Capítulo trinta e três: Liberdade

581 60 4
                                    

- Eu não esperava menos de você. - Pedro disse sorrindo de canto. Olhamos em conjunto para Máximo do outro lado do café da faculdade. Era o intervalo e estávamos comendo pães de queijo, dois copos cheios deles, e tomando café com leite em copos de isopor.

- Pare de rir de mim! - Exclamei rindo também.

Eu até queria fazer referência a princesa de Genovia, mas ele não conseguiria entender. Nem era da época dele sem falar que ele não parecia o tipo que leria "O diário da Princesa". Nunca imaginei que falaria algo assim: da época de alguém. Uma época que não era a minha. Porque em algum momento da minha história, na verdade em vários momentos eu era a caçula. Mas, agora eu não era mais. Muito menos numa faculdade dessas. Com 26 anos, eu me sentia uma idosa perto da média de 20 anos dos alunos. Suspirei ao concluir que não havia muito o que eu fazer. O tempo não sossega.

Pedro me encarou com curiosidade sem fazer a mínima ideia do que passava na minha mente. Mas, obviamente estava curioso.

- Ainda chocada em ter um segurança próprio? - brincou.

Eu o praguejei rindo. - Fica quieto. Ninguém merece isso.

- Por quê? Esse homem não existia até ontem. Está tudo bem?

Eu confiava em Pedro e queria contar. Mas, senti que não fazia sentido após o discurso do sequestro entre meu avô e o pai de Sebastian e Rosa. Eles pareciam querer ser discretos. Em outra época, eu contaria e daria um jeito de me vingar. Hoje, não senti essa vontade. Acho que estou evoluindo.

- Meu avô acha que apronto muito e quis alguém pra me vigiar. - Brinquei.

-Faz muito sentido. - Ele brincou de volta. Mas, lá no fundo eu achei isso ofensivo.

Avisei que já havia dado o horário e acabamos voltando para a sala de aula. Obviamente andar com um brutamontes de seu lado chama bastante atenção. Não é culpa de Brutos. é culpa de meu avô e Leon. Brutos, como apelidei carinhosamente, Máximo, apenas porque ele é grande como o arqui-inimigo do Popeye.

Pedro tenta não rir e falha miseravelmente. Ele sabe que eu me sinto incomodada por chamar tanta atenção. Era só isso que eu precisava. Andar com um segurança para cima e para baixo. Por sorte ele não entrou na sala de aula. Mas, antes de entrar eu vou até ele:

-Será que consegue vir mais à paisana? - falo me referindo do look de segurança com terno e gravata pretos - Isso chama muita atenção. – Sem esperar ele responder, eu virei e entrei na sala de aula.

Até havia gente que vinha assim, os que já estavam no mercado de trabalho, faziam faculdade noturna, não tinham tempo de trocar de roupa antes da aula e estavam no último ano. Eu estava no segundo ano e ainda faltavam dois anos de curso. Também não estudava no período noturno, ou seja, pela manhã, ninguém usava ternos. Mas, ele estava andando ao meu lado o dia inteiro, não tinha como não olharem para nós. E eu sozinha já chamava muita atenção. Até porque eu era a única negra no meu curso, além de um outro cara, e porque eu já tinha uma fama. Não que essa fama fosse positiva.

Durante a aula, olhei insistentemente para o meu celular. Eu havia mandado quinze mensagens para Leon, querendo que ele afirmasse se tinha mesmo a ver com tudo isso. Mas, ele não havia ainda me respondido. E isso estava me matando, de verdade. Eu ainda não podia acreditar que a minha vida estava tão maluca em, sei lá, quarenta e oito horas. Não que eu tivesse esquecido do pedido do Leon. Mas, eu ainda não havia o respondido.

"- Depois conversamos. Qualquer coisa me liga, eu volto hoje à noite."

Ele havia me dito, mas ele não havia voltado. Pelo contrário, ele havia voltado para o nordeste, para os negócios, para as obrigações... E eu estava esperando. Segurando minha vontade de mandar um textão sobre esse pedido que nem esperou a minha resposta.

A Herdeira - Quebrando as regrasOpowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz