Uma explicação

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Eu tentei abrir meus olhos, mas a luz era forte demais.
- Ótimo! Agora abandonam adolescentes na porta também.
Estreitei meus olhos e tentei enxergar a pessoa na minha frente.
- Eu não consigo ver!
A luz diminuiu e eu pude ver uma mulher, ela tinha cabelos rosa, verde, preto e azul, a pele dela era bem branquinha, parecia porcelana.
- Brittany?
O rosto dela se contorceu todo. Eu me levantei deixando a mochila no chão, ela era mais baixa que eu.
- Prefiro Britta.
Eu sorri. Tinha encontrado ela, eu consegui!
- A minha ma-, digo, Adara me mandou aqui, o previsto aconteceu mais cedo.
A boca dela fez um o, depois de piscar algumas vezes ela olhou para um lado e para o outro, então destrancou a porta e me empurrou para dentro.

◇•°•◇

- Eu não acredito! Você é a filha da Dara! Nossa, não parece quase nada com ela. É igualzinha ao seu pai! Só que loira. Nossa! Eu estou vendo a criatura que saiu de dentro da Dara! Isso é estranho. Como está grande! Isso significa que eu estou velha. Espera. E a Dara? Ela conseguiu fugir? Pegaram vocês?
Ela caminhava de um lado para o outro, arregalou os olhos várias vezes e fazia muitos gestos. Ela parecia realmente emocionada.
- Eu não sei. De repente ela disse que íamos embora. Que éramos diferentes de todo mundo. Que era mais seguro aqui e que você iria me explicar tudo, que vai cuidar de mim.
Ela fez uma carinha de complacência e segurou minhas mãos. Parecia que ia chorar, mas aí ela fez uma careta.
- Mais que merda, Dara! Ela não te explicou nada? Da cidade, ou sobre vocês?
Balancei a cabeça negando.
- Ela disse que era perigoso.
- Merda! Isso vai ser difícil. Mmm... Acho melhor eu explicar isso depois. Vou te instalar por aqui primeiro. Ainda é cedo. Vamos aproveitar que não tem ninguém nas ruas.
Ela me arrastou loja afora, as ruas realmente estavam vazias, Britta praticamente corria. Dobramos em várias ruas, e com o tempo as lojas foram diminuindo até que estávamos em uma área somente de casas. Todas eram muito lindinhas, com gramado e jardim na frente, as flores eram as mesmas da floresta. Algumas casas eram maiores, outras mais bem cuidadas, Britta me puxou para uma casa azul.
Ela mostrou a sala, a cozinha, um lavabo, um escritório, uma porta para um lugar que ela explicava depois e então subimos, o corredor tinha quatro portas, uma era o quarto dela, outra era o velho quarto da irmã dela, que agora era meu. Tudo era carmesim, cheio de cortinas e todo delicado, o guarda roupa era enorme e tinha várias roupas nele.
- São suas agora. Espero que sirvam. Qualquer coisa é só me falar.
A cama tinha milhares de travesseiros de diversos tamanhos, formatos e estampas. Tinha uma poltrona perto da janela e só. O tamanho do quarto em si era pequeno, mas estava tudo tão bem distribuído que parecia enorme.

◇•°•◇

Depois de arrumar minhas poucas coisas no armário e de várias perguntas sobre minha mãe ela finalmente começou a explicar tudo.
- Tirya, há uns 20 anos sua mãe veio para essa cidade, ela se tornou minha melhor amiga, junto com Liang, éramos um trio incrível, fazíamos de tudo. Sua mãe, diferente de você sempre soube que ela era diferente, da existência desse lugar. Merda, isso é difícil! Bem, digamos que...Mmmm, vampiros! Você já deve ter visto o filme Dracula, ou Entrevista com um vampiro.
Encarei Britta, eram filmes antigos.
- Já.
Ela suspirou aliviada e jogou o arco íris de seus cabelos para trás.
- Bem, eles existem, mais ou menos como o Entrevista com vampiro, só que meio diferente, eles não podem andar no sol, precisam beber sangue e tal.
- Espera! Está dizendo que sugadores de jugular andam a solta por aí? - Ela confirmou. - Nossa! Eles são bonzinhos ou malvados?
Mas que pergunta! Vampiros andam por aí e eu pergunto se são bons ou maus. Espera! Vampiros? Que absurdo! Encarei Britta desconfiada.
- Bom, eles são como qualquer um, tem os bons e os maus. - Ela percebeu meu olhar e sua postura relaxou profundamente. - Tirya, é a verdade. Ninguém nesse lugar é humano. Eu não sou humana.
Arregalei meus olhos.
- Você é uma vampira?
Ela fez cara de desdém.
- Não! Eu sou uma bruxa, a embaixadora de tecnologias.
Minha cabeça parou de funcionar, as engrenagens não rodavam. Vampiro? Bruxa?
- Sei que deve querer uma prova. Bem, que tal isso?
Ela fechou os olhos rapidamente e os cabelos dela mudaram de cor, agora eram inteiramente laranja. Me afastei por impulso, mas então me aproximei e peguei nos fios, limpos e secos, nenhum resquício de tinta ou qualquer outra coisa.
- Como?
Ela deu um sorriso orgulhoso.
- Magia. Eu sou uma bruxa e posso usar magia, mas nem todas conseguem como eu. A maioria tem que recitar feitiços, mas eu venho de uma linhagem poderosa, por isso tenho mais poder que as outras.
- Você pode fazer qualquer coisa?
Ela riu alto. Talvez por eu parecer uma criança encantada.
- Não. Ninguém pode. Todo este lugar canaliza e - ela fez aspas - controla a magia usada. Feitiços de transformação, maldições, pragas,encantamentos, poções e etc etc são proibidos e em caso de desobediência ocorrerá um julgamento se não forem previamente autorizados.
Ela falava como se recitasse uma fala que tivesse decorado para atuar na peça mais chata de todos os tempos.
- Autorizadas?
- Podem usar magia para punição e defesa em caso de ataque não provocado. Essas são apenas leis do lugar. Você vai aprender tudo melhor na escola.
- Escola?
Ela deu um sorriso maroto.
- Em duas semanas você fará um teste para a Academia Unique. Você vai estudar lá, as aulas começam em 18 dias.

Cidade de Magia - Marcada por EspinhosWhere stories live. Discover now