- Ei aonde pensa que está indo rainha? - Brinco.

- Perdi o sono. - Ela diz. - As vezes parece que me sinto sufocada e quero correr lá para fora só para respirar. Minha mãe disse que ela sentiu assim na primeira noite aqui, e correu, meu pai apareceu. Foi como se conheceram.

Eadlyn fica muito terna, menos segura e mais frágil quando fala da sua família. Eles são seu mundo. Tenho reparado nela nos últimos dias, ela alterna momentos de segurança com outros que parece perdida.

Tenho curiosidade de perguntar, tenho medo da resposta, então não faço a pergunta.

- Não acha estranho nos conhecermos há tanto tempo que é impossível saber que momento aconteceu? - Eadlyn pergunta.

Como foi que uma pergunta sobre para onde ela estava indo acabou levando a uma conversa sobre nós?

- Provavelmente minha mãe foi visitar sua mãe no quarto, eu tinha um ano e fui junto. - Respondo. - Vai ver sua mãe te deu banho e eu fui o terceiro cara a te ver nua, depois de Ahren que já te via na barriga e seu pai.

Eadlyn ri, naturalmente e alto. Isso muda o momento. Nenhum som que escutei no último ano conseguiu suprir a falta que me fazia ouvir Eadlyn rir por algo que eu disse ou fiz.

- Você não tinha rido assim desde que cheguei. - Comento.

Ela para de rir.

- Isso porque você é um idiota. - Ela fala sorri de leve. - É o nervosismo com a coroação.

- Por que? - Questiono.

Ela já tem experiência com isso.

- Você nasceu para ser rainha Eady. - Digo o óbvio. - Já teve sua coroação um ano atrás, eu estava aqui, e então uma semana após o fim da Seleção pediu licença do cargo alegando...

- Precisar de um tempo para me adaptar a minha nova vida. - É ela quem termina. - Eu ia me casar, tinha tanta coisa pela frente e eu queria aproveitar isso e ser rainha e noiva era horrível.

- Não imagino um noivado impedir Eadlyn Schreave de ser rainha, ainda mais com o trono ameaçado pelo Marid. - Faço uma observação.

Eadlyn me dá um olhar como se quisesse me ordenar para parar de falar ou fazer perguntas. É o mesmo que ela usava quando eu queria puxar conversa ao invés de nos beijarmos.

- Marid parou de interferir logo, ele não era tão assustador quanto parecia. - Diz. - Kile, tem um minuto? Eu gostaria de te mostrar algo.

- Claro.

Nós andamos em silêncio pelo palácio. Uma tensão estranha entre nós. Eu não me dou conta para onde estamos indo até estarmos no corredor do quarto dela. Ela caminha com mais pressa e empurra a porta.

Eu paro antes de entrar.

- Eady é seu quarto, não posso entrar. - Digo.

- Tecnicamente, não é meu quarto mais. - Ela responde. - Além do mais selecionados também não poderiam entrar no meu quarto e você não se incomodava. Agora entra trouxa.

Ela me empurra para dentro do quarto. Mesmo que ela tente parecer segura e certa do que está fazendo a atitude dela de deixar a porta aberta demonstra que ela não está totalmente de acordo que seja correto.

- Quando você foi embora, eu voltei ao seu quarto, você deixou várias coisas, inclusive desenhos. - Eadlyn conta.

Ela entrou no meu quarto depois de eu ir embora? Depois de estar noiva? Eadlyn está parecendo cada vez mais complicada de se compreender.

- Seu projeto da casa de praia estava lá. - Ela continua e anda pelo quarto a procura de alguma coisa e a encontra em uma das suas prateleiras.

Surpreso vejo que lá também está a maquete do quarto dela que eu enviei no seu aniversário. Eadlyn descobre a direção do meu olhar e sorri.

- Ficou tão perfeita. Cada detalhe. - Diz. - É incrível que pudesse se lembrar. Obrigada. Eu nunca te agradeci por ela. Mas o que eu queria te mostrar é isso.

Ela pega uma caixa de tamanho mediano e abre em minha frente, a minha gravata está lá dentro, um pedaço recortado de jornal com o nosso beijo no corredor e várias fotos nossas em diferentes momentos, na festa no jardim, eu com a coroa dela, na cozinha, nós dois com Gavril em um dos jornais, tem uma minha segurando ela na coroação e nós dois rindo. Tem até mesmo uma de nós dois bebês. Ela está tirando-as e colocando sobre a cama, onde já se sentou.

- Eu tinha guardado as coisas dos selecionados em uma caixa, mas você não podia estar em uma caixa qualquer junto com eles. Você não é qualquer um. - Ela fala.

Tenho certeza que ela falou isso supostamente como se fosse uma coisa boa, mas não é assim que eu vejo, parece que ela despejou um peso sobre meu peito me dando a consciência de que eu fui reduzido a uma caixa.

- Veja. - Eadlyn diz entregando algumas fotos na minha mão.

Há uma casa, varias fotos dela por dentro e por fora, e embora eu nunca tenha estado lá eu a conheço melhor do que qualquer um. É a minha casa para ela. A casa de praia.

- Quando foi que...

- Pensei muito sobre ela. Você disse que tudo que queria fazer era algo por mim. - Explica. - Então eu achei que era justo manter nossa lembrança em algo muito maior do que uma caixa. Eu tomei a decisão de construir isso por mim mesma.

Eadlyn me enche de certeza que superou seja lá o que nós tenhamos tido, mas então tem atitudes que me cobrem de duvidas.

- As vezes você não tem parecido você nos ultimo dias. - Digo calmamente. - É incrível que a unica vez que tenha sido a Eadlyn decidida nos últimos meses foi para fazer algo por nós. E obrigada. Eu fico feliz de saber que sou mais do que uma caixa, mas eu ficaria mais feliz se percebesse que você não passa a maior parte do tempo medindo seus próximos passos ou sendo cuidadosa.

Ela passa a mão por meu cabelo e o bagunça. Ele está mais curto do que quando fui embora e ela não consegue bagunçar tanto quanto ela gostaria.

- Eu gostaria de te dizer, gostaria que entendesse, mas tenho medo que qualquer palavra que saia da minha boca seja mal interpretada ou mal vista. - Ela fala apressadamente se levantando da cama. Só então noto o papel dobrado em sua mão,provavelmente tirado da caixa. - Escrevi isso alguns meses atrás e não te enviei, talvez te ajude a entender o que há comigo.Mas me prometa que não vai me questionar depois e tornar tudo isso pior?

- Eady eu não posso prometer sem ler. - Falo.

- Prometa. - Ela fala em tom de ordem e recua um passo mostrando que não vai me dar o papel se eu não prometer.

Talvez seja porque gosto de vê-la sendo autoritária, ou porque eu estou curioso para saber o que ela me escreveu e não teve coragem de enviar.

- Eu prometo.

Eadlyn estica a mão e me entrega.

- Agora saia daqui! - Exclama e eu deixo o quarto. Amassando e segurando papel tão forte como se minha vida dependesse dele.

Um guarda está no corredor quando eu saio. Evito olhar para ele porque sei que tipo de coisa pode estar se passando em sua cabeça sabendo que Eadlyn e eu estávamos sozinhos em um quarto.Só espero que isso não chegue ao meu pai.









A Verdade {fanfic de A Seleção}Where stories live. Discover now