O Menino Adormecido

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O CARRINHO DE MÃO VERMELHO

tanta coisa depende
de

um carrinho de mão
vermelho

luzindo com água
da chuva

junto às galinhas
brancas.

(William Carlos Williams - O Carrinho de Mão Vermelho)

Os dois garotos se conheceram ainda na escola. Tinham a mesma idade e estavam na mesma turma.

O mais alto deles ficava a maior parte do tempo do intervalo entre as aulas sentado desenhando. Tinha cabelos escuros e bem penteados, o outro não parava de andar de um lado para o outro, parecia que tinha formigas nas calças, como diria a vó do primeiro. Este tinha cabelos avermelhados, desgrenhados e arrepiados para todo o lado que refletiam sua personalidade perfeitamente.

O primeiro era Cory, o outro se chamava Graham. Eles se tornaram amigos em uma manhã quando a professora saiu da sala de aula e Cory voltou ao desenho inacabado de um dragão.

Graham se sentava ao lado de Cory e se aproximou sorrateiramente de seu ombro e disse em alto e bom som que conseguia fazer um desenho igual e, empolgado, abriu sua mochila e tirou algumas canetas piloto de várias cores e começou a rabiscar a lousa.

Cory riu e percebeu que o garoto provavelmente não passava muito tempo desenhando mas até que levava jeito.

Alguém gritou da porta que a professora estava voltando e Graham decidiu apagar o desenho e logo descobriu, em pânico, que seu enorme dragão não queria desaparecer.

"Isso é tinta permanente", Eve Lily, uma garota muito bonita que vivia séria disse sem conter uma risada. Cory se admirou de vê-la sorrindo.

Graham cuspiu no apagador, esfregou a camisa no quadro mas não teve jeito. Ele disse bem alto na frente da turma que ria "ninguém diz que fui eu", e se sentou no seu lugar escondendo as canetas debaixo da sua carteira, apressado. Duas canetas caíram e Cory as escondeu no meio de suas coisas.

A professora chegou e no primeiro questionamento sobre quem fez aquilo, alguém gritou do fundo "Foi o Graham!"

Ela avançou severa para cima dos dois garotos e perguntou a Graham. Ele negou.

Ela se virou para Cory perguntando se o garoto ao lado era culpado. Cory em seu desconforto, balançou bruscamente a carteira e uma das canetas caíram. A professora a apanhou, estreitando os olhos.

Cory começou a gaguejar mas Graham logo assumiu a culpa. A professora o fitou com os olhos em chamas e ordenou que o menino fosse ver o diretor.

Cory não sabia o porquê mas assumiu parte da culpa.

Os dois foram para a diretoria, receberam suas detenções e no fim, indo embora, mesmo com as broncas que ainda viriam em suas casas, fizeram seu caminho rindo e ali mesmo se tornaram amigos.

Cory e Graham passaram de ano passando cola um para o outro nas matérias em que um tinha dificuldade e o outro não.

Cory morava com os pais e Graham com os avós, sua mãe morrera quando ele nasceu e não conhecia o pai.

Eles se tornaram aquele tipo de amigos que também são irmãos e dormiam sempre na casa um do outro.

Um ano mais tarde houve um acampamento e todos os garotos passaram o dia brincando e pregando peças uns nos outros. À noite, eles quiseram dar um susto em um amigo e se embrenharam na floresta. Cory esquecera sua lanterna e na pressa de se esconder, acabou sozinho no escuro, perdido por uma hora tentando voltar para o acampamento.

A Tempestade Da Cor Dos Teus OlhosKde žijí příběhy. Začni objevovat