CAPÍTULO 8: TREINAMENTO [PARTE II]

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Olhei para o Alexander através daquele vidro e percebi que ele acenava para que eu me concentrasse na voz dele, ignorei os ruídos e me concentrei nele. Parecia que quanto mais eu tentava mais os ruídos aumentam. Afastei o pensamento e me concentrei nele, até que escutei alguma coisa: "Concentre-se na minha voz".

— Escutei você. — disse empolgada, mas acabei perdendo o controle e tudo voltou a se tornar apenas ruídos.

O Alexander saiu de lá vindo até onde eu estava e me ajudou selando novamente, voltamos para o castelo e ele me levou até uma varanda e sentei-me em uma cadeira, alguns minutos depois uma empregada apareceu e nos serviu chá, café e algumas guloseimas. Eu não havia feito praticamente nada, mas me sentia muito exausta e com fome.

— Pra que tudo isso?

— O poder no seu corpo suga toda sua energia e por isso tem que aprender a controlar isso também.

— Consegui escutar sua voz em meio aos ruídos. Isso é um bom sinal, não é?

— Sim. Não achei que fosse conseguir muita coisa hoje.

— Nossa... Sua confiança em mim é surpreendente — respondi e ele sorriu

— Quis dizer que nunca vi isso acontecer antes. Não contava que tivesse êxito no primeiro treino.

— Certo! Não precisava ser tão sincero. — disse e peguei um Donut.

Ele permaneceu parado onde estava, com o olhar em mim.

A verdade era que eu precisava me sair bem nisso, queria que o Neythan pudesse confiar em mim como confiava nele, queria poder me controlar quando alguém tentasse me fazer mudar de ideia através de poderes, como muitas das vezes o Alexander havia feito.

— O que vamos fazer agora? Quero dizer... Qual o próximo passo?

— Continuaremos com o treinamento de audição até que consiga um pouco mais, até lá aconselho que descanse um pouco.

— Espera! Não vamos continuar com isso hoje? Isso nem foi um treinamento.

Ele deu um meio sorriso

— Você pode não ter notado, mas fez muita diferença para o seu corpo. Se não souber usar esse poder ele pode acabar consumindo toda a sua energia.

Eu realmente não tinha notado, mas ele tinha razão, eu precisa ter calma, não adiantava ir fazendo tudo de uma vez só. Voltei a olhar pra ele e percebi que ele estava me encarando, quando ele abriu a boca para dizer alguma coisa o celular tocou.

— Oi? — pausa — Que bom. Estarei ai em alguns minutos, continue onde está.

Ele desligou o celular e voltou a atenção pra mim

— Já vai sair?

— Aconteceu uma emergência e preciso sair. Estava esperando essa oportunidade há algum tempo então não posso deixar para uma próxima. Pode ficar e aproveitar o quanto quiser, minhas empregadas estarão a sua disposição. Volto logo.

— Uma emergência? Como assim? — perguntei tentando manter a calma, a verdade era que eu me importava um pouco com ele... E gostava da companhia dele. — Posso ir com você?

— Seria muito perigoso. Não tem que se preocupar, tomarei cuidado — disse ele com um sorriso e piscando

Eu acabei corando.

— Não tem que se preocupar com o caso de eu estar ou não em perigo. O motivo do treinamento é que quero saber me defender.

Ele me avaliou e respondeu:

— Prometo que na próxima eu te levo.

Suspirei

— Eu vou cobrar. — adverti

Ele chamou uma empregada pegando novamente o terno dele, eu decidi não ficar e pedi para que ele me deixasse em casa. Eu não sabia como ou por que, mas tinha a sensação que o assunto tinha relação com o que ele e o Neythan estavam falando outra vez.

As semanas foram passando e todos os dias o Alexander me ensinava uma parte do treino e como já ia me acostumando, as horas de treino iam se alongando, eu não tinha conseguido desenvolver tudo ainda, ele disse que eu só conseguiria isso no último treinamento, então eu não poderia faltar esse dia por nada ou todo o meu esforço nos treinos teriam sido em vão. Na primeira semana ficamos treinando a parte da audição, eu já conseguia ouvir uma frase inteira antes de perder o controle novamente, mas sabia que isso só acontecia porque ele liberava só uma parte do poder, se liberasse tudo eu não saberia se conseguiria. Na segunda semana ele começou a me ensinar percepção, que era a parte da visão, onde eu tinha que me concentrar em cada detalhe das coisas, como um pingo de chuva, uma folha de uma árvore caída esses tipos de coisas.

Na terceira semana que era essa, treinaríamos a parte da força que era o último estagio antes do treinamento final, eu estava animada para o treinamento, depois de algum tempo eu não seria mais a garotinha indefesa, poderia ser alguém suficientemente forte para me defender. Eu não queria continuar sendo alguém inútil.

Levantei rapidamente da cama e me arrumei, alguns minutos depois já estava no andar de baixo, tomando o café da manhã o mais rápido que podia, estava empolgada para começar logo. E o Alexander já devia estar chegando. Meus pais já tinham saído para ir para o trabalho.

— Vai acabar engasgando se continuar a comer desse jeito — disse o Alam me olhando surpreso — Tenho certeza que ele pode esperar.

— Eu não! Quero logo começar com isso. Você teve sorte que tudo aconteceu naturalmente com você.

O Alam já sabia sobre o meu treinamento com o Alexander, ele não tinha ficado contente com a ideia nem descontente, ele achava que eu estava me distanciando demais do Neythan e nem estava percebendo. Mas a questão era que ninguém da minha família, o Neythan ou o Alexander envelheciam, só eu. Então precisava ter controle sobre esse poder, assim não precisaria da ajuda de alguém e poderia me defender sozinha.

— Não vai à casa do Neythan hoje? Quando foi a última vez que tiveram um tempo só para vocês?

— Eu não tenho tempo de ir lá. Eu preciso terminar com o treinamento, o Alexander já deve estar me esperando.

O Alam me encarou espantado, como se não acreditasse no que estava vendo ou ouvindo.

— Quem é você e o que vez com a minha melhor amiga? Desde quando se preocupa mais com o Alexander do que com o Neythan? Desde quando o Alexander passou a ser prioridade na sua vida? Achei que não gostasse tanto assim dele.

— Não é essa a questão, Alam. O Alexander também é legal. Ele esteve e está me ajudando nestas últimas semanas, as pessoas podem mudar e ele mudou.

— E você também. Eu já nem reconheço mais aquela Mhylla de um tempo atrás.

— A ingênua? — disse irritada — Você não sabe o que é se sentir inútil todos os dias, todos os meus colegas do colégio já estão em uma faculdade ou arrumaram um emprego. Eu nem sei o que eu quero. Diferente de você, eu não nasci com nenhum talento.

Peguei meu celular e me levantei saindo, não queria discutir com o Alam e não tinha tempo para ir ver o Neythan e ponto.

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