Frustração

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Camila POV.

Eu nunca, em toda a minha vida, havia tido uma noite de sono tão perturbada quanto a anterior. O estado deplorável em que Lauren me deixara mais cedo simplesmente invalidou toda e qualquer possibilidade que existia de eu ter uma noite tranquila mesmo com as dores de meu tornozelo. Até porque, pensar no incômodo que tais dores me traziam, em comparação com o incômodo que me tomou o meio das pernas nos instantes seguintes à interrupção abrupta de Lauren, era quase uma piada. Depois da noite insuportável, eu podia afirmar com certeza que eu preferiria ter passado a madrugada toda sofrendo por minha lesão ao invés de amargurando o fato de não ter concluído com Lauren o que havíamos começado.

A ardência em meu corpo, ainda ali, fervendo sob minha pele mesmo horas depois daquele momento inesperado, era tamanha que me fez considerar outras maneiras, mais solitárias, de aliviar minha própria agonia. Mas, em meio a um dormitório repleto de garotas, isso era praticamente impossível, logo, a ideia foi esquecida. Tudo o que eu sabia era que eu precisava, necessitava desesperadamente, que Lauren concluísse o que ela havia começado naquele quarto, de preferência o quão antes possível, ou eu acabaria explodindo de dentro pra fora numa impaciência que, invés de diminuir com o que havíamos feito, só aumentara com o que não havíamos terminado.

Finalmente despertando na manhã seguinte, e sentindo meu tornozelo impressionantemente menos dolorido, tudo o que eu quis foi deixar aquele dormitório infernal. Estar ali por tantas horas no dia anterior, já vinha deixando-me de saco cheio do lugar. Lembrar-me do que havia acontecido ali, sobre aquela cama, então, só fazia este sentimento piorar. Logo, assim que despertamos e que a professora Martha recrutou as equipes para partirem ao primeiro dia de jogos da competição, eu rapidamente me manifestei e pedi para assistir às partidas do ginásio.

Sendo gentilmente amparada por dois garotos do último ano, logo me vi sentada em um dos lugares na arquibancada concedida aos alunos do internato, aguardando com o restante deles o início dos primeiros jogos. O lugar era imenso e continha não uma, mas várias quadras, umas separadas das outras, que abrigariam partidas de modalidades diversas paralelamente. Uma vez que os jogos de fato começaram, seguindo horários e ordens predeterminadas que na verdade pouco me importavam, eu passei a prestar atenção neles para ver se, de alguma forma, eu me distraía com isso. Ally e Dinah, no momento, sentavam ao banco de reservas na quadra destinada às partidas de vôlei feminino, e aguardam sua vez de, quem sabe, participar.

Correndo meus olhos ao redor, procurando, talvez, por rostos conhecidos na arquibancada, dei de cara com a visão de Lauren vindo exatamente em minha direção, caminhando com os olhos fixos em meu rosto. Por breves segundos, o familiar frio na barriga à menção de sua presença tomou conta de meu estômago, e eu finalmente a vi sentar-se ao meu lado, checando discretamente com o canto dos olhos ao nosso redor.

- Eu preciso te dizer algo. – ela disse direta, fitando a frente como se sequer falasse comigo. Eu entendi sua intenção de não parecer suspeita, e a respondi da mesma maneira, ouvindo minha própria voz sair mais desesperada do que deveria.

- Eu também preciso te dizer algo.

- Eu vou te evitar completamente daqui pra frente, até que estejamos fora do internato outra vez.

Como num baque, eu travei ao escutá-la. Aquilo não era exatamente o que eu esperava ou queria ouvir naquele momento. Minha vontade real era, na verdade, de pular em seu pescoço e obrigá-la a me fazer gozar ali mesmo, como deveria ter acontecido na noite anterior. A minha falta de palavras e a provável decepção estampada em minha cara a fizeram me fitar e questionar num sussurro.

- Você queria dizer algo...?

- Não. – eu respondi prontamente, vendo-a assentir e voltar a olhar à frente.

O InternatoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora