Capítulo onze

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Quando me aproximei, o rosto de Stevie, apesar de contorcido de dor, se iluminou. Eu segurei seu rosto entre as mãos e o olhei nos olhos, sem saber o que dizer, apenas esperando que eu pudesse, de alguma forma, acalmá-lo com a minha presença. Mathias se posicionou do outro lado do meu amigo, cedendo seu ombro como apoio. Rose, apesar de cansada, não saiu do lado dele, nem quando eu insisti que podia carregá-lo com Mathias para dentro de casa.

— Vou pegar água gelada e alguns curativos − Gael anunciou, correndo de volta para casa.

Acomodamos Stevie no sofá, que pareceu muito grato por isso. Gael apareceu com um balde de água gelada e uma caixa de primeiros socorros. Eu fiquei um minuto em choque, sem saber se devia perguntar o que tinha acontecido ou se devia limpar todo aquele sangue. Gael e Rose, por sorte, começaram a trabalhar rapidamente. Eu prestei bastante atenção em seus movimentos, pois talvez um dia viesse a precisar deles.

Gael lavou as mãos com água gelada, secou-as e rapidamente as pressionou contra o ferimento na perna de Stevie. Mesmo com toda a pressão que ele fazia, suas mãos logo ficaram encharcadas de sangue. Eu segurava as mãos do meu melhor amigo e tentava acalmá-lo, quando um gemido saiu de seus lábios. Gael estava tão compenetrado, eu podia jurar que já tinha feito isso outras vezes.

— Mathias! Empilhe aquelas caixas que estão na parte de trás da casa, vamos precisar levantar a perna dele − ele instruiu e Mathias rapidamente o obedeceu. — Rose, vamos precisar de um torniquete.

— Certo − Rose foi até o lado de fora da casa e voltou com um graveto grosso de madeira. Ela tirou a própria blusa no mesmo instante em que Mathias voltava com três caixas pesadas de madeira, e rapidamente começou o torniquete. Stevie gemia de dor.

— Ele está gelado − eu disse, colocando a mão em seu rosto e me assustando com a sua temperatura.

— Vá até o meu quarto e pegue um cobertor − Gael instruiu sem se desviar da perna de Stevie. — Precisamos normalizar a temperatura corporal dele para que não entre em choque.

Eu corri até o quarto onde havia dormido na última noite, imaginando se tratar do quarto de Gael. Peguei o cobertor que estava em cima da cama e voltei para sala, envolvendo meu melhor amigo da melhor maneira possível. Ele agora estava deitado no sofá, a perna esquerda – cheia de sangue e com um torniquete improvisado – suspensa em cima dos caixotes.

— Que diabos aconteceu com vocês? − Gael perguntou, encarando Rose, que não parecia nem um pouco constrangida por estar de sutiã na frente de três homens.

— Nós não esperávamos que a cidade estivesse tomada por guardas da Capital − ela gesticulava freneticamente enquanto falava. — Eles estão por todos os lados.

— E o que eles querem? − Mathias perguntou, olhando para os seios fartos dela sem muita discrição.

— Ao que parece, querem homens jovens e saudáveis. Eles estão recrutando − ela fez uma pausa e continuou com um sorriso irônico. — Ou melhor: forçando homens entre dezoito e trinta e nove anos a saírem de suas casas e seguirem com eles para a Capital. Foi por isso que atiraram na gente. Quando eles nos viram, rapidamente forçaram o Stevie a ir com eles. Ele se negou e então os homens começaram a nos agredir. Eu atirei no guarda que estava segurando-o e então nós começamos a correr. Eles correram atrás da gente e dispararam alguns tiros. Um deles pegou na perna do Stevie. Por isso demoramos um pouco mais para chegar aqui...

— Alguém seguiu vocês? − Gael perguntou, demonstrando certa apreensão.

— Não. Conseguimos despistá-los na mata. A sua casa é no meio do nada. Sem ofensas − ela sorriu. Aquele sorrisinho que não mostra os dentes, típico dela, e eu suspirei aliviada. Gael também parecia satisfeito.

Ponte de cristal (degustação)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora