Capítulo 48: O conflito

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Eu ainda estava de olhos fechados quando, em um rápido impulso de minhas mãos, consegui tocar algo.

Aquela primeira sensação fez meu coração disparar. Era algo gélido e rígido. Eu tateava às cegas, mais por medo do que pela falta de iluminação. Então, ao abrir meus olhos, pude finalmente ver o que estava tocando. É incrível como os seus olhos depois de um tempo se acostumam com o escuro, e como o mais raro foco de luz te faz enxergar tudo ao seu redor.

Aquela brisa luminosa ainda pulsava, vinda da curva a qual eu havia fugido. Mas o que me interessava agora era perceber o que havia me derrubado. Acima de mim havia uma espécie de registro preso à parede, o mesmo que, em minha corrida sem rumo eu havia enganchado minha jaqueta, dando o solavanco que me levou ao chão.

Apoiando os joelhos naquele chão imundo, me levantei com um pouco de dificuldade. Minha mochila, praticamente vazia, não ajudou em nada no impacto, mas meu pensamento estava ainda atordoado para analisar se eu havia sofrido alguma lesão ou fratura. Apenas algo me incomodava naquele momento além da dor: A aparição que tinha visto.

Eu realmente tinha visto aquela "coisa" pairando diante de mim. Da mesma forma fui atacado por aquela ameaça, invisível, porém, aterradora. Mas ao mesmo tempo, minha mente racional não conseguia aceitar aquele absurdo.

Fantasmas não existem!

E a repetição desse pensamento não era uma simples tentativa de acalmar meu medo. Era uma certeza que preenchia minha cabeça, também movendo meus pés ao impensável.

Eu preciso saber!

Avancei pelo corredor a rápidos passos, avistando de imediato a sala de máquinas.

Preciso comprovar!

Meus pés só faltavam sair do chão pela tamanha – e inexplicável – euforia que tomava conta de mim. Eu havia perdido o mapa, a câmera, e principalmente... Sasha. E essa minha última preocupação foi uma das razões que guiaram meus pés de volta à encruzilhada.

Ao chegar diante da porta metálica, meus olhos travaram uma luta inconsciente sobre qual lado seguir. À minha esquerda, a direção do Copley Hall, onde provavelmente iria encontrar Sasha. À direita, o Healy Hall, e consequentemente, onde aquela aparição havia se manifestado.

Fechando meus olhos, não fiz uma oração ou pedi ajuda aos Céus para que estivessem do meu lado naquele momento. Simplesmente imaginei o que aconteceria caso pudesse aferir aquele fenômeno. As gloriosas possibilidades que surgiam em minha cabeça eram inúmeras. E tentando dissipá-las, fiz o que devia ter feito momentos antes.

Tirei minha mochila das costas e enfiei a mão, pegando o único aparelho que carregava: O EMF. Largando-a em frente à porta, prossegui naquele caminho ladeado de tijolos velhos, me afastando completamente da luz.

Uma coisa era caminhar por aquele corredor com a câmera atrás de mim, revelando tudo o que havia à minha frente. Outra era adentrar naquele túnel, abraçando a escuridão como se fosse uma amiga que não via há muito tempo. E foi com o mesmo e estranho desejo que aquela "coisa" mais uma vez veio ao meu encontro.

O corredor, que antes estava escuro, começou a se iluminar de uma forma diferente da primeira vez, como se o ponto de luz viesse de dentro da parede. Eu não tinha notado esse detalhe, muito menos tinha explicação para isso. E a consciência de que estava prestes a encarar "aquilo" novamente, me fez perder a noção da realidade, reacendendo o mesmo medo que tive da primeira vez.

Porém, duas palavras também ressoaram na minha cabeça, insistindo naquele louco pensamento.

Não existe.

PAI NOSSO QUE ESTAIS NO INFERNOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora