Cap 1

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Megan

A facada foi só um aviso de que eu estava cada dia mais encrencada. Em todos os sentidos.
Já no hospital, o Leon chegou perto, enquanto a médica dava alguns pontos no meu braço. Não tão perto, mas o suficiente para me desestabilizar e algo naquele homem me desestabilizava. Isso era raro. Talvez o seu olhar frio, sua falta de afeto que demonstrava nas conversas e que refletiam um comportamento a muito conhecido por mim.
Eu tentei seguir a vida sem encrencas, fugindo das confusões e evitando que meu nome surgisse na boca de alguém, sempre olhando para trás, esperando que a qualquer momento minha mãe aparecesse. Isso era engraçado por que ao mesmo tempo que eu não desejava vê-la nunca mais e um arrepio me atravessa a espinha com tal pensamento, algo lá no fundo sempre desejou que ela voltasse. Eu saberia dessa forma que ela me considerou sua filha um dia. Mães não abandonam filhos.
No começo dormi nas ruas de São Paulo, fazendo pequenos serviços durante o dia para comprar alimentos. A dança veio como uma forma de sustento e os empregos em academias dos subúrbios deram condições para que eu pagasse aluguel e aos poucos me estabilizasse. Sem luxos, mas dignamente.
- está doendo?- ele perguntou. Talve por obrigação de estar ali.
- nada dói em mim- respondi sinceramente.
- não deveria ser assim. Você é uma mulher. A cena aqui seria de você chorando.
- chorar é coisa de fracos. Você chora Leon?- perguntei o desafiando. Uma pontada de dor atravessou meu braço e uma pequena ruga se formou na minha testa.
- chorar? Coisa de fracos. Sentir dor, coisa de ser humano. Esconder a dor como você está fazendo agora e tentar ser forte como você tenta, coisa de tolos- ele respondeu. Sua postura esbanjava prepotência. Jogado na cadeira, com a perna cruzada e um braço sobre a nuca, algo nele intrigava quem estivesse por perto.
- tolos também costumam fazer diagnósticos psicólogos precipitados e sem fundamentos, como você acabou de fazer. Somente idiotas acreditam neles.
- então seus olhos sãos idiotas. Eles compreenderam minhas palavras- seu olhar sombrio me encarava, sem pestanejar.
- idiotas costumam oferecer apoio quando não são chamados e perdem tempo com tolos?- retruquei não desviando o olhar. A enfermeira limpava o machucado com algo que ardeu feito o inferno e um suspiro indevido escapou dos meus lábios.
- na verdade eu nunca perco tempo. Sempre faço alguma coisa por algum interesse. Como é o caso agora.
- e que interesse alguém que você chamou de idiota e de tolo, pode reservar?- disse. a curiosidade me fazendo entrar no seu jogo.
- quando saírmos daqui. Vou te levar para almoçar. Aí podemos conversaremos melhor.
- talvez eu não queira almoçar com você. Não te conheço o suficiente. Você pode me roubar ou abusar de mim.
- você não tem dinheiro para pagar nem o meu almoço e se um dia eu fosse com você para cama, provavelmente você iria implorar. Não preciso abusar de nenhuma mulher.
Eu tinha um adversário a altura, precisei confessar a mim mesma. Nessa conversa não teria ganhadores. Fiquei em silêncio. A médica não era obrigada a ficar entre o fogo cruzado.
Quando ela terminou, me entregou uma receita com alguns medicamentos e me levantei, já indo em direção à porta.
- ei- ele me segurou pelo braço- vem almoçar comigo. Tenho certeza que você também se interessa pelo que tenho a dizer.
- esta certo.
- me segue até o carro- ele ordenou, indo na frente e me deixando espantada com tamanha falta de educação.
O segui, precisando acelerar o passo para alcançá-lo.
O seu carro de luxo, me fez sentir aquela criança de novo entrando com desconhecidos para ir até a escola. Abandonei o pensamento. Mania de ligar tudo ao passado.
Ele não abriu a porta e provavelmente não conhece nenhuma regra de educação. Pouco me importa também. Não tenho intenção de continuar em sua companhia por muito tempo.
Ele dirigiu por uns dez minutos sem falta comigo nem sequer lançar um olhar na minha direção. Incomodada com a situação e visivelmente impaciente, comecei a bater os dedos na porta. O barulho provocado pelo contato, quebrava o silêncio.
- você pode parar com isso. Está me irritando- ele disse secamente.
Antes que eu pudesse ter qualquer reação, ele estava estacionando o carro em frente a um restaurante muito elegante. Realmente o meu salário , não seria suficiente para pagar seu almoço.
Como sempre muito mal educado, ele saiu do carro em direção ao estacionando e me deixou para trás. O acompanhei.
O lugar estava cheio. Ele tinha uma mesa reservada em um canto mais afastado, provavelmente deveria almoçar ali todos os dias, já que chamou os garços pelos nomes com certa intimidade.
Quando um deles se aproximou e me estendeu o cardápio, comecei a procurar pelo prato mais em conta. Ele percebendo minha indecisão, interviu.
- as sopas são as os pratos com preços menores.
Engoli seco com o comentário. Ele não pagaria minha refeição. Aproveitando sua indiscrição, fui direto ao assunto.
- pode me dizer o que quer comigo? Não sou obrigada a aguentar sua falta de humor e educação.
Ele me olhou tentando não demostrar nenhuma reação, mas por alguns segundos pude vislumbrar sua surpresa.
- peça sua comida e já digo o que quero.
Obedeci porque estava odiando tudo aquilo e torcendo para que terminasse logo. Ele não me daria ordens se é o que estava pensando.
Quando o garçom se afastou com os pedidos em mãos, ele me encarou e começou a falar.
- eu tenho uma proposta para te fazer. Nada que me agrade, mas no momento não tenho outras opções razoáveis.
- sou uma opção razoável. Muito lisonjeiro da sua parte tamanho elogio.
- eu não estou nem aí para elogios e não estou tentando te conquistar. Isso é uma negociação, nada mais.
- onde eu entro senhor "educação"?-perguntei ironicamente.
- eu não sei qual são seus problemas e nem tenho interesse em saber. Só tenho certeza de que envolvem dinheiro. Dinheiro não é problema pra mim.
- e você teria algum problema senhor "prepotência"?
- alguns. Poucos na verdade.
Um sorriso convencido estampou seus lábios. Senti vontade de levantar e morder aqueles lábios até sangrar. Idiota.
- meu pai está envelhecendo e vai fazer o testamento em vida. Ele sabe que se morrer sem fazê-lo, eu e meu irmão vamos nos matar. O problema acontece bem aí.
Ele deu uma pausa quando o garçom chegou com as bebidas. Ele pediu vinho e eu água. O mais barato, sempre. Ele saboreou um pouco da bebida antes de voltar a falar e obviamente, não me ofereceu.
- servido?- perguntei estendendo a taça com água. A ideia era ofender.
- não, muito obrigado.
Nem de leve ele se incomodou.
- voltando ao que importa, eu preciso de alguém ao meu lado, uma noiva na verdade, para que meu pai se convença que criei responsabilidade e me deixe como sócio majoritário da empresa. Preciso de alguém que finja ser minha noiva. A Clarisse vinha fazendo isso, mas se encantou pelo idiota do Mike e se esqueceu do meu acordo.
- o Mike não me parece um odiota. Ele ao meus olhos se faz um homem íntegro. Você não me parece metade do homem que ele é.
Ele deu uma gargalhada que me surpreendeu.
- ele é um mauricinho mimado. Combinou certinho com aquela patricinha. Isso não vem ao caso.
Meus dedos se fecharam com força em volta. da taça, já imaginando a proposta que viria.
- você não precisa se casar comigo. Também não vamos fazer um contrato bobo nem nada disso. Eu pago sua dívida, diretamente com o cara que você enrolou, para que você também não me enrole no valor e você mora no meu apartamento por alguns meses.
Tudo me ofendeu de tal forma que lágrimas de odio se acumularam nos meu olhos e antes que caíssem, me levantei, peguei minha bolsa e o encarei.
- você se acha tão correto senhor "prepotente", então procure alguém da sua laia. Eu nunca precisei de ninguém e não vai ser agora que as coisas vão mudar. Foda-se você e o seu dinheiro. Imbecíl!
Joguei algumas notas de dinheiro em cima da mesa para pagar a comida que nem tinha chegado e sai.
- espera!
Sua mão me puxou pelo braço, antes que eu me movesse.
- espera por favor. Você sabe muito bem que aquele cara so te deu um aviso. A próxima facada não vai ser no braço Megan. Será no coração.
A crueldade das palavras me atingiram, como era sua intenção. Me arrepiei de medo, um medo que ha tempos venho escondendo de mim mesma e repetindo todas as manhãs que eu sairia viva dessa. A verdade é que não era simples assim. E mesmo sem suportar aquele homem na minha frente, eu tinha que admitir, ele estava coberto de razão!

E aí? Que acham do nosso novo casal? Quero saber tudooooo por favor 🙏🏻🙏🏻🙏🏻🙏🏻

O doce sabor do desejo (degustação )Onde as histórias ganham vida. Descobre agora