Em outra vida - Juliana Alencar

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Em outra vida - Juliana Alencar

Foi uma hora discutindo sobre uma relação da qual não quero mais fazer parte. Suas palavras, mesmo em alto e bom som, parecem não mais falar minha língua. Eu poderia muito bem gritar igualmente, se ele não estivesse tão cego. Tenho um segredo pra contar, seus heróis também tem defeitos, todos eles escondidos atrás do sorriso no comercial de tv a cabo.

O ferimento em si nem dói tanto quanto ver sua intenção em me ferir. Palavras tão pequenas de quem parece não ter mais nada a perder, somente um fadário de coisas a dizer, sempre antes de pensar.Todos os seus gritos me deixam com a impressão de que estou sempre atrasada, ou pior, que já estive por aqui por tempo demais.

Fico rouca diante de perdões formais, que dirá quando a solidão se manifesta tão necessária. A partir de hoje, só o que for muito, muito leve, bonito e fácil. A grande maioria desiste. Eu, só estou abrindo mão. O meu coração partiu. Para outro lugar.  E não sei se ele queria que eu lutasse ou não, mas agora tanto faz. Muitas pessoas ficaram pra trás, outras tantas deixei passar. Não sei de que lado ele está.

Mas. Bem. A vida segue, não sei como, mas é confortável pensar assim. São as estradas da vida. Só se pode seguir uma delas, sem nunca saber como seriam as outras. Acontece assim também com alguns amores. Apenas seguindo em frente, por mim e por meus filhos, não posso ficar parada esperando que o pai deles decida, não posso permanecer ao lado de alguém que não quer nossa companhia, minha prioridade é meus filhos e eu sou capaz de tudo por eles, até deixar o homem que amo, não posso mais lutar, estou cansada. Vou sentir saudades, mas a dor chegou ao ponto insuportavel. Não sei o que dói mais. Quando acaba ou quando a gente precisa cair na real que acabou e já faz tempo.

Caminho para a saída da delegacia, mas agora todos os canais de televisão estão aqui esperando por qualquer noticia, sem se importar se será boa ou ruim, eles querem audiência, eles querem vender a noticia mesmo que uma família esteja se desfazendo, mesmo que alguém esteja sofrendo. Eu ignoro qualquer chamado, Philipe e alguns policiais me ajudam a chegar até meu carro. Assim que consigo entrar Chaz trava as portas e consegue sair rapidamente, olho preocupada para meus bebês e eles apenas dormem feito anjos que são, tão inocentes, não fazem ideia do quão doloroso este mundo é, de como a vida é complicada.

- Eles deram muito trabalho? - Pergunto ainda os olhando e quase nem acreditando que Chaz conseguiu fazê-los dormir.

- Eles dormiram depois da décima volta na quadra... – Ele dizia sorrindo de lado, isso queria dizer que eles devem ter chorado muito até dormirem, eu não sei se fico com pena do Chaz por ouvir gritos e choros ou dos meus pequenos inocentes que acordaram cedo e quase não puderam se alimentar.

- Sinto muito.

- Já disse que faço isso porque os amo, não é nada de mais. Agora me fale como foi lá dentro.

Um suspiro involuntário soou alto, eu nem sabia exatamente o que dizer porque não conseguia entender o que tinha acontecido com a minha vida. Tinha perdido a elegância. Tinha perdido a mundanidade. Tinha perdido a concha protetora. Tinha perdido o senso de humor diante dos problemas. Queria tudo de volta. Queria que as coisas corressem mansas pra mim. De algum jeito, eu sabia que isso não ia mais acontecer, pelo menos não tão logo. Eu estava fadada a me sentir culpada e desprotegida.

- Meu casamento acabou Chaz. – Falar isso em voz algo faz com que sinta uma dor tão grande que parece que ela me prendeu como um monstro de vários braços, me envolvendo em uma tristeza sem fim. Ele me olha como se o que eu tivesse acabado de dizer uma grande besteira, algo dramático.

- Sem essa...  – Ele diz ainda não levando a sério.

- Aquele Justin que eu vi hoje não é o mesmo com quem me casei.

Amor Por ContratoDär berättelser lever. Upptäck nu