Capítulo 50: A verdade

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Ele riu de mim, como se eu fosse uma criança segurando uma arma de brinquedo.

Observando-me com cautela, passou um bom tempo em silêncio, talvez tentando reconhecer se minha arma era a mesma que Nicolas havia deixado cair no túnel. Depois da possível confirmação, finalmente ele resolveu falar.

- Se esqueceu que após o ritual fui levado para fazer vários exames desnecessários? Durante o exame de sangue, enquanto observava aquelas agulhas, pensei comigo: Não fazia diferença tirar um pouco mais. Aquilo me seria bastante útil. E hoje era o dia ideal para usá-lo.

- E você não tem medo de descobrirem a quem pertence?

- E como fariam isso? Examinando cada aluno de Georgetown? Esse sangue tem algo a meu favor Peter, ele é AB positivo.

- Sangue típico dos semitas, bastante comum entre os judeus. – Disse Sasha, admirada com a genialidade de nosso "colega", enquanto que Joe ria da sagacidade da garota.

- "Sangue de Cristo!" – Bradou, olhando para cima com tremenda ironia. – Agora a brincadeira está mais convincente, não acham?

- Você realmente espera que acreditem nisso? – Questionei, acompanhando os passos da dupla, que caminharam até o corredor da nave. Não sei se me sentia mais seguro atrás da mesa, mas acho que estava entendendo o que queriam com aquilo.

- Pensava que tínhamos estudado isso no início do ano... – Disse Joe, ainda rindo sarcasticamente. – Se nós americanos ficamos boquiabertos quando a cara de Jesus aparece em uma torrada, quem dirá quando uma imagem dessas começa a sangrar. Nosso imaginário religioso é dominado pelo terror do sobrenatural. E onde há medo pela superstição não há Ciência que o dissipe. Enquanto houver picaretas no mundo, haverá idiotas para acreditar em suas farsas. O que estamos fazendo não é muito diferente dos programas religiosos que passam na TV. A diferença é que aqui não cobramos nada da audiência.

- Mas ao contrário deles, nós descobrimos a farsa. E o que resta a vocês é se explicarem por tudo isso! – Desafiei, saindo da plataforma de madeira, fechando a passagem rumo à porta em que entramos. Percebendo minha estratégia, Joe se enfureceu.

- Saia da minha frente, ou...

- Vai atirar? – Disse, encarando a arrogância de Joe com uma imponência que não sei de onde tirei. – Você não seria tão idiota. Atrairia a Universidade inteira para cá.

- Você está me subestimando... eu atiro nos dois! – Gritou, assustando Sasha, que deu um passo atrás, se escorando na mesa do altar. Percebendo que seu amigo estava perdendo a calma, Nicolas correu rumo à porta de entrada da Dahlgren, na tentativa de abri-la.

- Você não vai matá-la, muito menos a mim. – Disse, tentando alimentar aquela discussão inútil, tentando "desarmá-lo". – Se você fizer isso sabe muito bem o que te espera. Se abaixar a arma as consequências serão bem menores.

- Eu só abaixarei a arma quando sair desse curral. – Enquanto Joe continuava com suas ameaças, pude visualizar o desespero de Nicolas, tentando, em vão, abrir aquelas grossas portas de madeira.

- Então é melhor ligar para alguém, pelo visto estamos trancados. E agora a Capela só abre para os ofícios da manhã. – Disse, rindo em silêncio, percebendo que ele jamais conseguiria abri-la. Creio que as chaves da Capela ficavam na posse dos padres que guardavam o templo, e não guardadas na sacristia, como os dois marginais imaginavam e foram procurar. Só havia uma única entrada e saída naquele momento. E eu estava protegendo-a como uma gárgula.

- Filho da puta! – Xingou Joe.

- Relaxe meu amigo, não vamos a lugar algum com essas armas apontadas. E sei que também não vai abaixá-la. Por isso, se vamos perder tempo conversando, que se esclareçam algumas coisas.

PAI NOSSO QUE ESTAIS NO INFERNOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora