Capítulo 10

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"Quando a gente ama, não quer largar. Isso é fato. Mas a razão, muitas vezes, vai te forçar a fazer o que o coração jamais faria."

xx

Camilla Narrando.

Deitei na minha cama e ouvi meu celular tocar, atendi era a Bru.

Início da Ligação
- Oi amiga.
- Oi sumida.
- Sumida você.
- Nem pra isso. Ei vamos sair hoje?
- Para onde?
- Para uma social de amigos.
- Quem vai?
- Nós duas, Americano e Cori...
- Deixa, não vou.
- Amiga...
- Minhas audições para Juilliard estão próximas, preciso me concentrar.
- Como assim? Você vai embora?
- Talvez Bru.
- Não faz isso Cami, por favor...
- Preciso garantir meu futuro, Bru.
- E eu.
- Amigas para sempre.
- E o Coringa? Pensei que vocês só estivessem brigados por um tempinho.
- Não estamos brigados, a nossa historinha acabou.
- Vocês faziam um casal tão lindos.
- Nem pra tanto. E você e o Americano?
- Estamos indo, do nosso jeito ne.
- Vocês se curtiram mesmo ein.
- Ele é o que eu procurava, eu sou o que ele procurava. Acabou dando certo.
- Fico feliz por vocês. Amiga, vou tomar um banho, estou podre.
- Ok Cami, até qualquer dia.
- Te amo.
-Te amo também.
Fim da Ligação
Ficava triste de me afastar assim da Bru, é que agora tudo dela envolvia o Americano. E geralmente onde o Americano está, o Coringa está junto. A única que mantive contato firme foi a Thalita. Saia algumas vezes com ela para o shopping e restaurantes.
O domingo eu passei o dia inteiro no quarto onde eu ensaio me preparando para a minha audição, quando me lembrei que deixei uma pasta do trabalho do meu pai na ONG. Troquei de roupa, peguei as chaves do meu carro e fui para o morro.

Coringa Narrando
- Vai porra... Levanta. -Bati na bunda da Carla, Vanessa... Não lembro o nome. Ela resmungou, veio me dar um beijo, virei o rosto. Ela se vestiu e foi embora.
Peguei minha carteira e a minha arma. Peguei meu cel e havia uma ligação do Marcos, um advogado filho da puta que arrumei, ele me ajudaria a tirar meu irmão da prisão.
Estávamos bolando um plano pra fazer meu irmão e uns parceiros do morro fugir da prisão. Antes de eu assumir, meu irmão era o dono do morro, eu nem sonhava em me envolver com essas paradas. Depois eu assumi o morro, meu pai me tirou de casa...
Enfim, história para outro dia. Retornei a ligação para o Marcos e ele demorou séculos para me atender.

Início da ligação.
- Fala.
- E a porra, o que me conta?
- Fechei com uns caras lá de dentro, eles vão ajudar.
- Tudo certo, mas e aquele carregamento de arma que os meus caras vão pegar. Tudo certo?
- Tudo certo, fica suave que é só dar o dinheiro que amanhã cedo ta tudo ai contigo.
- Vou mandar um dos meus levar o dinheiro, mesma hora e lugar de sempre.
- Tudo certo.
- Fechou.
Fim da Ligação

Não via a hora de ter meu irmão de volta aqui, morria de saudades daquele viado. Desci as escadas e a Thalita estava com a Mel sentada no sofá vendo TV.
- Nem ouvi você chegar.
- Mas eu vi sua vagabunda da vez saindo daqui. -Ri torto.
- Fazer o que né.
- Ouvi sua conversa também, está se metendo em encrenca, Coringa...
Coringa: Não se mete nas minhas tretas. -Ela me puxou para cozinha.
- Sai dessa vida, Coringa.
- Não cara, eu to bem nela.
Você não era disso.
- Não era, agora eu sou.
- Promete que minha filha vai ter o pai dela na formatura da escola?
- Ela vai ter o pai dela no casamento.
- Eu só me preocupo com você. -Ela me abraçou e eu senti meu coração se acelerar.
- Eu entendo. -Disse meio sem graça.
- Ok. -Ela se soltou de mim e me olhou nos olhos. Era a Thali mano, minha primeira mina de fé. A garota que esteve sempre do meu lado, nunca soltou minha mãe pra nada. E os piores momentos da minha vida foram quando eu acordei e estava minha mulher e a minha filha indo embora da minha casa e no dia em que meu pai me proibiu de falar com a minha mãe. Eu gosto muito da Thali, porra mina igual a ela é difícil de achar, mas sabe o nosso amor não era aquele amor que sentíamos quando estávamos juntos. Mesmo que eu a beijasse agora, seria como beijar o Americano na boca. E eu não sou nenhum pouco gay.
- Está sabendo da novidade?
- Qual?
- Cami vai fazer um desses negócios de balé lá em NY, se ela passar vai morar lá. -Dei de ombros.
- E eu com isso?
- Vai falar que não se importa?
- Mas eu não me importo.
- Tem certeza? -Ela sorriu debochada. Ela sabia que eu me importava, mas eu não daria esse gosto de dizer. Se a Cami não quer, eu não vou correr atrás. Isso jamais! Ela me mandou ir embora e eu fui. Eu a via pelo morro, ela estava cada dia mais linda, mas eu não chegaria pra ela pedindo pra ficar como antes.
- Nosso lance passou já.
- Vocês dois são tão cabeça dura.
- Vocês conversam?
- Direto.
- Americano disse que ela se afastou da Bru e dele.
- É que você está sempre por perto deles, ai ela não quer se envolver mais com tudo isso.
- Como se eu fosse alguma doença. -Rolei os olhos bravo e cruzei os braços.
- Doença eu não sei, mas amor quem sabe. -Ela riu.
- Para de brincar com isso.
- Não é brincadeira. Se ela não sentisse nada por você, você acha que ela iria se afastar assim?
- Infantilidade dela.
-Só dela? Você acha que comer toda puta do morro pra esquecer uma certa loira é o que?
- Sou homem porra!
- Homem o caralho, isso é molecagem sua. Porque você quer procurar em outra cama aquilo que você só achou na cama da Cami.
- Tá Thalita. -Virei a cara. Não gostava de quando ela falava essas coisas assim. Ela segurou no meu rosto e fixou o olhar no meu.
- Vai atrás dela, ainda dá tempo. Vocês não acabaram, eu sei que não.
- Ela não quer mais. Eu não vou correr atrás.
- Mas que droga, Coringa, o que custa você pelo menos uma vez correr atrás?
- Porque quando eu corri atrás de você eu tomei não atrás de não, quando eu te procurava você ia atrás de outro, eu sei como isso dói e eu não to a fim de sentir isso de novo. -Me soltei dela e sai da cozinha. Odiava me sentir fraco perto da Thali e toda vez que tínhamos algum papo sério era assim que eu me sentia. Ela e a Loira tem um dom de me desarmar que eu ficava louco.
Peguei meus cigarros e fui fumar na varanda. A Thalita e a Mel passaram o dia lá em casa, aproveitei e fiquei com as duas. Não tocamos, mas no assunto Camila.
A noite levei as duas em casa e quando voltei vi o carro da loira parado em frente a ONG. O que ela está fazendo aqui a essa hora?
Parei o carro e deu uma vontade de ir lá dentro falar com ela, ver como ela está. Continuei ali pensando em tudo que a Thali me falou hoje, odiava me sentir assim, não sabia como agir, não entendia mais os meus sentimentos.
Até que ela saiu da ONG com uma pasta na mão. Ela trancou a porta e foi até seu carro. Desliguei o meu carro e sai. Era agora ou nunca né. Atravessei a rua, mexi com um parceiro meu e fui até ela. Segurei na porta de seu carro antes que ela a abrisse toda.
- O que você quer? -Ela me olhou.
- Só falar com você.
- Não tenho nada pra falar contigo.
- Mas eu tenho e muito.
- A é mesmo? -Ela arqueou uma das sobrancelhas e encostou-se ao carro-. Começa a falar então esse "tanto" que tem pra falar comigo.
- Ah mano... -Cocei a cabeça e fui pra frente dela.
- Fala agora, anda. Não tenho muito tempo.
- Para, Camila. -Ela tentou sair e eu a segurei pela cintura-. Fica, para de fugir.
- Para de me irritar Coringa. Que saco. -Ela parecia brava, com a respiração alterada.
- Para, Cami, o que está acontecendo? Olha pra mim. -Segurei no seu rosto e fixei meu olhar no dela-. Se acalma mano, eu quero só falar com você.
- Eu não tenho nada pra falar e nada pra ouvir.
- Mas eu tenho pra falar e você vai me ouvir. Naquele dia na casa de praia eu te ouvi e ouvi calado. Agora eu vou falar e você vai me ouvir calada.
- Você não é meu pai.
- Você não é a minha mãe e mesmo assim eu te ouço.
- Que saco. -Ela virou a cara.
- Não emburra que eu gamo loira. -Fiz carinho na bochecha dela e ela bateu na minha mão-. Eu gosto das brutas e das difíceis.
- Fala logo que eu estou te ouvindo. Sem graçinha.
- Eu nem sei o que dizer sabe, porque eu não esperava te encontrar hoje. To aqui mina, tão difícil pra mim quanto é pra você, to correndo atrás. Quebrando a promessa que fiz pra mim mesmo que não iria correr atrás de mulher nunca mais. Se eu to fazendo isso é porque eu gosto de tu tlg? Porra não adianta tu mudar, não adianta você evitar teus amigos porque não quer minha presença, eu sei que erra cara. Mas eu to sendo homem o suficiente pra vir aqui te pedir desculpas e assumir meu erro. -Ela virou o rosto e me olhou nos olhos-. Não era isso que você queria? Um homem de verdade, to aqui porra, demos um tempo, eu vou agir com você da mesma forma que eu quero que um homem haja com a minha filha. Então Cami, vamos recomeçar. Sem brincadeiras, sem terceiros, só eu e você. Ein? -Segurei na nuca dela, fiz um carinho-. O que você acha? Vamos recomeçar?
- Não sei Coringa. -Eu sentia só pela olhar dela que ela queria, mas algo a impedia. A abracei e ela não negou o abraço.
- Olha, eu não vivo sem você, sem te sentir, te ouvir, te ver. Sem o calor do seu abraço que sempre foi meu. A briga resolvida é uma rosa em um jardim. Mas se tem mágoa fecha, seca. Apodrece sim. Amor, eu leio e vejo seus sinais. Ficar desse jeito pra quê?- Cantei um pedaço da música do Sorriso Maroto no pé do ouvido dela e ela suspirou no meu peito.
- Não faz assim...
- É por que você vai embora? -Olhei novamente pra ela.
- Quem te contou isso?
- Eu sempre sei de tudo.
- Vou matar a Bru.
- Fica suave que não foi ela. Mas vai embora não.
- Isso não tem nada a ver com você, é uma decisão apenas minha.
- Para de marra, Camila.
- Não é marra, é vontade de crescer.
- Cresce comigo.
- Não da Coringa.
- Não da ou você é orgulhosa demais pra afirmar que está com saudade?
- Eu só quero ser feliz, Coringa.
- Vem ser feliz comigo. -Aproximei os lábios dos dela e ela não recuou.
Colei as nossas testas, coloquei a mão em sua cintura.
- Se eu for com você eu perco meu sonho.
- Eu realizo seu sonho com você.
- Para de pensar com a cabeça debaixo.
- Não é a cabeça debaixo falando. Muito menos a minha mente, o que está falando agora é a mesma coisa que você levou com você no momento em que você disse adeus.
- E o que é?
- Se eu falar vou parecer clichê demais.
- Nós somos clichês.
- Nós...
- E esse beijo sai ainda hoje? -Sorri de lado e a beijei com vontade. Não dava pra negar, de todas as bocas que beijei esse tempo longe dessa loira não significaram. Eu só queria a boca dela e o corpo dela colado ao meu. Aquele beijo gostoso de dar até calor. A beijava com vontade, apertava a sua cintura contra o meu corpo e nem queria saber se tinha gente na rua.
Se acalma. -Ela sorriu parando o beijo ofegante.
- É saudade porra. -Dei um selinho nela.
- Até parece que é isso tudo u.u
- 1 mês você acha que é pouco?
- Pra você que cada dia estava com uma.
- E vai falar que ficou sozinha?
- Fiquei.
- Até parece.
- Não preciso de homem pra sobreviver.
- Vamos lá pra casa?
- Eu tenho que ir embora.
- Dá um apelido pra minha cama para o seu pai e dorme comigo.
- Eu trabalho na ONG amanhã.
- Peço o Americano pra pegar uma roupa sua na sua casa com a Bru.
- Meu pai não é trouxa.
- Você passou 4 dias fora e ele achou que você ia só com a Bru.
Cami: Não sei.
- Anda, ai não te peço mais nada por um bom tempo.
- Ai vamos lá. -Ela sorriu.
- Opa. -Ela ligou para a Bru e ela traria as coisas da Cami. Fomos para a minha casa, cada um em seu carro. Entramos na minha casa e sentei no sofá. Ela sentou no meu colo e beijou minha bochecha.
- Sabe como você se vê fodida?
- Quando eu te como? -Ela me deu um soco e eu ri-. Fala.
- Besta... Agora não quero falar mais não.

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