Lar

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"Oh, casa!
Me deixe ir para casa
Casa é qualquer lugar que eu esteja com você"

(Edward Sharp and The Magnetic Zeros - Home)

- Ufa! - exclamei com um suspiro assim que tocamos os pés no chão e Brielle me olhou, intrigada.

- O quê?

- Estou aliviado. Arrisquei a vida beijando uma garota no galho mais alto de uma árvore, sendo que ela costuma empurrar os garotos de cima dos galhos assim que os beija. Tipo uma viúva negra dos beijos.

Brielle gargalhou e me atacou com um monte de tapinhas e cócegas.

- Seu chato! Hahahaha Foi só uma vez!

Acabamos de enfeitar as árvores e nos juntamos às outras pessoas perto de um pequeno tablado em um espaço onde a grama começava a dar lugar para a areia da praia.

Havia uma mesa cheia de sanduíches e jarras ali, a vó Jenna já estava lá dando broncas em vô Oliver que só sorria divertido. Assim que nos viu, parou um pouco meio que nos analisando, sabia que eu estava ficando vermelho pensando se ela desconfiava que sua neta e eu estávamos nos beijando enquanto devíamos estar trabalhando. Afinal, aquela era a avó de Brielle e provavelmente também teria poderes especiais, como a neta.

Brielle foi até ela e a abraçou, a senhora deu de ombros e a abraçou de volta e nos mandou comer.

Um casal de meia idade usando roupas de estampas florais, óculos escuros e sandálias - a perfeita imagem de um casal de turistas visitando a praia se aproximou e conversou amigavelmente com os avós de Brielle.

- Quem são? - perguntei com a boca cheia, apontando para os dois.

Eram os pais de Riley e Naomi. Perguntei se eles estavam na propriedade deles na noite em nos juntamos a seus filhos. Brielle disse, com um meio sorriso que eles moravam em outra cidade agora.

Um helicóptero passou bem baixo, com seu ruído de batidas sem fim extremamente alto nos nossos ouvidos.

- Mas que...? - na minha mente só veio aquelas imagens de helicópteros policiais perseguindo bandidos com um feixe de luz forte na televisão. A diferença é que estávamos em plena luz do dia e eu não achava que havia algum bandido super malvado no meio dessa gente que enfeitava árvores e dançava nos intervalos.

Brielle olhou para cima com o cenho franzido só por meio segundo até sua expressão suavizar quando sorriu.

- Ah, só pode ser o Bob.

- Quem é Bob?

- Bob é um antigo amigo. - eu nem preciso dizer que depois do que compartilhamos há pouco, cada centímetro do meu corpo formigou com ciumes - ele morava aqui. Ele era bem bobão, devo dizer, como aqueles garotos riquinhos dos filmes, que são obrigados a viver no mundo real e sofrem nas mãos dos outros garotos. Eu fui uma das pessoas que o ajudou a superar essa fase, hoje ele é um cara bem diferente do Bob-bobão.

- E esse novo Bob-legal costuma chegar sempre voando no
seu helicóptero?

- Não seja bobo - ela riu - Bob estuda para ser piloto há um bom tempo... e acho que ser filho de políticos poderosos lhe dão certa liberdade para chegar aqui voando por aí também.

- Com certeza deve ajudar mesmo.

Nós dois rimos.

Durante o resto da tarde nós não ajudamos muito mais. Não com trabalho pesado, quero dizer. Ficamos mais perambulando pelo espaço, fui apresentado a um monte de gente e não pude deixar de ficar surpreso sempre que a maioria das pessoas se aproximava para me abraçar como se eu fosse um velho amigo.

Conheci Bob e ele realmente era legal, não parecia o tipo que se gabava por ficar voando por aí. Vi tia Eleanor chegando e depois disso Peter não desgrudou de mim e Brielle e passei a carregá-lo nos ombros.

Mesmo sendo bastante espaçosa, a casa de Troy e Brielle parecia pequena com as pessoas andando de um lado a outro.

Além de tia Eleanor, outros parentes deles estavam lá e todos tagarelavam alegremente em alto e bom som. A maioria não lembrava meu nome no início e então meio que se referiam a mim como "o menino amigo dos meninos", "você é filho da prima Fulana, não é?" e "o namorado de Brielle (?)" - isso mesmo, com uma interrogação implícita.

Não aguentando o abafamento de uma sala de jantar cheia de gente e comida, os homens da família (isso me incluiu) levaram mesas para o quintal e comemos lá fora.

Minha intimidade com lápis e papel logo se espalhou entre as crianças e me tornei o desenhista oficial, embora Peter tenha decidido que tinha prioridade por me conhecer há mais tempo e eu tinha que desenhar primeiro o que ele queria para depois atender às outras crianças. Durante o jantar ele até quis subir nos meus ombros para exibir seu poder mas tia Eleanor enxotou as crianças de perto de mim.

Brielle sorria satisfeita ao meu lado. Um tio grandalhão me disse que eu sabia fazer maravilhas em uma folha em branco e me senti lisonjeado.

Em um certo momento uma tia disse que Troy precisava se barbear para o dia seguinte enquanto tia Eleanor logo disse que ele ficava bem de barba e uma tia cheia de bijuterias brilhantes concordou com ela dizendo que ele ficava sexy. Isso desencadeou um falatório caótico cheio de risadas até que o Sr. Simonsque estava perto de mim (e que também usava barba) perguntou "o que você acha, Cory?"

Fiquei sem reação pelo simples fato de que alguém que eu mal conhecia tinha me notado em meio a um monte de gente e ainda considerava a minha opinião.

- Bem, eu acho que ele fica muito bem de barba. A barba dele é bem legal.

Troy sorriu e piscou pra mim e Naomi logo concordou comigo e todo mundo continuou falando ao mesmo tempo.

Alguém ligou um aparelho de som em um volume baixo e enquanto todos tagarelavam durante a sobremesa, segurei a mão de Brielle sob a mesa.

Sua família era realmente singular e ela nem parecia tão diferente ali naquele meio. Seus parentes eram interessantes e diferentes dos meus tios e das pessoas que iam naqueles jantares na minha cidade que conversavam se cercando para ver quem se gabava mais sobre coisas fúteis.

Mas, apesar disso eu meio que senti uma saudade estranha de casa. Como se eu quisesse voltar mas não exatamente para o lugar de onde eu viera.

Observar Peter do outro lado da mesa com seus cabelos vermelhos arrepiados exibindo um desenho para os outros meninos fez esse sentimento aumentar.

A consciência da outra mão tocando a minha por baixo da mesa fez esse sentimento de vazio desaparecer em segundos.

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Caramba, esse capítulo veio tão rápido... Espero que vocês que costumam ler quando eu posto gostem de lê-lo.
Essa história tá quase acabando e tô me sentindo um tanto contente por finalmente sentir que vou finalizar algo que eu escrevo. E sei que é pq alguns amigos e outras pessoas maravilhosas que não conheço se deram o trabalho de ler.
Obrigado por lerem.

A Tempestade Da Cor Dos Teus OlhosWhere stories live. Discover now