Capítulo 1

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Camilla Narrando
– Pai, eu já disse que eu não tenho vocação para o tribunal. – Gritei do meu quarto. Meu pai simplesmente não admitia o fato de eu largar a faculdade no segundo dia.
Eu sei que isso não é normal e que todos os meus amigos já estão estabilizando suas vidas, mas o ballet é algo que eu quero para o resto da minha vida.
– Já está indo para àquele inferno? –Ele disse quando eu já estava com a minha bolsa no ombro e pegava a chave do carro.
– Eu volto ta? Eu te amo.
Sai de casa e fui direto para garagem onde meu Audi R8 coupé me esperava. Sempre fui acostumada com o luxo e meu pai nunca negou nenhum capricho meu. Sempre gostei de carros potentes que me dessem sensação de liberdade.
Entrei no carro e dei partida. São mais ou menos uns 20 minutos da minha casa até o morro. Eu fiz em 10 minutos, obviamente eu peguei uns atalhos. Mas que culpa tenho eu se trânsito do Rio não era proporcional a minha velocidade?
Ao chegar no morro, estacionei e fiz o mesmo percurso de sempre em direção a ONG. No percurso senti alguns olhares em minha direção mas nem me dei ao trabalho de prestar atenção, deveriam ser as "putianes", elas sempre, elas sempreme encaravam, mas eu nem ligava. Afinal, pra galinha a gente dá milho e não moral, não é mesmo?
– Onde estava menina? –  Minha supervisora, Cláudia, me recebeu, mas ela não estava com uma cara muito boa.
– Vindo para cá ué. – Ela revirou os olhos e eu soltei um pequeno riso.
– Estamos com problemas.
– Por quê?
– Coringa mandou fechar a ONG. –  Provavelmente o meu queixo a essa hora estava no inferno, lugar para onde eu mandaria aquele moleque egocêntrico.
– Ele não pode fazer isso. –Senti o sangue ferver nas veias.
– Ele pode e vai fazer. Aquela mulherzinha dele quer fazer um salão de beleza aqui.
– Vou mostrar a eles com quantos paus se faz uma canoa. – Peguei as chaves do meu carro dentro da bolsa.
– Pra onde você vai? – Ela me olhou assustada.
– Ter uma conversinha com o Todo Poderoso. – Revirei os olhos. Não era óbvio?
– Ficou louca? Ele vai te matar. – Ela tentou segurar meu braço mas consegui soltá-lo com facilidade.
– Que me mate, mas ele não vai fechar essa ONG. –Falei decidida e sai porta a fora.
Entrei em meu carro e a toda velocidade subi o morro em direção a boca. Ele acha que é assim? Quando a madame manda ele vai lá e obedece feito um cachorro? E as minhas crianças? Ele não pensava nisso?
Parei o carro em frente a boca. Mal coloquei o alarme no carro e já entrei.
– Ih a patricinha já chega cheia de marra. –As pessoas já me conheciam por ali e já sabiam da minha marra. O Americano parou na minha frente. Eu já o conhecia desde que me juntei a ONG. Ele vira e mexe aparecia por lá pra olhar as minhas aulas. Saímos algumas vezes para comer e ele foi super legal comigo. Fizemos uma boa amizade e ele sabia que eu não era mulher para ele catar e jogar fora. Então ele nem catava.
– Colé gatinha. – Ele disse vindo me abraçar mas desviei. – Ih qual foi?
– Hoje não Americano.
– Que bicho te mordeu?
– Que bicho? A cobra Americano, ela vai fumar se seu amiguinho fechar a ONG.
– Amiguinho? Coringa? – Ele me olhou confuso e eu afirmei com a cabeça. – Saquei, mas colé mina deixa isso pra lá. –Ele tentou me tirar dali.
– Deixa-me Americano, eu vou lá falar com ele. Ele não pode fazer isso com as minhas crianças.
– QUE PORRA É ESSA AQUI? –Era ele. O bambam do pedaço, todo Poderoso, o Grande imbecil.
– Vai dar merda. – Americano disse e coçou a cabeça. As pessoas a volta poderiam estar chapadas mas sabiam que aquilo não iria terminar bem.
– O que essa mina ta fazendo aqui em cima? – Coringa chegou cheio de autoridade pra cima de mim.
– Vim falar com você. –Soltei-me do Americano e encarei o Coringa.
– Pode falar então. – Coringa me encarou
– Na frente de todo mundo? Tem certeza? – Cruzei os braços
– Pra minha sala. –Ele abriu a porta de sua sala e eu o segui. – Levanta caralho. – Ele mandou uma puta praticamente nua se levantar dando um tapa em sua coxa. Ela reclamou, mas saiu. Ele sentou em sua mesa, acendeu um charuto, soltou a fumaça no ar e me olhou. – Fala.
– Por que vai fechar a ONG?
–Tenho planos pro local.
–Um salão de beleza?
– Te interessa? Mas se qual o problema? O morro é meu e eu faço o que eu quiser.
–Você não vai transformar aquilo ali no mundo da Ariel. Ali é o mundo da Camilla e se a Ariel quiser ele que vá fazer suas graças no meio da merda da Baía de Guanabara.
–Meça suas palavras, patricinha.
–Quem é que vai me fazer medir? Você? – O desafiei. Eu era assim: Impulsiva. Não tinha medo de nada. Mas as situações de risco que me metia me dava certo prazer às vezes.
Ele levantou a camisa e mostrou uma arma que portava. Como se aquilo fosse me ameaçar. O encarei e mantive minha posição.
– Quem é que manda nessa porra?
– Dilma Rousseff, presidenta do Brasil. Você é só alguém que acha que tem posse de algo. Mas oficialmente quem manda são os governantes e você é só mais um otário. –Ele riu e eu não estava achando a menor graça.
– Olha só patricinha, foda-se os seus caprichos, foda-se sua ONG ridícula. Aquilo acabou e foda-se.
– Diz foda-se para os caprichos da Ariel porque só EU digo quando a ONG acaba. –Dei a conversa como encerrada e sai da sala. Pensei que ele fosse vir atrás de mim, mas eu simplesmente entrei em meu carro e voltei para a ONG.
–Ai menina, que susto que você me deu.
– Falei com ele.
– E ai? –Contei tudo pra ela nos mínimos detalhes e ela riu. – Queria ter um pouco da sua coragem.
– Ninguém vai tirar esse lugar da gente. Tá certo?
– Estou contigo.
Começamos a limpar o local para mais um dia de trabalho. E aquela história com o Coringa não havia terminado, eu tinha certeza disso.

Coringa Narrando
Eu iria matar aquela patricinha nojenta, ela não é ninguém pra chegar assim cheia de autoridade pra cima de mim. Assim que ela saiu, estava prestes a ir atrás dela quando o Americano entrou na sala.
– Manda sua amiga sai do meu morro agora.
– Deixa a mina mano, ela só é mimada.
– A piranha ta achando que é assim que a banda toca?
– Porra mermão a mina é todo cheia de marra.
– A marra dela acaba ou ela acaba.
– A mina é gente boa.
– De que lado você está agora?
– A ONG é uma boa aqui no morro mano. As minas tem um trabalhão lá.
– Se ela não viesse com tanta autoridade assim eu mudaria de ideia. Mas eu quero aquela porra abaixo amanhã.
– Sério mesmo que vai pela ideia da Ariel? Sabe que é só um capricho dela. Ela nem dirige os carros que você da pra ela. Mas mesmo assim ela pede.
– Não se mete na minha vida. –Fechei a cara.
– É burrada acabar com a ONG, papo reto e de irmão. – Ele saiu da sala.
Sentei na minha mesa e fiquei ali. Aquela putinha não tinha direito de chegar assim. Se eu baixasse a cabeça pra ela, com certeza ela ia achar que manda e desmanda em mim. E logo as putas do morro já iam achar que poderiam se criar pra cima de mim.
Mas até que a ONG agrada a criançada. E realmente aquilo era só mais um capricho da Ariel. Que ela nem daria continuidade. Ela ali no morro já faz o cabelo a hora que quer e aonde que quer. Não precisa de um salão de beleza. Quer saber? Foda-se.
Acendi mais um charuto, mandei os moleques já partir em missão, contei os malotes de dinheiro, comi umas piranhas e fiz meu dia.

Americano Narrando
A loirinha estava brincando com fogo. E ela e o Coringa já são faísca e pólvora, daí já viu quando eles se encostam né. Ela não baixaria a cabeça pra ele, talvez ele baixasse a cabeça pra ela. Mas ai eu já não sei. Eu já dei meu conselho pra ele, agora se ele seguir ou não ai problema. Ariel é o problema, quando ela quer tem que ser na hora, e o Coringa faz todas as vontades dela.
Vendi umas paradas pelo morro, dei um role de moto e parei na ONG. Deixei a moto ali por perto e entrei. Estava no meio da aula da loirinha. Ela dançava tão bem. Ela nasceu para aquilo. As crianças a viam como uma deusa e a idolatravam. Ela me viu pelo espelho e sorriu. O Coringa precisava ver o trabalho delas aqui.
Não ia deixar as meninas perderem a ONG. Eu ODEIO a Ariel. Se eu pudesse matá-la já teria a matado há muito tempo. Não suporto nem ela me olhando. E eu tinha um coringa na manga.
Sai da ONG, subi na minha moto e desci o morro. Cheguei à pista e pilotei até ali por perto. Parei em frente a uma casa enorme. Casa da ex fiel do Coringa e da minha sobrinha linda. Toquei a campainha e quem veio me atender foi a Thalita, a ex do Coringa.

Deusa da Ostentação Where stories live. Discover now