Capítulo 44: Traições

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Dia 16 de junho.

Lembro-me do sino da torre do Healy Hall bater uma única vez, anunciando o início da primeira hora da tarde.

Estava conversando com Karol, debaixo de uma grande árvore próxima à Lauinger. Estávamos abraçados, aproveitando a tranquilidade daquela sombra em um dia de forte sol, quando vi adentrar no perímetro da penumbra Andrew, ferozmente apressado.

- Preciso falar com você. – Disse ele, olhando diretamente nos meus olhos. Se não tivesse acordado daquele transe caminhante, talvez não tivesse se tocado que havia outra pessoa ali, além de mim. Meio desajeitado, ele se voltou para minha amiga, finalmente cumprimentando-a. – Ah... Karol, eu...

- Tudo bem, eu entendo. Oi para você também, Andrew. – Ela respondeu, em meio a um sorriso sarcástico, olhando em seguida para mim. – Qualquer coisa me liga.

Claro que ligaria. Mas Andrew devia ter um bom motivo para forçar aquela despedida que nem esperava, muito menos queria.

- Ligo sim. – Aqueles olhos eram intensos demais para desviar deles, e sem que percebesse, passamos alguns segundos só nos encarando, em silêncio.

- Até mais Pete. – Disse ela, tomando a iniciativa, se aproximando de mim para dar um beijo. No entanto ela me enganou. Enquanto eu virei para dar um beijo na sua bochecha, ela virou o rosto na mesma direção, selando minha boca com a totalidade dos seus lábios.

Aquilo foi tão inesperado que permaneci de olhos abertos, enquanto ela soltava um sorriso de satisfação.

- Besteira. – Disse, sussurrando para mim, em seguida, se despedindo de Andrew, e tomando seu caminho rumo à Lauinger.

Tanto eu quanto meu amigo passamos um tempo para processar aquela cena. Para mim não devia ser nada demais. Mas no fundo, eu apreciei aquele beijo com toda a estranheza e embriaguez já esperada. Ainda mais vindo de alguém tão especial como ela. Já Andrew estava definitivamente perdido.

- Você e Karol...?

- Longa história. Quando chegarmos em casa te conto, é mais seguro.

- Beijá-la no meio de Georgetown não parece tão seguro.

- Você não estava lá na Riggs. Eu fui atacado. Era como se Karol estivesse possuída, não sei explicar.

- Possuída?

- De tesão, entendeu? Foi algo intenso, não sei descrever. Mas estou gostando disso. – Ele relaxou, porém, sua expressão ainda transparecia sua inquietude.

- Se Sasha souber...

- O que tem Sasha? – Imediatamente, minha calma foi jogada pela grama, sendo trocada por uma impulsividade para responder aquela colocação idiota. – Ela não é minha namorada, muito menos temos algo sério.

- Anos de relacionamento me parecem algo sério.

- Anos de sexo, drogas e Rock N' Roll. É a única coisa que queremos um com o outro. Tanto pra mim quanto para ela isso já é o bastante. E posso dizer o mesmo de Karol. – Respondi, encerrando aquela conversa, mudando totalmente o assunto. – Você não deveria estar num seminário?

- Sobre Noam Chomsky? Deveria, mas não estou com paciência hoje. O seminário já começou atrasado. Sumiram com o projetor da sala.

- Como assim, sumiram?

- Sumiram, levaram, roubaram. Só sei que tiveram que substituí-lo e isso já tomou um bom tempo. Foi a desculpa perfeita para ir embora.

- Entendi. E por que veio a mim com tanta pressa?

PAI NOSSO QUE ESTAIS NO INFERNOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora