonhada com toda a sua atenção posta em mim, com as suas palavras queridas e com a sua proximidade de mim.

- Certo, então e o que é que queres como presente? – Perguntou.

- Presente? Não quero nada, Niall. – Murmurei sem jeito.

Ele negou com a cabeça enquanto estalava a língua no céu-da-boca, fazendo-me gargalhar. Era um som engraçado.

- Eu vou comprar na mesma. – Encolheu os ombros, deitando-se a meu lado novamente, para minha infelicidade.

{...}

Os seus lábios eram como pétalas de rosas, eram macios com um sabor adocicado de morango misturado com melancia. Sentia-os nos meus lábios, que por sua vez se encontravam ásperos e frios. Eu estava coberta de gelo. Conseguia ver o meu interior pintado de um negro angustiante, via mãos a saírem pelo meu interior de um cinzento cristalino, com uma textura translucida. Com as mãos demoníacas gritos eram vozeados a cada mão que me rompia. Todavia, como se de um cego ou surdo se tratasse o rapaz de cabelos loiros e lábios doces continuava junto de mim com os seus lábios presos aos meus. Como se tivessem sido colados, para se manterem unidos para a eternidade. 

Espinhos de gelo de uma cor azul esbranquiçada começavam a crescer em meu redor como uma armadura, um muro defensivo usado por medievais em batalhas com os seus inimigos. O rapaz indefeso teve então de largar os meus lábios, mas nem assim se afastou e por entre os espinhos gélidos e pálidos, esticou a sua mão agarrando a minha mão escura e pesada. Como que guarda-costas apareceram pássaros de um negro alcatrão que perfuraram o chão e espetaram o seu bico de metal laminado no corpo esquálido e sensível do rapaz. Ele gritou. Eu gritei. E os pássaros riram na sua linguagem.O desespero tomou conta do meu corpo quando os seus olhos azuis se encontraram com os meus de um castanho-escuro e apagado. Vi o azul a ficar mais escuro, passando de um azul céu, para azul petróleo, e de azul petróleo para negro. Espíritos malignos cromatizados por um cinzento-escuro renasceram tapando o seu corpo como uma muralha indestrutível. Á sua volta crescera grades de pedra roxa, pareciam escaldar ao toque, pareciam ser venenosas. Sentia-me perdida e completamente desnorteada por vê-lo congelar assim como me acontecera a mim em pesadelos passados.

Racism | njhWhere stories live. Discover now