Lauren Jauregui

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Tudo o que podia ser ouvido dentro daquela biblioteca eram os toques ritmados que a ponta de meu lápis provocava ao batê-lo contra a superfície da grande mesa de mármore sobre a qual eu me encontrava sentada, displicentemente, naquela tarde de segunda-feira. Enquanto continuava a "batucar" com o pequeno objeto contra a mesa, soltei um longo bocejo antes de sequer me preocupar em cobrir a boca com uma das mãos para abafar o som do ato. Na noite passada foi praticamente impossível pegar no sono. A discussão que eu tive com a minha mãe foi uma das mais sérias e tensas que eu havia tido nos últimos meses. Discutir com ela era normal. Frequente. Mas por muitos meses essas discussões não passavam de alguns desentendimentos aqui e ali. Nas últimas semanas, porém, as discussões vinham se tornando mais intensas. Desde que meu pai veio me informar de que a vontade de ambos era a de que eu trabalhasse no internato antes de pensar em ingressar num curso superior, eu virei um bicho. Literalmente. Fiquei simplesmente enlouquecida e indignada. Eles sabiam muito bem quais eram as minhas prioridades, e quais preferências eu tinha, e nenhuma delas incluía herdar o negócio da família. Eu amava o internato e tinha um carinho muito grande por ele, por ter vivido praticamente toda a minha vida e, principalmente, parte da minha infância aqui, correndo pelo escritório do meu pai e invadindo as salas de aula sem aviso para falar com os professores que, naquela época, me achavam uma criança fofíssima. Posso nunca ter estudado aqui, como sempre quis, mas meu amor pelo lugar era inegável. O fato é que apesar de todo esse amor, não existia nenhum interesse da minha parte de tratar do internato como um negócio. Nem do internato, nem de nenhum outro lugar. Não me considero uma mulher de negócios. E quando a minha preferência pelos livros e pela música foi revelada aos meus pais, os dois simplesmente surtaram. Minha mãe, completamente irredutível, desde aquele dia repete que assim que eu me formasse na escola, eu passaria a trabalhar aqui dentro, onde fosse. Na época, tivemos outras discussões e eu jurei que isso não aconteceria, não importa o que ela fizesse. Mas, vocês podem perceber desde já que eu não tenho muita representatividade nessa família, não é? Caso contrário, hoje não estaria sendo o meu primeiro dia como chefe da monitoria da biblioteca do Internato Jauregui.

Após algum tempo batucando e perdida nestes pensamentos, suspirei pesadamente e desci da grande mesa. A biblioteca naquele horário ficava absolutamente vazia. Todos os alunos se encontravam em aula. Eu, tecnicamente, tinha a biblioteca toda pra mim, mas não é como se existissem muitas opções do que se fazer numa biblioteca vazia estando sozinha. Justamente pelo meu grande interesse por literatura, durante os anos em que visitei o internato, eu praticamente li todos os livros ali existentes, então nem isso era uma possibilidade. O que me restava era simplesmente esperar até que algum aluno entrasse por aquelas duas grandes portas e, quem sabe, quisesse pedir alguma informação ou ajuda a mim.

Olhei por uma das janelas daquela grande sala e vi que o tempo lá fora era de um sol radiante. Só de pensar na grande piscina gelada que havia em casa, apenas esperando pra que alguém entrasse nela e passasse o resto do dia nadando, sem fazer mais absolutamente nada da vida, eu tinha vontade de gritar de raiva. Quando lembrei que meus irmãos mais novos nesse exato momento podiam estar justamente dentro dela, eu passei de ter raiva a ter vontade de chorar. Eu suspirei novamente e olhei para o grande relógio pregado à parede. 1 hora da tarde em ponto. A qualquer momento o sinal tocaria e os alunos seriam dispensados de suas aulas para o primeiro intervalo daquela segunda-feira. Durante o intervalo, uma das funcionárias vinha à biblioteca para me substituir até que o mesmo se encerasse e eu poderia usar do tempo para, tecnicamente, comer. Mas naquele dia, minha prioridade era outra. O sinal, como o esperado, bateu alto ecoando por todo o internato e eu não contive um sorriso no canto dos meus lábios. Como um alarme, a minha substituta entrou na biblioteca no mesmo segundo e sorriu para mim. Era uma das poucas funcionárias dali que eu não conhecia muito bem. Provavelmente fora contratada recentemente. Sorri de volta para ela, alargando meu sorriso, e com um aceno de cabeça saí dali de dentro.

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