Capítulo 33 - Nike

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Nós estávamos colocando reticências na nossa história... Ela não sabe o quanto eu tenho medo do ponto final, mas e se ele for necessário? Eu não posso mais com isso, está me matando, está me consumindo, eu não tenho mais forças, estamos enfrentando as decisões a muito tempo, sempre hesitando em dar um veredito. O veredito é esse, nós estamos nos quebrando e eu posso ouvir as rachaduras se partindo.

Minha mãos não estão na sua, nós andamos lado a lado mas não estamos no mesmo lado, já nem sei se somos peças do mesmo quebra-cabeça. Eu encaro seu rosto, como se fosse uma última vez, eu sei que não é, mas eu gosto de encarar seu rosto. Seus olhos estão aflitos, ela caminha pelo extenso corredor como se estivesse cada vez mais perto da morte. Eu sei que a sua decisão não lhe agradou, mas não vai ser eu a pessoa que vai transformar isso em um fardo. Ela quer cuidar do irmão, eu a quero de voltar comigo, era simples, ela não precisava se sentir culpada, Jhon não a julga, nem mesmo eu. Quero dizer pra ela, que ela não precisa se sentir mal, mas eu não digo, porque uma parte de mim quer que ela se arrependa amargamente por sua decisão e a outra parte soca com força a minha parte egoísta.

Ela não sabe o que fiz, com quem estava na viagem. Jade havia me perdoado no passado, mas deixou claro que eu jamais voltasse a encontrar ela. Eu não contei à Jade sobre tudo, talvez nem faça mais sentido contar, ela não lembra do que aconteceu, e eu finalmente posso ficar bem sem me preocupar que tivemos uma falha bem no começo. Uma pequena e inútil, falha.

Chegamos na frente da porta do quarto do seu irmão, a porta não está aberta então posso ver Jhon na cadeira de rodas conversando com o seu médico e logo atrás dele, está Emily. Jade caminha devagar até o irmão e o abraça.

-Você não precisava ter vindo. -Jhon disse.

-Precisava sim. -Jade responde.

Eu me aproximo de Jhon e dou alguns tapinhas em seu ombro. Ele não parece notar, está muito ocupado prestando atenção em cada recomendação que o seu médico está ditando. Olho para Jade e ela já está fazendo o mesmo, ela está decorando tudo só para tomar os devidos cuidados. Já Emily não consegue ser tão atenciosa, ela está encarando os próprios pés e parece perdida em pensamentos. Caminho até ela e paro na sua frente. Me lembro que ainda temos uma conversa pendente, coisas que eu deveria ter resolvido a muito tempo.

-Preciso falar com você. -sussurro.

-Nike...

-Agora, vem. -digo.

Caminho para fora da sala deixando os gêmeos e o médico conversando. Emily vem logo atrás de mim e quando já está fora do quarto, ela se escora na parede e cruza os braços esperando por mim. Emily sempre fora como uma irmã para mim, sempre queríamos o bem um do outro. Mas o que Jade falou enquanto estava bêbada alguns dias antes da minha viagem, ainda martelava na minha cabeça. Por mais que eu quisesse deixar para trás, eu sabia que tinha que conversar com ela sobre isso.

-Por que você levou a Jade naquele café? Ela disse que você sabia que o Adam estava lá. -falei.

-Você sabe porquê! -Emily disse um pouco mais alto.

-Fica longe dele Emily, e não coloca a Jade nisso. -apontei o dedo em seu rosto e ela encolheu seus ombros.

-Me desculpa, eu sei que não deveria ter feito aquilo, mas...meu Deus Nike, eu só precisava de companhia. Eu não podia encarar ele sozinha. -sua voz estava embargada. Seus olhos começaram a marejar.

-Tudo bem, eu entendo, só não faz mais isso. Você não precisa deles, e a Jade não merece ficar perto daquele verme. -suspirei. -Foca em outra...coisa, não sei. Só esquece isso! Se nada mudou por todos esses malditos anos, não vai ser agora que vai mudar.

-A Jade sabia disso no passado, ela sabia de tudo. Eu pensei que levando ela lá alguma coisa poderia ativar a memória dela.

-Mas isso não tem haver com ela, Emily! Você foi egoísta, só pensou em você. Eu sei que ela não sente nada por ele, mas foi ele quem permaneceu na cabeça dela e não eu. Você não pode fazer isso outra vez, me chama, chama a Joe, mas não leva a Jade pra esse meio. -rosnei a última parte.

O círculo de Emily iria se fechar em algum momento. Jade lembrou de como tudo aconteceu, ela não lembrou do porquê aconteceu. Isso não tem haver com a gente, nós só somos os figurantes de outra história e não quero que ela volte para o mesmo ambiente que Adam, mesmo que agora nós estejamos nos fragmentando.

-Eu não vou. -ela disse por fim.

-Me desculpa, eu sou um merda. -me aproximei dela e a puxei para um abraço. Beijei o topo da sua cabeça e a apertei. -Se você não ficar por perto de tudo aquilo, talvez as coisas comecem a ficar melhor.

-Eu sei, mas não consigo evitar. O Jhon descobriu tudo Nike, ele sabia disso enquanto ia me procurar na noite do acidente. Eu sei que ele vai querer conversar sobre aquilo, mas eu não quero, eu não quero mais.

-Vai ficar tudo bem. -sussurrei.

Nós ficamos abraçados por muito tempo, ela chorou silenciosamente, eu não fiz nada para impedir. Nós só nos separamos quando Jade, Jhon e o doutor saíram para fora do quarto. Jade se aproximou de Emily e a abraçou, não perguntou o porquê, apenas a confortou. Jhon me olhou com suspeita, ele também sabia de tudo, mas isso não tinha haver com a gente.

Eu peguei a bolsa que Jhon tinha guardada no quarto de hospital e caminhamos para fora do lugar. Jade empurrava sua cadeira, mas ela parecia avoada. Emily que estava ao seu lado, agora parecia menos aflita, mas ainda tinha um semblante preocupado.

-Só por curiosidade...o que aconteceu com o meu carro? -Jhon perguntou atraindo nossa atenção para ele assim que chegamos ao estacionamento.

-Provavelmente está em alguma sucata. -Emily respondeu sorrindo pela primeira vez hoje.

-Ficou tão ruim assim? -ele perguntou.

-Vocês tiveram sorte, o seu carro parecia um papel amaçado. -falei.

-Jade, lembra quando você bateu nele com o seu monstro? Ainda está me devendo. -ele disse enquanto procurávamos o carro de Jade no estacionamento.

-Se eu não lembro, eu não fiz. -ela respondeu.

-Ela nunca bateu no seu carro, e isso não foi engraçado. -murmurei.

-Me deixa brincar um pouco esquentadinho! -Jhon riu.

Quando chegamos ao carro de Jade, ela destravou as portas e eu joguei a bolsa de Jhon no porta malas, me aproximei dele para ajudar a coloca-lo no banco de trás, mas antes que eu pudesse ajudar, ele grunhiu e fez uma careta.

-Qual é? O bom de ficar na cadeira de rodas é não andar, agora ser carregado que nem uma donzela não é tão legal. -ele disse.

-Talvez assim você aprenda que ficar sem andar não é tão bom. -Emily respondeu.

Eu o peguei enquanto Emily abria a porta para que ele fosse ajustado no banco traseiro. Quando tudo já estava devidamente no seu lugar, Emily ficou ao seu lado e eu fui para o acento do passageiro. Jade ligou o carro e me olhou, ela me olhou com aqueles malditos olhos castanho claros, os olhos que eu mais amo. Droga Jade, é uma pena que nesse momento, um fragmento ainda maior de nós dois esteja se partindo.

Me virei para frente incapaz de encarar seu rosto por mais alguns segundos, eu não posso mais, eu não aguento mais. E eu ainda a amo tanto.

Procura-se Por Nós  #Wattys2016Where stories live. Discover now