Vinte e Quatro: A bagagem - parte 1

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Antes de qualquer coisa, eu não morri. Fui consumida pelo dia-a-dia como um ser humano normal. O trabalho e a pós-graduação me consumiram, meu computador resolveu pifar e meu namorado gentilmente o melhorou para mim. Para piorar, sofri um branco, um vazio, uma trava mental que me fez querer desistir de escrever. Pensei: não consigo mais. E sofri isso meio calada.... Porque para escrever você precisa de imaginação, não é mesmo? Mas, nada vinha. Escrevi duas vezes o mesmo capítulo... E desiti.

Então, esses dias, eu reli meus textos, reli comentários e chorei: o cotidiano é cruel, ele nos faz esquecer da nossa paixão, e aqui estou novamente... Para agradecer ao apoio e pelos comentários lindos. Escrever é uma paixão. Uma paixão que eu não ganho absolutamente nada no sentido de dinheiro, mas ganho um carinho incondicional e uma satisfação que é difícil por em palavras. Por isso, lembrei de uma frase do poeta Rainer Maria RIlke:

"In the deepest hour of the night, confess to yourself that you would die if you were forbidden to write. And look deep into your heart where it spreads its roots, the answer, and ask yourself, must I write?"

― , (Cartas para um Jovem Poeta)

(" Na hora mais profunda da noite, confesse a si mesmo que iria morrer se você fosse proibido de escrever . E olhe profundamente em seu coração onde se espalha suas raízes , a resposta, e pergunte a si mesmo , devo escrever ? ")

Obrigada!

----------------------------------------------------------------- Boa leitura!

Meus dedos pareciam ter vida própria. Eu estava digitando o nome de Giselle mais rápido do que me lembrava como "Papanicolau". Giselle e Leon não é um nome de casal muito convencional. Por isso, não me surpreendi quando apareceu a imagem de um Leon quase púbere e uma menininha loira que me lembrava até a Mel. Aparentemente só um Leon e uma Giselle namoraram, mas era besteira... Porque deve ter tido mais casais assim, mas não tão famosos desse jeito.

Os dois estavam abraçados e pareciam apaixonados. Cliquei numa notícia qualquer e vi que era uma revista digitalizada. Era uma notícia boba sobre eles irem numa festa juntos. O Leon tinha apenas dezenove anos. Era até ridículo eu ter ciúmes de alguma coisa desse tipo. Afinal, eu nem imaginava que ele existia nessa época. Eu deveria ter menos de quinze anos e deveria estar indo para academia e flertando com o babaca do Fernando. Como eu poderia ter ciúmes de uma bagagem como essa? Com tantos anos já terem passado.

Mas, não foi o jeito meigo de Giselle Monjardim que me chamou a atenção. Nem porque ela era filha de uma artista famosa dos anos 80. Ou porque ela deveria herdar R$ 100milhões de reais do avô paterno que era um ex-diretor global. Foi o perfil baladeiro e conquistador de Leon. Descrito como um jovem fútil que pretendia descontar na bebida a saudade do pai rico e alcoólatra. As notícias eram antigas. Tinham poucas. Uma falava que o romance acabou após ele a trair e trocá-la por uma dançarina de funk chamada Vanezza.

Sem querer encontrei a segunda garota de Leon. Pensei: uma só basta, não é mesmo? Porque vou querer saber sobre essa dançarina e me irritar? Minutos depois eu estava vendo a foto dela com o vestido mais micro que vi alguém usar nos anos 2000. Eram um casal terrível. Depois lembrei que ela virou uma cantora de funk melody de um sucesso só em 2009. Confesso que ainda lembro do ritmo e sei a coreografia. Os dois amavam um barraco aparentemente. Um vivia traindo o outro e isso durou por dois anos inteiro. Nesse meio tempo eu já havia beijado o Fernando e estávamos vivendo um romance adolescente... só que com mais fervo. Dei risada lembrando das baladas que eu ia e como minha mãe queria me matar. Coitadinha... Quanto trabalho eu dei.

Pelo jeito, Leon havia dado ainda mais trabalho do que eu. Quer dizer, com mais dinheiro é mais fácil dar mais trabalho. Há mais festas para ir, mais dinheiro para bebidas e drogas e como driblar a justiça quando você tem mais poder. Entretanto, o boom do relacionamento com Vanezza foi quando ela resolveu o trair com uma cantora Gospel. Enfim, um escândalo. Ele terminou e conheceu a jovem, linda e promissora artista plástica Pietra Machado. Pietra tinha no mínimo dez anos a mais que Leon na época. Ela era uma das poucas artistas brasileiras a fazer arte e ganhar dinheiro com isso.

A Herdeira - Quebrando as regrasWhere stories live. Discover now