Um dia antes da chave

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A noite tinha sido impossível, estava com uma mochila pronta para alguma coisa, tinha sido observada, Annie estava no hospital e não tive mais notícias dela, o novo carinha dela provavelmente era um psicopata que queria me matar e tentou matar ela, era de se esperar que eu não dormisse e quando minha mãe entrou no quarto batendo a porta na parede eu me levantei imediatamente com olhos muito vermelhos e provavelmente com olheiras, eu banhei rápido porque a água estava muito gelada. Comi ovos mexidos e pão, entrei no carro de uniforme e mochila não escolar e minha mãe começou a dirigir, quando passamos direto pela escola tive certeza de que não era loucura só minha.
- Mãe, pra onde vamos?
Ela me olhou rapidamente e continuou calada. Entendi seu recado e ela acelerou como se tivéssemos uma mulher em trabalho de parto no banco de trás.

◇•°•◇

Fiquei calada até atravessarmos os limites da cidade.
- Mãe, para onde nós vamos?
Ela soltou um longo suspiro.
- Tirya, sei que deve estar confusa e muito abalada, mas não posso explicar. Vai ter que confiar em mim. Eu sei o melhor para você apesar dos riscos que vamos correr preciso que faça exatamente o que vou te dizer.
- E o que é?
- Primeiro, assim que chegarmos na outra cidade vamos a um salão pintar seu cabelo.
- Como assim? Porque?
Ela me encarou e eu me silenciei. Ela adorava meu cabelo mais que eu, dizia que era igual ao da minha avó, tão loiro que parecia branco. Eu não gostava muito.
- Vamos trocar suas roupas e jogar essas fora. Depois, quando estivermos seguras vou falar o restante.
- Vai me explicar o que está acontecendo?
- Não tudo, não posso. Se falar te colocarei em risco, vou te dar instruções muito importantes que se você não seguir coisas ruins vão acontecer.
Talvez tenha sido o tom sério, ou alguma loucura em mim, mas eu fiquei calada e resolvi obedecer, apesar de querer gritar que eu precisava saber mais. Meus pensamentos se voltaram para Annie. Esperava que a cirurgia tivesse terminado bem, queria saber sobre ela, mas Dara tinha proibido ligações ou despedidas.
Quando chegamos na outra cidade ela desceu em uma loja de roupas e voltou com um moletom rosa e calças jeans, eu tive que me trocar no banco de trás,  depois ela se trocou, pôs um vestido, minha mãe odiava vestidos, assim como eu. Seguimos para um salão bem elegante, ela cortou os cabelos em um channel, fez um permanente e pintou o cabelo de ruivo, ela ficou linda, os olhos azuis em contraste com o vermelho, ela fez uma maquiagem e um sinal falso no queixo, já eu com meus calelos claros pedi para pintarem de preto, não cortei o meu cabelo apenas fiz uma franja, me senti incrível com a nova aparência. Depois fomos a uma ótica onde minha mãe comprou lentes de contato castanhas para mim.
- Mas já estou tão diferente.
- Seus olhos denunciam, use.
Lágrimas escorreram assim que coloquei as lentes, incomodavam um pouco mas me acostumei. Logo estávamos na estrada e foi assim o dia inteiro, paramos em um hotel na estrada, era pequeno e simples. Assim que entramos no quarto minha mãe trancou a porta se sentou em uma das camas e me indicou a da frente.
- Filha, nossa vida nunca foi nem poderá ser como a de qualquer outro, somos especiais, e você mais do que eu e eu era mais que sua avó.
- Especiais como?
Ela se remexeu na cama.
- Somos diferentes de todos com quem vivemos toda a nossa vida, nosso lugar é outro, mas não fomos bem vindas lá. Sua avó que nos trouxe para esse lugar, mas agora aqui também é perigoso então eu vou te mandar devolta.
- Mas se não somos bem vindas, porque vamos voltar?
- Não somos aceitas lá pelo que somos, porque mesmo nesse lugar somos diferentes. Mas você não será tratada como diferente, mesmo sendo, porque eles não saberão o que você realmente é.
Fiz uma careta e ela suspirou.
- Não entendo nada. Somos diferentes de tudo até mesmo dos nossos semelhantes? E não somos daqui. Então somos de onde? Porque e do que estamos fugindo?
Ela se aproximou e colocou meu cabelo atrás da orelha, acariciou minha cabeça e fez um olhar de ternura.
- O mais seguro é que você não saiba. Amanhã, quando chegarmos no lugar eu vou te falar uma coisa muito importante e vou te dizer o que deve fazer, vou te dar duas coisas e você deverá guardá-las com sua vida. Mas hoje, você deve dormir.
Assim que ela falou senti minhas pálpebras pesarem e o sono me tomar, então eu dormi.

Cidade de Magia - Marcada por Espinhosजहाँ कहानियाँ रहती हैं। अभी खोजें