Capítulo 7

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- Isso não vai funcionar. - Falo.

Os seis homens sentados em suas cadeiras ao redor da mesa de reunião me olham. É assim a cada vez que opino desde a ultima semana, sou superior a metade deles em questão de cargo, e mesmo que os outros três tenham cargos maiores eles se sentem obrigados a me ouvir porque sou o representante direto da realeza aqui.

- Pode ser viável para Angeles, mas e para as regiões mais pobres? - Questiono o projeto de moradias sendo apresentado. - O rei disse que precisamos unificar as coisas, projetos a nível geral, o país todo, e não regionalizados.

Escuto alguns suspiros e resmungos baixos, mas ninguém tem coragem de dizer algo para mim de verdade. É irritante. Em Bonita era mais fácil ser ouvido porque as pessoas realmente davam valor no que eu tinha a dizer, aqui é tudo obrigação.

Passamos horas mais propondo ideias e trabalhando para chegar a um consenso, e quando chegamos é só a primeira etapa de um longo processo criativo que ainda virá. Chego no  palácio ao entardecer, fico me repetindo que vou procurar uma casa, mas eu nunca vou.

- Você parece esgotado. - Josie comenta me vendo no corredor. Ela dorme no quarto ao lado.

Ela está diferente, não parece mais a menininha que deixei um ano atrás. Agora mesmo ela está usando jeans invés de um de seus vestidos, mas tem outra coisa que me surpreende mais. Levo a mão ao seu queixo e seguro seu rosto.

- Está usando maquiagem. - Tomo nota em voz alta. Ela sempre foi vaidosa com roupa e cabelo, mas não sobre maquiagem. - Tem algo a ver com Kaden?

Josie cora um pouco antes de empurrar minha mão longe de seu rosto.

- Do que está falando?

Dou um riso breve e balanço a cabeça em negativa. Tenho certeza que uma garota de dezesseis anos não quer falar sobre isso com os  pais ou com o irmão mais velho.

- Não é nada. - Digo.

- Tá. Nós vamos jogar antes do jantar, críquete de quatro jogadores, ia ser legal se juntar a nós, ter alguém bom de verdade além de Kaden, assim ele não ia ficar todo convencido. - Ela faz careta.

Vamos fingir que eu realmente acredito que ela não gosta nem um pouquinho que ele pareça presunçoso e convencido. Faz tempo que não jogo isso, talvez seja divertido.

- Eu vou estar lá para uma partida. - Me comprometo.

Meu quarto está uma bagunça quando entro, tenho que começar a deixá-lo melhor. Lembro-me de quando Eadlyn e eu brincamos sobre minha higiene durante uma das edições do jornal, durante a seleção, naquela época as pessoas pareciam amar a ideia de dois amigos de infância viverem uma história de amor.

Pego a bagunça pelo chão e jogo em cima da cama antes de tomar banho. Não demoro muito, porque se demorar já será hora do jantar e não poderei jogar com Josie.

Abro a porta do meu quarto para sair e Eadlyn está parada no corredor, em frente a minha porta.

- Aconteceu alguma coisa? - Pergunto analisando sua expressão.

- Depois de amanhã serei rainha, e serei rainha por muito tempo, eu nunca mais vou voltar atrás até que eu passe a coroa, provavelmente para um filho meu. - Ela tagarela não conseguindo manter a calma. - Eu já estou nervosa e então meu marido resolve passear e quando eu perguntei o porque ele disse que é porque minha condição de rainha vai limitar ainda mais nossa vida.

Ela se aproxima mais da porta, mas quando eu tento segurar suas mãos e fazê-la se acalmar se afasta de novo.

- Minha condição. - Eadlyn repete. - Eu era rainha quando ele disse sim, e ele sabia que eu seria a próxima a rainha quando se apaixonou. Nenhum de nós pensou direito. Eu deveria ter percebido que me casar com um homem pacato demais, introspectivo demais, sem ambição demais era problema. Agora estou uma pilha de nervos achando que não sou capaz de administrar um casamento então como farei isso com um país.

Nunca vi ela tão fora de controle, ela está a beira de um colapso nervoso.

- Eadlyn, se acalme! - Elevo minha voz para forçá-la a parar. - Você é maior do que qualquer problema. Você demitiu um cara quando era só regente porque ele disse que você estava sendo sensível demais.

- Sim! - Ela concorda quase dando um sorriso. - E eu gostava daquela garota, e eu perdi um pouco dela no processo. Ontem um dos conselheiros foi mais duro comigo e eu sai da sala ou eu iria chorar. Faz um ano que estou assim Kile, a flor da pele, e estou cansada de estar.

Não convivi com ela no ultimo ano, não posso fazer uma observação confiável do porque ela está assim agora, mas sei que começou com Erik. Eadlyn começou a se deixar levar demais por sentimentos, e agora não sabe mais como detê-los.

- Amanhã, você vai ter seus compromissos, e não vai ser como ontem, hoje ou qualquer dia no ultimo ano. - Digo a ela.

Deixo definitivamente meu quarto e vou na direção dela. Fico parado em sua frente.

- Inspire e expire. - Peço e ela não faz. - Eadlyn faça.

Ela puxa o ar forte e o solta com a mesma força.

- Ótimo. - Falo. - Agora quando você for as suas reuniões seja a Eadlyn de verdade e não essa fraca e trouxa que deixou no lugar.

Eadlyn me olha chocada.

- Como é? - Pergunta.

- A ultima coisa que espero de você é estar no meu quarto fazendo essa ceninha. - Continuo.

Conheço ela o suficiente para saber que ela melhora quando se sente desafiada, quando quer mostrar que pode ser melhor.

- Ok. - Ela ajeita sua postura e fica séria. - E a proxima vez que me chamar de fraca ou trouxa vou banir você de novo.

Sorrio satisfeito pelo resultado obtido. Essa sim está se parecendo com a velha Eady.

- Quer jogar críquete? - Chamo.

- Não. - Ela é imediata.

Ela tenta se afastar, mas seguro seu braço e enlaço com o meu.

- Nós vamos jogar críquete. - Afirmo ignorando a careta dela e a tentativa dela se soltar.

Maxon e Osten estão jogando uma partida contra Kaden e Josie. Ela já está descabelada, desarrumada e sem maquiagem, mas Kaden está olhando para ela como se ela fosse a coisa mais linda que seus olhos ja viram.

- Somos os próximos! - Grito.

O rei larga o taco no chão e dá um suspiro cansado.

- Vou deixar isso para os jovens. - Ele fala. - E se tem alguem que pode vencer Kaden este alguém é você.

Ele dá um tapinha no meu ombro e caminha em direção ao palácio, seguido pelo filho mais novo.

- Agora é um jogo de gente grande. - Kaden diz.

Eadlyn e eu rimos.

- Você não é grande! - Eadlyn exclama tirando os sapatos. Algo que eu não esperava. - O que foi? Josie também está sem, deve ser melhor para correr e assim não vai me culpar se perdermos.

Ela e eu estamos com os tacos. Eadlyn assume a base ao lado do irmão e eu da minha irmã. Josie é a primeira a arremessar e não faço ideia do que é mais deprimente, ela ser tão ruim de mira ou Eadlyn não acertar a bola fraca que ela mandou.

- Isso foi horrível, Josie. - Kaden reclama.

- Isso foi horrível, Eadlyn. - Aproveito a deixa. - Kaden vai tacar e eu vou acertar, se não correr...

- Cala a boca Kile! - Ela grita.

Ok. Espero a bola de Kaden vir em minha direção, tenho certeza que vai acertar a garrafa, mas eu sou rápido em acertar a bola e mandá-la longe.

Kaden corre para buscá-la e Eadlyn e eu corremos para tocar nossos tacos, ela corre de verdade, o que me surpreende. Enviei a bola longe o suficiente para batermos seis vezes antes de pararmos na base.

Olho para ela que está ao lado do irmão, ofegante, toda desalinhada, mas ainda assim mais linda e mais feliz do que eu tenho visto desde que cheguei.

Só consigo pensar que hoje eu fiz algo certo por ela e nada poderia ser melhor do que isso no momento.

A Verdade {fanfic de A Seleção}Where stories live. Discover now